Tron: Ares | Nine Inch Nails mistura passado para criar nova trilha sonora
Legado do Daft Punk e de Wendy Carlos faz bem, mas não é o único bom elemento do álbum
Poucos filmes usam tanto a marca de uma trilha sonora em prol do seu marketing como Tron: Ares tem feito. Diferente de um Pantera Negra, digamos, onde a trilha sonora foi parte da obra – tanto a de Ludwig Göransson como a produzida por Kendrick Lamar — o filme estrelado por Jared Leto e Greta Lee estampa a marca do Nine Inch Nails como um de seus grandes astros. O selo “Music By NIN” acompanha praticamente todas as peças publicitárias com tanto destaque quanto seus protagonistas (e sem dúvidas mais holofote do que o diretor).
Não é de se espantar. A trilha sonora de Tron: O Legado, segundo da franquia, se tornou um marco nas mãos do Daft Punk. O trabalho da dupla francesa transcendeu a barreira dos grids comandados por Jeff Bridges e virou o maior motivo de lembrança e orgulho do capítulo do meio da trilogia, lançado em 2010 com direção de Joseph Kosinski. Sim, anos antes de Top Gun: Maverick e F1, ele já se aventurou com os lightcycles e outros veículos comandados por Garrett Hedlund e Olivia Wilde. É impossível não pensar na história sem lembrar de “Derezzed” e a luta no QG de Zuse, personagem de Michael Sheen, ou o tema principal criado pelo duo que remetia diretamente a esse mundo virtual novo, à ideia de descoberta de um futuro que se aproximava cada vez mais.
Dessa forma, ao chegar na trilha de Tron: Ares, o Nine Inch Nails se mostra muito esperto ao abraçar não apenas elementos da trilha do Daft Punk, como as batidas eletrônicas, mas também o ar clássico e a melancolia da trilha do filme original de 1982, composta pela pioneira da música eletrônica Wendy Carlos. A escolha da banda americana, fundada por Trent Reznor, se mostra muito apropriada com a temática do filme, inclusive. Se existia um senso de maravilhamento e perigo com aquele mundo digital nos dois primeiros filmes, Tron: Ares, pelo menos no material já divulgado, parte de uma ideia de que o artificial encontra o real e será explorado para o bem e para o mal, incluindo para fins bélicos. O lado industrial do rock do NIN cai então com uma luva - ainda que não saibamos em que contexto do filme - para esse lado de fábrica, de exército e de invasão do real pelo artificial.
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O primeiro terço do disco, que ao total tem cerca de 65 minutos e 24 faixas, é uma grande amostra dessa mistura do NIN com Daft Punk e Wendy Carlos. O single divulgado no primeiro trailer “As Alive as You Need Me To Be” traz a letra “me dê algo para acreditar”, que remete direto ao propósito de Ares (Jared Leto) na história e sua busca por entender o nosso mundo. Ela é seguida por “Echoes”, que já pisa completamente no freio do pop-videoclipe do single, para entregar um momento mais sereno, assim como “Still Remains”. “I Know You Can Feel It” tem uma batida estranhamente suingada, enquanto “100% Expendable” retorna para uma pegada de sintetizadores mais clássicos. Em um dos melhores momentos do álbum, com “Daemonize”, o NIN nos joga direto nos anos 80, com uma vaga lembrança de “Blue Monday”, do New Order.
A segunda metade da trilha carrega muito NIN do que das inspirações vindas do passado. É como se a história de Tron: Ares enfim se fixasse nessa nova trama, abraçando o mecânico e um lado menos esperançoso, com mais distorções e um aspecto sujo em faixas como “A Question of Trust” e “New Directive”. “Ghost in the Machine” tem um quê de Blade Runner, enquanto “No Going Back” brinca com sons simples, como dos games de 8 bits, para criar uma introdução para a reta final, que fecha o álbum com a trilha que deve embalar os créditos do filme, a boa “Shadow Over Me”.
Se a trilha sonora de Tron: Ares vai se tornar clássica como a do Daft Punk ou a de Wendy Carlos, só saberemos depois da estreia do filme em outubro. Tron sempre foi uma obra visual e foi no mix com as imagens e luzes que as trilhas transcenderam. O Nine Inch Nails fez - e muito bem - a parte dele. Agora está nas mãos de Jared Leto e de Joachim Rønning, que se você não viu no marketing, é o diretor do filme.
Tron: Ares
Nine Inch Nails
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