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Cake em São Paulo: Um desperdício

Cake em São Paulo: Um desperdício

11.08.2005, às 00H00.
Atualizada em 27.11.2016, ÀS 02H07

Fotos: Eduardo Viveiros
e Marcela Tavares

John McCrea é a personificação do Cake. Essa é a conclusão que se chega depois de assistir a um show como o que a banda fez em São Paulo na última sexta-feira, 5 de agosto, parte da turnê que passou por quatro capitais brasileiras.

Os californianos entraram atrasados, visivelmente abatidos pelo cansaço das viagens, para um show rápido e eficiente de uma hora e meia. Com o excelente quarteto de apoio no instrumental, McCrea fazia o papel de um Ray Conniff low profile, pulando pelo palco e controlando a banda com gestos, olhares e poucas palavras.

O show começou com as antigas Sheep go to heaven e Frank Sinatra, antes de partir para Guitar man, o single do último disco, Pressure chief, lançado no ano passado. A banda cumpriu a promessa de não seguir setlist algum, decidindo a seqüência das músicas na hora. Espertos, privilegiaram no show as músicas dos dois discos do auge do seu sucesso, Fashion nugget (96) e Prolonging the magic (98), mas não deixaram de tocar faixas de todos os outros trabalhos. O que recebeu menos atenção foi o primeiro da carreira, Motorcade of generosity, que só deu Rock’n’roll lifestyle por aqui.

O show ganhou a participação do ídolo da banda por essas terras, Tom Zé, anunciado como um convidado muito muito especial. O brasileiro subiu ao palco nos solos finais de Wheels, assumindo o teclado e o microfone com suas atonalidades costumeiras, e fez uma jam instrumental junto com a banda. A entrada tímida, porém, nem lembrava a intervenção do músico no primeiro show do Cake por aqui, no Free Jazz de 1999, quando cantou e fez música com jornais velhos e copos d’água. Tom Zé voltou ainda no final do show, já no bis, para tocar reco-reco e pandeiro em Italian leather sofá. Como que forçado por John McCrea, que parecia suplicar por uma participação maior do ídolo, Tom acabou inserindo versos de Meu limão, meu limoeiro no meio da canção, brincando com o nome do americano.

Comunicativo, McCrea não parava de conversar com a platéia, contando histórias e contextualizando quase todas as músicas que cantava. A audiência fria não correspondia muito bem, e era quase constrangedor ver o americano pedindo e pedindo a participação dos brasileiros - como quando tentou organizar um coral no refrão de No phone -, sem sucesso. Ele aproveitou e espetou - de forma bem-humorada - aqueles que insistiam em falar ao telefone durante o show, principalmente na área VIP: vamos, desliguem seus celulares, pelo menos por um momento. Vocês não precisam dele aqui, precisam?

Revezes à parte, o Cake fez um show profissionalíssimo por aqui, tecnicamente bom e sem largar mão do tesão de tocar. Provou o motivo de ainda ser uma das melhores bandas em atividade, sem participar de grandes hypes e movimentos nos dez anos de carreira. O repertório deixou excelentes músicas de fora, mas abriu espaço para a cover de Excuse me (I think I’ve got a heartache), clássico dos anos 60 do cantor Buck Owens (outro ídolo de McCrea) que nunca foi gravado pelo Cake, mas é habitual nos setlists da banda. Fechando com chave de ouro, a apresentação paulistana acabou com um segundo bis, aproveitando o sucesso de I will survive, entre loas ao Brasil e promessas de retorno breve.

Outro lado

O show acima, porém, só esteve disponível para a meia dúzia de gatos pingados na área VIP do ambiente - reservada a convidados e endinheirados com fôlego para gastar 300 exorbitantes reais por ingresso.

O resto da massa, que também desembolsou uma bela quantia pela entrada (R$ 120), ficou a dez metros da banda e viu um show bem diferente. O palco improvisado no Hotel Unique, baixíssimo, dificultou em muito a visualização, transformando o Cake em uma banda de baile de formatura. O sistema de som também não ajudou - em certos momentos, era quase impossível ouvir a voz de John McCrea nas caixas; a banda parecia ouvir suas músicas muito melhor que o resto dos presentes.

Mas um show não é quase nada sem um bom público. E o desta noite, filtrado pelos cifrões, foi o maior ponto fraco. As quase três mil pessoas que lotaram o lugar (que, diga-se, não tem estrutura para um evento de três mil pessoas - quem tentou sair do hotel depois do fim percebeu muito bem), salvos os poucos fãs esforçados, esbanjavam afetação ao limite, com o corte bem cuidado das roupas etiquetadas e a feição de tédio - contra tudo e todos - calculada no olhar.

Uma pena que um show que é tão despretensioso sobre o palco tenha sido transformado em mais um petit comité do jetsetter paulistano, na interminável mania de transformar a cidade de São Paulo em pólo de eventos de luxo. Um contraste descomunal com as roupas velhas de John McCrea.

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