Jennie em imagem promocional do Ruby (Reprodução)

Créditos da imagem: Jennie em imagem promocional do Ruby (Reprodução)

Música

Crítica

Em Ruby, Jennie usa R&B de escudo para musicalidade vazia - com poucas exceções

Disco solo da integrante do BLACKPINK é produto cru e longo demais para o próprio bem

Omelete
4 min de leitura
07.03.2025, às 15H38.

O início de Ruby é promissor. Após uma introdução alongada de mais de 1:30, comandada pelo produtor FKJ, composta de batidas e vocais recortados - que serve para fincar a bandeira desse primeiro álbum solo de Jennie firmemente no território do neosoul e do R&B -, o disco nos joga diretamente na propulsiva “Like JENNIE”. Lançada como single junto com a estreia do disco, a canção produzida por Diplo não só tem o melhor refrão do Ruby, como também prova que a integrante do BLACKPINK pode se aclimar facilmente a uma produção mais cosmopolita do que se acostumou a esperar do grupo. Se Diplo pode te atirar de paraquedas no meio de suas batidas inspiradas pelo funk carioca e seus corais frenéticos, e você ainda sai de lá com uma boa faixa de hip hop… bom, no mínimo, há algo aí para se explorar, certo?

E o pique, olha só, nem cai tão rápido assim: “start a war”, a faixa seguinte, troca o rap por um synthpop ricamente texturizado (cortesia, óbvio, de um time de produtores nórdicos formado por Jonas Jeberg, Ramus Søegren e Jelli Dorman) e mostra que Jennie também tem o tom áspero pelo qual uma boa power ballad com sintetizadores opressivos clama. É uma pena, portanto, que o restante do disco tão raramente recupere a energia e o impulso criativo dessas primeiras canções - já começando com “Handlebars”, parceria asinina entre a cantora sul-coreana e Dua Lipa, muito do Ruby se esconde por trás da prerrogativa de se calcar no R&B sensual de uma SZA ou de uma Jhené Aiko para oferecer uma musicalidade que, na verdade, é simplesmente pobre.

Isso porque, na visão visão do time de produção reunido por Jennie - um grupo patentemente talentoso que inclui Dem Jointz e Mike Will Made It, figurinhas carimbadas do cenário estadunidense, mas que parece pouco inspirado por este projeto em específico -, fazer R&B frequentemente equaliza um esvaziamento da paisagem instrumental e melódica de canções como “Zen” (que tem os versos mais desconjuntados do disco, com pausas inexplicáveis de respiro para a cantora), “F.T.S.” (uma balada incoerente no pior estilo “The Happiest Girl”, do BLACKPINK) e “Filter”. Menos é mais parece ter sido a filosofia que guiou os bastidores de Ruby - mas o minimalismo musical funciona melhor quando você tem uma melodia ou uma liricidade inatacáveis na qual se apoiar, e este não é o caso aqui.

Pior ofensa nesse sentido é, sem dúvida, “Damn Right”. A 10ª faixa do disco reúne Jennie com Childish Gambino e Kali Uchis (todos guiados pela mão de Mike Will Made It na produção!), alquimia que parece infalível no papel - a realidade, no entanto, é uma canção que se arrasta por 3:50, a maior duração do disco, levada por uma batida monótona e um filtro de voz ainda mais sonolento. Os versos dos convidados, que em teoria estão aqui para adicionar tempero à receita de R&B da artista principal, quase passam despercebidos diante da massa sonora rígida que a produção vai criando, com a desculpa de imprimir um climinha lânguido que combine com a história de ostentação romântica da letra. Ao invés de ser sexy, “Damn Right” acaba virando música de fundo.

E não é que o Ruby nunca mais se eleve para além desse estigma após as primeiras canções. “with the IE (way up)” encontra um balanço delicioso, e uma energia referencial inegável, ao interpolar o clássico “Jenny From the Block”, de Jennifer Lopez; “extraL” (com a ajuda providencial do flow impecável de Doechii) e “Mantra” certamente mostram porque foram selecionadas como singles, vendendo uma imagem dinâmica do disco que não condiz com a realidade da maior parte dele; e a emocionante “Twin”, uma favorita dos fãs após a performance sensível da cantora durante show de apresentação do disco, fecha o Ruby com uma bem-vinda injeção de doçura acústica, no melhor estilo de cantoras-compositoras indie como Lenka e Meiko.

Talvez essa última faixa dê uma boa ideia do caminho adiante para Jennie, como artista. Ou talvez apostar mais pesado no hip hop seja uma boa ideia, especialmente com os produtores que a deram as melhores canções do Ruby. O que este primeiro disco demonstra, claramente, é que o coração da artista não está no R&B - e de que serve o álbum solo de uma integrante de grupo já consolidada no super estrelato, seja para fãs ou ouvintes casuais, se não há coração nele?

Nota do Crítico
Regular
Ruby
Jennie
Ruby
Jennie

Ano: 2025

Produção: Ido Zmishlany, Mike Will Made It, Sam Homaee, Rob Bisel, Dem Jointz, Pluss, 30 Roc, Serban Cazan, Diplo, Jelli Dorman, El Guincho, FKJ, Gage, Jonas Jeberg, Jennie, Jumpa, Leclair, Meltz, MoneyGoForMyles, Resource, Ramus Søegren, Truebeatzz, Xeryus

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