Curitiba Pop Festival: O festival que de POP pouco tinha
Curitiba Pop Festival: O festival que de POP pouco tinha
![]() Breeders |
![]() Nação Zumbi |
![]() Stereo Total |
![]() Otto |
![]() Vurla |
![]() Rubin Steiner |
![]() Tara Code |
![]() Feichecleres |
![]() Bidê ou balde |
![]() Walverdes |
Evento peca na escalação ao não buscar bandas inovadoras dentro do pop-rock nacional
Depois de meses de expectativa e inúmeras especulações sobre quem iria tocar (The Strokes, Radiohead e White Stripes chegaram a ser cogitados), o Curitiba Pop Festival abriu as portas com o show da banda alternativa paulistana Vurla. Para quem esperava por grandes atrações, canções pop e um evento de impacto, não poderia ter sido mais desanimador.
Trazendo na manga um único ás, os norte-americanos do Breeders, o CPF teve que apostar na força (força?) das bandas independentes brasileiras para tentar movimentar a capital do Paraná durante os dias dois e três de maio.
Quase deu certo.
Na maior parte do primeiro dia, o palco do belo teatro da Ópera de Arame serviu de abrigo para bandas que de POP pouco têm. Talvez por isso o público não foi o suficiente para lotar os três mil lugares do local. Às 4h30 da tarde, com atraso de mais de duas horas, grupos formados por garotos e garotas brasileiros que cantam em inglês começaram a se revezar no palco.
Depois do Vurla, que soube colocar bem em prática sua amizade com o pessoal do Tortoise e ainda fez uma bizarra cover de Metallica, o Bad Folks apresentou um show competente, com os pés, mãos e boca fincados no interior dos Estados Unidos. Um som bem feito, mas que seria mais apreciado em qualquer rancho do Estado do presidente Bush. Valv chegou em seguida com um som derivativo do rock inglês (e dá-lhe Placebo!) e até empolgou alguns. Já o Suite #5 apenas preencheu tempo enquanto o público entrava. Os curitibanos do ESS mostraram que ainda é possível sugar sangue da cena inglesa do final dos anos 80. O show foi bacana e serviu para manter viva a chama de que, para alguns, ainda pode existir sentido em fazer rock cantado em inglês no Brasil.
Contrariando o pessoal acima, cantando em português e buscando influências em sons brasileiros e franceses, os paulistanos do Monokini tocaram as gostosas canções de seu primeiro álbum, Mondo Topless. Os baianos do Tara Code tinham tudo para continuar agradando. Mas seu som, vendido como uma mistura de acid jazz, rock e MPB, não funcionou ao vivo. Para piorar, ainda tiveram que enfrentar problemas no som.
A responsabilidade caiu nas mãos de Otto, primeiro a realmente empolgar o público presente, que cantou e dançou ao som de suas músicas que misturam a eletrônica com ritmos brasileiros de raiz.
Um show excelente do pernambucano com a ajuda de seus amigos da competente Jam Bro Band.
A grande surpresa da noite foi o Rubin Steiner. Praticamente desconhecido no Brasil, o quarteto francês fez a moçada dançar bastante ao som de música eletrônica que mistura elementos de Big Band, como trombone e baixo acústico. Com um álbum recém-lançado por aqui e canções que pareciam ser a repetição de um mesmo tema (bom, por sinal), o Rubin Steiner conseguiu ser o ponto alto da noite. Por alguns minutos, o Curitiba Pop Festival pareceu pronto para decolar. Daí subiu ao palco o Stereo Total. Depois de apenas quatro canções, a platéia começou a deixar a Ópera de Arame. Mesmo sendo dono do som mais pop entre as bandas, o duo franco-germânico não conseguiu empolgar. A ordem das bandas mostrou-se equivocada ao colocá-los depois do som contagiante dos franceses. Uma pena, já que o som do Stereo tem o seu charme. Em um pequeno clube, o efeito poderia ser outro. Em um festival de médio porte, não deu certo.
E no segundo dia, Deus criou o CPF
Enquanto a tarde caía e o frio aumentava (a temperatura chegou a atingir os 8 graus C), o público começava a lotar a Ópera e ajudar a criar um clima de festival que não acontecera no dia anterior. O relativo sucesso que o pop-rock do Breeders e o mangue beat da Nação Zumbi conquistaram durante parte dos anos 90, pode até ter ajudado. Mas a competência e o profissionalismo de grupos como Bidê ou Balde, Feichecleres, Cachorro Grande e Walverders, também contribuíram bastante.
