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Crítica

Mano Brown - Boogie Naipe | Crítica

Em seu disco solo de estreia, o rapper conta com a participação de pepitas nacionais para cantar o black love ao ritmo do original funk, do R&B e do soul

21.12.2016, às 15H07.
Atualizada em 31.03.2017, ÀS 17H58

Boogie Naipe, disponível para streaming desde o início de dezembro, conta com 22 faixas e pode até soar longo, mas é perfeito para tocar e curtir um bom baile black e recordar os anos 1970, cheio de referências e rimas atuais. Com produção de Lino Krizz e Mano Brown e participação de vários artistas da música negra brasileira, como Cassiano (de quem o rapper é fã confesso), Ellen Oléria, Hyldon, Carlos Dafé, William Magalhães (Banda Black Rio), Wilson Simoninha, DJ Vitória Rios, Seu Jorge, Don Pixote, DJ CIA e Leon Ware - músico americano da gravadora Motown e associado à Minnie Ripperton e Quincy Jones -, somam a um antigo desejo de abrir o coração no melhor estilo Marvin Gaye embalado pelo groove do início ao fim.

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Esse é o primeiro disco solo de Mano Brown depois de mais de vinte anos de um círculo íntimo na cena do rap formado por Brown, KL Jay, Ice Blue e Edi Rock, o grupo Racionais MC's. Nascido nas periferias da capital de São Paulo, o rap deles se expandiu para todo o país até se transformar no fenômeno mainstream que é hoje e tornar-se referência para milhares de novos artistas.

Porém, a guinada de Brown para o funk é uma outra história, com produção executiva da gravadora que atende pelo mesmo nome do disco, o projeto, apesar de conter algumas rimas cruas do rapper, não é sobre rap nem sobre multidões, vielas ou cortiços. Boogie Naipe tem a ver com desejo e nostalgia. E pode se dizer que é um disco sobre amor, no qual Brown escancara o coração e a voz grave para falar sobre paixões, desilusões, mulheres, parceria e perdão. Também revela todo o lado gangster lover do cantor em várias letras, como na quarta faixa "Boa Noite São Paulo" em que narra a noite paulistana à procura de alguém que não virá ao seu encontro e o deixa "ferido no coração e sozinho na multidão".

Outros destaques do disco são as faixas “Mulher Elétrica” com letra de Du Bronks e participação de William Magalhães, que apesar de trazer o Hip Hop ao disco faz referência aos bailes de discoteca: “D-I-S-C-O, ela é as 10 mais da Billboard / Ela é Capão Redondo, ela é Xerém, ela é Black Love, ela é Soul Train”, e revela o empoderamento feminino num universo de reforço de estereótipos e discursos machistas que ainda é o rap: “Ela é Bantu, Nagô, é Yorubá / ela é vingativa, ela é de matar”. A música já havia sido produzida anteriormente, mas não estava em nenhum álbum.

Ainda nesse flow “Felizes / Heart 2 Heart” marca um dos vários slow jams do álbum, como “Nova Jerusalém”, onde o lado romântico e ativista é aflorado ao mesmo tempo e, na mesma levada “Flor do Gueto” e “La Onda” marcam um ritmo mais melancólico e poético. “Amor Distante” é um dos singles que traz um groove apaixonado e delicioso e conta com um Blue Mix (versão blues da faixa) para derreter até os corações mais gélidos.

Pra animar a pista, as dançantes ficam por conta de “Você e Eu... só!”, “Nave Mãe”, “Gangsta Boogie”, “Louis Lane”, “Foi num Baile Black”, “Adicto”, “Dance Dance Dance” e “Mal de Amor”, na qual Brown canta o seu status atual: “Violento é o amor / Hoje eu peço paz”. O puro som de preto pra dançar e se envolver. A única pergunta que fica pra quem não entendeu a proposta do disco é essa: “Ain't that funkin' kinda hard on you?” Por aqui bateu forte e vai continuar ecoando por muito tempo. O recado que fica também traz referência à música do Funkadelic lançada este ano com participação de George Clinton e define bem a postura de Brown: “He was hard when he started, he going to be hard when he get through”.

Ouça na íntegra

Nota do Crítico
Ótimo

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