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Blur: <i>Think Tank</i>

Blur: <i>Think Tank</i>

13.05.2003, às 00H00.
Atualizada em 11.11.2016, ÀS 05H11
BLUR - Think Tank
4 ovos!

A primeira coisa que vem à cabeça depois da primeira audição de Think tank é o que diabos Albarn andou fumando no Marrocos?

Pra quem estava acostumado com os primeiros seis discos do Blur, este aqui é praticamente um tapa na cara. Não pela porrada sonora das músicas, como a analogia faz parecer. Pelo contrário, é exatamente pela excessiva tranqüilidade sonora.

As influências africanas são mais do que perceptíveis. Tanto nos instrumentos e batidas transcedentais, quanto nas faixas climáticas de seis minutos. Olhando pra trás, é facílimo notar o que aconteceu com Damon Albarn no meio tempo entre o último álbum, 13, e Think tank. Na verdade, todo mundo já deve ter feito essa conexão, mas vamos lá...

Primeiro, veio o Gorillaz. Apoiado no ombro de Dan, the Automator, Albarn criou um monstro pop. A banda de desenho animado alcançou um hype mundial que o Blur nunca foi capaz de atingir. E o projeto provou a ele o quanto blips e blops podem ser divertidos.

Logo depois, na virada do ano 2000, Damon se enfiou no projeto Mali Music. Ali, ele pirou com uma cultura musical completamente avessa à qual estava acostumado. Fez amizades, produziu um disco excelente e, dali pra frente, nunca mais foi o mesmo.

Então o Blur se reúne e diz vamos fazer um disco. Convencidos por Damon, mudam-se para o Marrocos, para gravar o álbum longe de qualquer influência. Ali, acontece a grande cisão. Os ânimos dentro do grupo, porém, não eram os melhores. Damon ainda estava encantado pelo que tinha feito em Mali Music e essa postura não vinha agradando o guitarrista Graham Coxon, que não estava muito satisfeito pelos rumos que o som do grupo tinha tomado. Depois de semanas de boatos e desmentidos, a grande cisão foi confirmada: Coxon estava fora do Blur.

Com a saída do guitarrista, que era a segunda estrela-base da banda, Albarn pode se divertir. E, obviamente, é isso que ele faz. Aproveitou como pôde as influências de Norman Cook, o DJ Fatboy Slim, que tinha sido contratado para ser um dos produtores do álbum.

O disco é um bocado tumultuado, seguindo várias linhas. Uma hora o Gorillaz predomina, noutra é o velho Blur, e depois ainda vêm os resquícios de Mali, e assim vai.

Conclusão: Think Tank não é propriamente um álbum do Blur. É um álbum de Damon Albarn fazendo o que ele acha certo, divertido e bom. E ele parece ter largado mão do ranço do britpop.

Faixa a faixa:

01. "Ambulance"
O CD já começa com um ritual de iniciação de cinco minutos. Um minuto de batidas hipnóticas, antes da voz entrar, descambando para uma mistura de Albarns, atingindo tons diversos.

02. "Out of time"
As vozes de fundo dão um clima de bar de beira de estrada, até alguma, hmmm, coisa começar a trabalhar o backing vocal. Daí é como se a banda alcançasse algum transe durante a música. Open up your mind dizem eles, estranhando o mundo. Primeira faixa bacana no CD, é quase uma faixa de Mali Music. Por outro lado, é quase também uma típica "canção-Belle & Sebastian".

03. "Crazy Beat"
A primeira música com o toque do Norman Cook é também, ironicamente, a primeira em que eles pesam na guitarra. Porradinha gostosa, daquelas com vários começos, perfeitas para uma pista. A letra louva os efeitos da música e das baladas nas pessoas, no melhor estilo music makes the people come together. De brinde, efeitos sonoros do tio Norman e um refrão pentelho.

04. "Good Song"
Baladinha básica, com cara de Blur. O título já diz tudo.

05. "On the way to the club"
É outra com cara de Blur, em que Albarn se desculpa à namorada pela porralouquice na noite (como a de duas faixas atrás). Começa básica e, do meio pra frente, se transforma numa cacofonia.

06. "Brothers and sisters"

Uma das mais chatinhas, com vocal arrastado, batidas e barulhinhos. Porém, como é uma música sobre drogas e mais drogas, dá pra relevar. O jeito de cantar lembra, er, Elton John.

07. "Caravan"
Voz e instrumental distorcidos, levada devagar. Parece que Albarn está sofrendo a ressaca da overdose química da música anterior. Música perfeita para viajar num domingo de manhã.

08. "Weve got a file on you"
Da série o título é a música. Guitarras e sons africanos. Porradinha de um minuto que começa e, quando você vê, já acabou. Outra excessão à regra do disco.

09. "Moroccan People"
Aqui o baixo dá o tom. A batida e letra repetitiva lembram Gorillaz.

10. "Sweet Song"
Essa é pra dizer aos chatos que nem tudo está perdido no novo Albarn. Blur fofo como só eles conseguem ser, com direito a acompanhamento de tecladinho e backing vocal fazendo uuuuuuuuh.

11. "Jets"
Mais uma de letra reduzida a frase única, essa é como se o britpop tivesse sido inventado na selva. Ali aos quatro minutos, um saxofone inesperado fecha o pacote, transformando a faixa num quase jazz. Outro grande momento.

12. "Gene by Gene"
Essa é a segunda com a mão do Slim Cook. É como um remix de Mark Bolan (T-Rex), com tempo reduzido e atulhado de um exagero de barulhos estranhos.

13. "Battery in your leg"
A última do CD também foi a última com Graham Coxon ainda na banda. Um pianinho Coldplay dá a base e a letra triste parece tentar manter firme a amizade de décadas entre Albarn e Coxon.

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