The Cranberries - In the End

Créditos da imagem: Divulgação/The Cranberries

Música

Crítica

The Cranberries - In the End

Álbum reforça legado da banda e encerra o ciclo de uma das vozes mais marcantes das últimas décadas

26.04.2019, às 13H00.

O Cranberries marcou uma geração na época em que a venda de discos e a MTV eram os principais termômetros do que mais tocava no mundo. As letras, o som simples e melodioso, e - principalmente - a voz de Dolores O’Riordan formavam um conjunto de elementos que despertava paixões em todos os pontos do planeta.

Agora, depois da trágica morte de O’Riordan e a complexa decisão do restante da banda (Mike Hogan, Noel Hogan e Fergal Lawler) de seguir com o lançamento de um disco póstumo, In the End chega às plataformas de streaming como uma forma de sedimentar a obra do grupo e garantir uma despedida à altura do que o Cranberries realizou durante seus anos na estrada.

Com 11 faixas que contam com os vocais gravados em versões demo por O’Riordan e finalizadas posteriormente pela banda, In the End apresenta um detalhe que dá ainda mais força ao seu lançamento: A chance de ouvir a crueza de uma das vozes mais conhecidas do pop/rock global em consonância com os arranjos que valorizam, justamente, a história do Cranberries.

Essa “sonoridade crua” permeia todo o disco e potencializa os pontos mais marcantes apresentados pela banda como parte dos seus 24 anos de história. Isso reforça ainda mais a opção por não colocar como parte do projeto nada que seja capaz de fugir dos elementos que os fizeram conhecidos, detalhe que funciona como um ponto-chave na conexão entre música e público.

Não é difícil, para qualquer ouvinte que tenha algum tipo de ligação emocional, se comover com faixas como a abertura “All Over Now”, seguindo para “Lost”, “Wake Me When It’s Over”, ou “Got It”, que trazem alguns dos ingredientes mais importantes dentro de tudo que o grupo criou, principalmente em sua fase mais famosa - entre 93 e 95, quando lançaram os já clássicos: Everybody Else Is Doing It, So Why Can't We? (1992) e No Need to Argue (1994).

Com isso em destaque, vale mencionar que o produtor do disco foi Stephen Street, responsável pela produção dos dois primeiros álbuns, e que deixa sua assinatura em In The End por meio da escolha de timbres, sonoridades e arranjos muito próximos do que já havia sido mostrado na década de 90. Diante da circunstância em que o álbum foi lançado, uma aposta válida e que deve funcionar genuinamente para os fãs.

Todo esse cuidado para não deixar o álbum se perder faz com que essa seja uma produção despretensiosamente emocional, simples e focada em manter a experiência musical do grupo viva, detalhe que fica ainda mais claro com o comentário do guitarrista, Noel Hogan, à Rolling Stone: “Nós sabíamos que esse precisaria ser um dos melhores álbuns que o Cranberries já fez. A preocupação era que nós poderíamos destruir o legado do grupo ao criar um disco que não estivesse à altura do que já fizemos anteriormente”.

Assim, por meio desses elementos que ligam o presente ao passado, o disco finaliza a trajetória do grupo como o símbolo do infinito, no qual, quando olhamos para frente, enxergamos o passado e vice-versa. Um conceito que, principalmente, por causa do momento e das circunstâncias, pode garantir o posto de obra definitiva do The Cranberries, sem que isso pareça algo forçado.

Voltando aos destaques musicais, é interessante perceber como “Catch Me If You Can” destaca alguns dos pontos mais marcantes da voz de O’Riordan e também é capaz de entregar uma atmosfera que não se repete em todo o projeto, não é inovadora, mas é única. Já o encerramento com “In the End” acontece na medida, fechando o ciclo como um momento que reverbera calma e lágrimas.

Por fim, como escrito por Charis McGowan, em crítica para a Clash: “Não procure por pistas ou leia qualquer sinal além do que este álbum é”.

Nele não existe nenhum pedido de socorro ou algo parecido. E este também não é um disco pensado para ressignificar os caminhos que o grupo e a voz de O’Riordan já passaram, mas sim um tributo que encerra um ciclo e - de alguma forma - estimula a reflexão sobre finais precoces e a permanência da arte das pessoas em um mercado tão volátil como o da música.

Com isso escrito, dê o play preparado, pois essa é a última viagem que ainda não conhecemos narrada por O’Riordan e seus companheiros do The Cranberries.

Nota do Crítico
Bom

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.