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Música
Artigo

Coldplay em São Paulo

Banda inglesa lotou os três shows que fez no Brasil

EV
01.03.2007, às 00H00.
Atualizada em 14.11.2016, ÀS 14H01

O que as pessoas parecem esquecer, ao colocar tão no alto essa última leva de bandas, é que elas estão todas ainda procurando seu caminho - não só dentro do rock, mas na sua própria estética.

É o caso claro do Coldplay, que encerrou nesta quarta-feira (28/02), uma temporada esgotadíssima de três dias no Via Funchal, em São Paulo. Apesar da sua clara preferência por uma canção melódica, carregada no piano e no falsete de Chris Martin - que, gostem ou não, influenciou uma segunda geração de nomes - os ingleses estão perdidos nas possibilidades que criaram. Como o próprio vocalista definiu, são uma banda grande mas não ainda uma grande banda. Note a diferença.

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Na sua primeira viagem até o Brasil (em 2003, também no Via Funchal), o Coldplay vinha carregado de bons presságios, graças a uma dupla estréia com bons discos: Parachutes, de 2000, e A rush of blood to the head, de 2002. Agora, os rapazes chegaram com a moral azedada, encerrando na América Latina a turnê de quase dois anos de X&Y, o sem graça terceiro álbum.

O histórico de qualidade da discografia do Coldplay se refletiu bem no começo deste terceiro show brasileiro. "Square one", do último álbum, inaugurou a banda no palco de forma morna, abrindo espaço para os hits "Politik" (e os estrobos contra a platéia contrastando com o verso "open up your eyes") e "Yellow", respectivamente dos discos de número 2 e 1. É como um termômetro que vai do negativo para o fervente, em três etapas.

A diferença não é por acaso. As melhores músicas estão isoladas nos dois filhos primogênitos dos londrinos. As importadas de X&Y (com as honrosas exceções de "Speed of sound" e "Talk") acabam aprisionadas na sua vontade megalômana, embolando o jogo melódico do grupo. Vide o momento messiânico de "Fix you", última música do bis, com o vocalista teatralizando com um globo de luz nas mãos - o ápice construído só serviu para deixar uma imagem ruim no fechar das cortinas.

Mas, à parte o caminho perdido, o Coldplay prova a cada dia, a cada show que é das bandas mais poderosas de sua geração. Afiados nos seus quase dez anos de estrada, o guitarrista Jonny Buckland, o baixista Guy Berryman e o baterista Will Champion ainda fazem seus instrumentos conversarem entre si como se estivessem em casa. E, claro, deixam todo o jogo de luzes para Chris Martin.

Com toda a sua sensualidade nerd e suas dancinhas bizarras ao piano, como um Linus que trocou o cobertor pela cafeína, Martin assume seu papel de (ele que me desculpe) Bono ressuscitado. Carrega a platéia facilmente - mesmo com seu gênio excêntrico, tipicamente inglês, que o faz pedir silêncio entre as vaias que ganhou ao fazer uma piada sobre futebol.

Mas um show do Coldplay é feito de humores. O bom humor da banda tem que combinar com o da platéia, da casa, dos seguranças, da conjunção astral. Nesta terceira noite, a soma foi perfeita.

As músicas novas não apareceram, é verdade ("Temos medo da Internet", eles disseram mais cedo.). Mas a pequena platéia que estava ali (e que pagou caro para ficar em pé entre as cadeiras) não ligou muito. Sobrou tempo até para a banda se transformar em mariachis (três violões e uma gaita, emendando "Til kingdom come" e a cover "Love me tender") e Martin cantarolar um dispensável scat de "Garota de Ipanema".

É esperar que esse humor afinado continue nos trabalhos de estúdio, ao lado de Brian Eno, para um quarto disco que faça jus à reputação da banda. Ou só vai sobrar nostalgia.

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