Children of Bodom em Belo Horizonte
Children of Bodom em Belo Horizonte
![]() Children of Bodom |
Minas Gerais, em especial a cidade de Belo Horizonte, sempre teve uma forte presença no cenário do heavy metal, principalmente no que diz respeito a seus derivados mais extremos, tais como o thrash e o death metal. Na década de 1980, a cidade tornou-se uma referência para bandas do estilo, quando surgiram por aqui nomes marcantes do trash/death metal, tais como Overdose, Sarcófago e, claro, a mais longeva e conhecida dentre elas, o Sepultura.
Por causa disso, não é de se estranhar que, desde o ano passado, a cidade tenha se tornado ponto de parada obrigatório para bandas adeptas do gênero que passam pelo Brasil. Assim, depois de receber nomes proeminentes no cenário, tais como o Gorgoroth, Marduk, Dimmu Borgir e Cannibal Corpse, só para citar os mais importantes, foi a vez dos finlandeses do Children of Bodom darem o ar de sua graça na capital mineira, em apresentação realizada em 14 de agosto. E lá fui eu assistir ao show dos caras.
Quando cheguei ao local do evento, a primeira banda de abertura - seriam duas - já estava no meio de sua apresentação. O Eternal Torture é uma banda que investe em um death metal bem old school, ou seja, guitarra, baixo e bateria à toda velocidade, promovendo um som bastante cru e direto. Isso somado a vocais tão guturais que dão a impressão de que seu vocalista está vomitando as letras de suas composições. Não sei como a garganta do cara agüenta. Apesar de não ter visto toda a apresentação da banda, acredito que eles têm potencial para crescer e vão agradar aos apreciadores deste estilo musical.
Em seguida veio o Ruffin, outra banda de death metal que, no entanto, faz um som um pouco mais elaborado do que a anterior. Claro, toda a energia e pancadaria características do gênero estão presentes, mas as composições da banda - pelo menos as mostradas naquele momento - parecem um pouco mais trabalhadas do que as do Eternal Torture. A banda também tem uma melhor presença de palco, mostrando ser provavelmente mais experiente. Tanto que nem se deixaram abalar quando, devido a um problema na bateria - uma de suas peças se soltou e precisou ser trocada - tiveram de interromper sua apresentação no meio de uma música para que tudo fosse solucionado. É difícil traçar qualquer análise mais aprofundada de ambas as bandas, visto que foi a primeira vez que as vi em ação. No entanto, pelo que presenciei, ambas são promissoras e souberam como aquecer os quase 1.000 presentes no local.
Finalmente, por volta das 23h, sob muita fumaça, Alex Laiho (vocal, guitarra), Jaska Raatikainen (bateria), Roope Latvala (guitarra), Henkka T. Seppälä (baixo) e Janne Viljami Wirman (teclados) subiram ao palco do Lapa Multishow, abrindo sua apresentação com Hate me, mostrando logo de cara a que vieram. Diferente das bandas de abertura, o Children of Bodom faz parte de uma geração que investe num death/black metal melódico, ou seja, combinam a pancadaria tradicional do gênero com influências melódicas.
Depois do cartão de visitas (e de mais uma pauleira na sequência), finalmente Alex Laiho tirou alguns segundos para conversar com o público antes de chamar a próxima música, Silent night, Bodom night, do álbum Hatebreeder. A ela seguiu-se Bodom after midnight, que foi um dos grandes destaques do show, fazendo os presentes na casa de espetáculos pularem e se agitarem como loucos.
A razão para a turnê do Children of Bodom é a divulgação de seu último trabalho Hate Crew Deathrow. Nada mais justo, então, que boa parte das músicas executadas ao vivo saíssem de lá. A pesada Sixpounder e a ótima Angels dont kill vieram na seqüência, sendo que a última também pode ser considerada outro ponto alto da apresentação da banda naquela noite.
Depois de seis músicas na seqüência, a banda deixa o palco, exceto pelo tecladista, que investe num solo bem interessante. Logo é a vez de Alex retornar ao palco e ter seu momento de guitar hero. Segue-se um inspirado duelo entre os dois instrumentistas. Para cada solo de Alex, Janne tentava superá-lo. No final, ao meu ver, o tecladista levou a melhor.
Fim de descanso, era hora de continuar o trabalho e outra música do Hate Crew Deathroll, Needled 24/7 foi executada com perfeição pela banda. Aí o CoB decidiu retornar à seus primeiros dias tocando Deadnight warrior, faixa de seu primeiro trabalho, Something wild. Quando uma banda procura se aprimorar a cada novo trabalho, é sempre interessante observar o contraste entre suas músicas mais antigas e as mais recentes e foi este o caso. As músicas atuais do Children of Bodom se não são melhores do que as antigas - já que este é um conceito bem subjetivo - estão bem mais elaboradas e isso é algo que salta aos olhos (ou melhor, aos ouvidos) quando são tocadas uma após a outra.
Towards dead end foi executada logo em seguida. Um tanto quanto mais cadenciada, a música marcou mais uma debandada geral do palco. Ficou apenas Jaska para seu solo. Embora o baterista não tenha mostrado nada de excepcional, também não decepcionou. Em todo o concerto ele demonstrou muita competência em seu instrumento.
Com o restante da banda de volta, é a vez de Kissing the shadows, e a ela segue-se a ótima Everytime I die. O novo álbum da banda é relembrado quando Alex anuncia a última música da noite, justamente a faixa título Hate crew deathrow. Ao seu fim, a banda se despede e dessa vez todos deixam o palco.
No entanto, como já virou tradição em shows de heavy metal, minutos depois todos estavam de volta, com Janne na frente, sendo seguido pelos demais. Antes de executar a verdadeira última música da noite, Alex conversou alguns segundos com o público, elogiando os presentes no show e dando uma alfinetada em seus compatriotas do Nightwish. Sua declaração, no entanto, não conseguiu uma repercussão muito animada do público mineiro. Ao fim da música, a banda deixou rapidamente o palco.
Essa debandada rápida foi um dos poucos pontos negativos de todo o show. É costume que, ao final de uma apresentação, os membros de uma banda fiquem lado a lado no palco, recebendo a ovação do público e despedindo-se. O baterista costuma jogar baquetas e os guitarristas palhetas para a galera. No caso do CoB, não houve nada disso. Sequer um obrigado, boa noite, por parte de Alex Laiho.
Pessoas que já acompanham o Children of Bodom há mais tempo dizem que toda a banda, especialmente seu vocalista, tem um comportamento típico de rock star, o que, às vezes, pega mal. Apesar disso, a banda é bastante competente, escolheu um setlist bem legal e compensa a falta de carisma de seus integrantes com uma boa presença de palco.