Pra começar o dia (mais uma vez atrasado), os curitibanos da banda Criaturas mostraram um bom rock repleto de influências dos anos 60. No lugar da desistente Grenade, os gaúchos da Bidê ou Balde atacaram com a força das letras e melodias de seus dois álbuns, Se sexo é o que importa, só o rock é sobre amor! e Outubro ou nada!, em pouco menos de uma hora de show. Pena ter acontecido tão cedo. Tivessem tocado mais no final da noite, mais pessoas teriam a oportunidade de ver a banda em um bom momento - num palco grande, com excelente equipamento e alto e bom som.
Vestindo fraldas gigantes, fazendo cover de Beatles e jogando parte da bateria no chão, foi assim a forma que a banda local Feichecleres encontrou para chamar a atenção do público. E deu certo. Rock de peso e com atitude. Mais peso ainda tinha o som dos gaúchos do Walverdes. Contando com poucos elementos do pop em seu som, o power trio tem a experiência e a competência de dez anos de estrada e um rock pulsante tocado bem alto.
Para quem já abriu para o Misfits, dividir palco com o Breeders deve ter sido um pouco estranho. Mas isso não impediu os rockabillys do Catalépticos de soltar toda a sua energia em riffs de guitarra alucinados e fazer o público vibrar.
Logo depois, o MQN optou por encarar a apatia do público. O som quase stoner-rock dos goianos não empolgou e o líder Fabrício Nobre resolveu provocar a galera, que reagiu tacando latinhas de cerveja em direção ao palco. Deveriam ter tocado mais cedo. Assim como o Primal, a banda de metal que entrou coberta de barro e serviu de anticlímax para as bandas que vieram depois como Cachorro Grande, Nação Zumbi e, finalmente, Breeders. A primeira fez um bom show tocando seu rock com letras em português e sonoridade buscada da Inglaterra dos anos 60. Como é de praxe, os cachorros terminaram a apresentação quebrando tudo e provocando confusão. Seguranças tiveram que evitar com que a banda continuasse destruindo os equipamentos.
Nação e Breeders: pra terminar tudo bem
Por mais antagônicas que as duas bandas escolhidas para encerrar o CPF sejam, a mistura pegou bem. Nação Zumbi, com o poder de seu batuque e o balanço gostoso e contagiante do mangue beat, e Breeders, com seus riffs de guitarra criativos e anos de bagagem no circuito alternativo mundial, fizeram, juntas, o festival valer a pena.
Direto de Recife, a Nação trouxe o som que contagiou boa parte dos brasileiros durante os anos 90 e que parece ter preservado bem o seu valor. Mesmo lutando contra problemas técnicos, os recifenses mandaram muito bem numa apresentação que culminou nos sucessos "Manguetown" e "Da Lama ao Caos". Durante os refrões, a banda conseguiu feito inédito no CPF: fazer todo mundo do festival pular e a estrutura tremer.
Por isso, a tarefa das meninas do Breeders não foi fácil. As irmãs Deal acabaram tocando para um público menor do que o da Nação, mas tão empolgado quanto. Para ajudar, não faltaram sucessos da banda como "Cannonball", "Divine Hammer" e "Safari", uma cover dos Beatles, "Hapiness is a Warm Gun", e "Tipp City" e "Pacer", canções do projeto paralelo da líder Kim Deal, o Amps. Para a alegria dos fãs de sua famosa ex-banda, os Pixies, Deal mandou ver a ótima "Gigantic".
Enfim...
O CPF começou com o pé esquerdo, mas conseguiu se salvar no segundo dia. Tivesse a organização se esforçado um pouco mais (e liberado mais grana para financiar atrações melhores), o CPF poderia entrar para a história. Bandas pequenas que freqüentam o mirrado circuito alternativo do Brasil, merecem o seu espaço em um festival como esse. Uma coisa é chamar dois ou três grupos para abrir os dias do festival, outra é dar mais do que metade das vagas para bandas assim.
Outra grande mancada do evento: tirando as atrações internacionais, apenas Nação Zumbi e Otto, ambos artistas da gravadora Trama, receberam cachê. Talvez por isso que bons nomes do novo pop nacional como Cidadão Instigado, Instituto, Wado, Stela Campos, Leela, Autoramas, Tom Bloch e Los Hermanos, não foram nem chamados para tocar em Curitiba. A Ópera de Arame mostrou funcionar bem como local para abrigar um festival de médio porte. Mas se o evento tem a intenção de virar anual e fazer parte do pequeno circuito de festivais brasileiros muita coisa precisa mudar.









