Não dá pra negar que, desde o primeiro momento quando o grupo com parte do Rage Against the Machine foi anunciado, as expectativas de - praticamente - qualquer pessoa que conhece o som dos norte-americanos foi às alturas. Quando o anúncio do supergrupo foi confirmado, com a união de três quartos do RATM mais Chuck D e DJ Lord do Public Enemy e B-Real do Cypress Hill, não havia motivo para esconder a empolgação.
No entanto, a primeira audição da estreia homônima do grupo funciona como uma ferramenta que emula toda a sonoridade de duas décadas atrás, com os riffs de Tom Morello, o rap de seus representantes em algumas faixas e o peso de boas apostas como “Unfuck the World”, que acabam por não ser a tônica do disco. Uma ducha de água fria se levarmos o histórico de cada um dos integrantes em consideração ou compararmos com o que cada um destes profissionais já entregou anteriormente.
Com letras que chamam para a ação, o grupo se reuniu mediante a possibilidade (agora concretizada) de Donald Trump se tornar presidente dos Estados Unidos e entrega um álbum que resgata algumas das sonoridades mais interessantes que esses músicos já conseguiram fazer, mas não chega a entregar algo realmente novo. Sim, qualquer pessoa que vivenciou o lançamento de um dos discos do RATM - sem dúvida - será impactada pelo som das 12 faixas que transcorrem por 39 minutos. Basta ouvir “Living in the 110” para lembrar grande parte do que a antiga banda de Tom Morello, Brad Wilk e Tim Commerford já fez, mas dessa vez, sem a raiva que Zack De La Rocha despejava com seus vocais.
É indiscutível que a falta da antiga fúria faz com que o projeto fique sem o tempero capaz de garantir um sabor que o público conhece e que está em falta hoje. Mas querendo ou não, alguns grandes elementos resistem no instrumental, como em “Hail To The Chief”, com a cozinha trabalhando de forma pesada e sincopada para entregar momentos que devem fazer o público pular nos shows. Porém, falta a pressão de um vocal capaz de condensar o discurso que Morello fez na ocasião da divulgação da banda, “somos a trilha sonora da resistência”.
Como lembrado no review da Pitchfork, se a ideia é encontrar um som de peso, com a qualidade da raiva política que tantos buscam ao escrever e cantar atualmente, o Run The Jewels é o grupo mais relevante da atualidade. Tanto que de la Rocha lançou “Digging For Windows”, depois de anos sem nada novo, com a produção de el-p, um dos integrantes da dupla de rappers. Tem peso, tem raiva, tem tudo que se espera de alguém que realmente quer ser importante em um contra-ataque ao cenário bizarro que se apresenta diariamente pelo mundo.
Por fim, voltando ao Prophets, “Who Owns Who” mostra um pouco do que o disco todo poderia ter - pressão sonora -, com versos curtos, que valorizam a forma de cantar dos novos vocalistas e assim se encaixam de forma bem mais interessante à realidade da banda. Em todo caso, apesar de apontar ideias pesadas em uma entrega morna, para tocar no horário de almoço das rádios FM, o grupo merece reconhecimento por tentar falar sobre um momento complexo na política norte-americana da forma mais direta possível. Mesmo que pareça algo criado para tocar nas reuniões dos revolucionários. Ouça o disco na íntegra.