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Cat Power: <i>You are free</i>

Cat Power: <i>You are free</i>

EV
25.08.2003, às 00H00.
Atualizada em 14.06.2017, ÀS 02H03
Cat Power - You are free
4 ovos

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Foram quase cinco anos de silêncio desde o último álbum de músicas inéditas de Cat Power. Ninguém continua o mesmo depois de todo esse tempo. Muito menos a nossa velha Chan Marshall, que insiste em ter um tesão masoquista todo especial em alimentar suas atormentações. Esses anos todos estão marcados em You are free, sexto lançamento da cantora, que é uma colcha de retalhos de climas em suas 14 músicas.

A faixa de abertura já chama atenção. Apesar de ser levada pelo clássico piano, Marshall abre a garganta, forçando um tom que não lhe é muito comum. Em alguns momentos, um sorriso parece estar ali, atacando sua voz.

A estranheza aumenta na segunda faixa, "Free", quando Marshall começa a fazer festinha na caixa de som. Aqui, ela já se acostumou com o sorriso e está visivelmente dançando enquanto canta, mesmo que timidamente. Uma bateria quase invisível faz o refrão parecer um B-52s sem o estrobo.

Dali pra frente, as canções dividem-se em duas linhas distintas. Algumas seguem o folk marcante que é o grande espelho da sua carreira, com gravação quase caseira e voz abafada, como em "Babydoll" e "Werewolf" (esta, cover do seu predileto Michael Hurley). O lado B são as composições com uma pegada mais forte, em que a bateria de Dave Grohl ocupa papel quase principal, como na dobradinha "He war" e "Shaking paper".

É o próprio Grohl, aliás, que assume o papel de condutor na maior parte das faixas que saem do mundinho de Chan. Além dele, Eddie Vedder faz uma "ponta" em duas faixas - incluindo aí a incrível "Good woman", que também traz o violino de Warren Ellis. Os convidados estão lá, mas mantém-se no cantinho da sala (como devem), sem roubar a cena.

Ao final do disco, não dá mais pra falar o que é "mais" ou "menos" Cat Power ali. A singeleza de "Names", em que ela canta sobre crianças que sofreram abusos com a maior desafetação do mundo, ou a marcação baixo- bateria-gritos de "Speak for me"?

O jogo de palavras no título do CD é uma pista pra esquizofrenia quase pacífica que é a cabeça - e a obra - de Cat Power. Primeiro agindo como um recado para a própria Marshall: "você está livre, gata. Ligue o foda-se e faça o que você quiser" - seguindo para um tímido selinho no canto do CD, mostrando que o álbum é "Cat Power free" e que, depois de cinco anos, ela pôde ignorar a sua carreira até ali e brincar com sua criatividade. No final das contas, porém, a previsível revelação está ali, falando diretamente a ela: "você é Cat Power, baby. Não vai conseguir fugir tão cedo".

Chan Marshall está livre, mas ainda mais presa ao que ela é realmente. E isso leva a dois caminhos óbvios: maturidade ou auto-destruição. Às vezes os dois juntos. Sabe-se lá onde Marshall vai parar.

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