A nova sinfonia do Rhapsody
A nova sinfonia do Rhapsody
O
Rhapsody fechou um ciclo em sua carreira quando do lançamento de seu
último trabalho, Power
of the dragonflame. O quarto álbum dos italianos (quinto, se considerarmos
o mini-CD Rain of a thousand flames) encerrava de forma grandiosa as
Crônicas de Algalord, trama ambientada na fictícia terra medieval de
Algalord, onde um bravo guerreiro desafia as forças do mal. Para tanto, enfrenta
muitos perigos em busca da Espada Esmeralda, a mais poderosa arma jamais criada.
A Saga da Espada Esmeralda, principal história das crônicas de Algalord,
começou a ser contada logo no primeiro disco da banda, Legendary tales
e é repleta de guerreiros, anões e magia.
Com o fim da saga, o guitarrista/letrista/compositor (e, sejamos francos, dono) do grupo, Luca Turilli anunciou planos para que o Rhapsody gravasse um álbum de black metal, estilo musical bem diferente do metal hollywoodiano ao qual seus fãs estão acostumados. Por vários motivos, Rhapsody in black (esse seria o nome da obra), no entanto, sequer saiu do papel. Na mesma época, o Luca disse também que planejava um CD conceitual baseado em O senhor dos anéis (a trilogia de Peter Jackson, não os livros de Tolkien). O alto custo dos direitos autorais, porém, fizeram-no desistir da idéia.
O jeito foi retomar o bom material que tinha em mãos. Assim sendo, depois de dois anos, o Rhapsody volta à cena com o excelente Symphony of enchanted lands II - the dark secret (a título de curiosidade, o primeiro Symphony of enchanted lands foi lançado em 1998 e é o segundo trabalho da banda). Para a gravação do disco, Luca contou com os ótimos Alex Staropolli (teclados), Fábio Leone (vocal), Alex Holzwarth (bateria) e o novato Patrice Guers (baixo). O conjunto também se fez acompanhar de uma orquestra e com ninguém menos do que Sir Christopher Lee (o Saruman de Senhor dos Anéis) como narrador.
É claro que Symphony of enchanted lands II - the dark secret traz a pompa característica do Rhapsody, o que sempre fez muitos torcerem o nariz. São músicas muito orquestradas, criando climas e ambientes, tudo combinado com o peso típico do heavy metal. Algumas faixas lembram tanto trilhas de filmes que não surpreende a banda definir, hoje em dia, seu estilo como Film score metal .
Rótulos viajados à parte, o CD abre-se com The dark secret e, de cara, percebe-se por que os caras deram a designação acima ao material. Começa com Lee narrando os eventos que aconteceram anteriormente. Primeiro só há a sua voz grave; logo depois um teclado muito bem encaixado impõe um clima sensacional de trilha sonora. De olhos fechados, é impossível não visualizar as diversas narrativas. A introdução emprega um coral, o que contribui para o clima de filme épico, indo num crescente. Longa, ela dura quatro minutos, mas prepara o ouvinte para o que vem a seguir.
A grandiosidade, com a orquestra e corais, continua nos minutos iniciais de Unholy warcry. No entanto, quando aparece pela primeira vez, a voz de Fábio Leone lembra-nos de que estamos ouvindo heavy metal. A faixa alterna bem momentos pesados com outros cadenciados e orquestrados. Isso sem falar no excelente refrão. Também merecem destaque os riffs de Luca.
Um sino e um coral quase gregoriano cantando em uma língua que não pude identificar abrem Never forgotten heroes. Quando aparece, o teclado de Staropolli consagra o tom soturno da música e cria interessantes atmosferas. Logo, no entanto, resgatam-se as características do Rhapsody, com destaque para a bateria de Alex Holzwarth; além do refrão, é claro.
Em seguida, a breve Elgards green valleys, faixa instrumental de apenas dois minutos, tem apenas a função de nos fazer mergulhar ainda mais no pique do álbum. Serve de ponte para The magic of the wizards dreams. Esta é uma daquelas músicas que só ouvindo pra se ter idéia de como é boa. Em uma balada extremamente bem feita, o refrão empolgante na voz de Fábio Lione prova, uma vez mais, por que ele é considerado um dos melhores vocalistas do metal atual.
Ventos fortes e uma voz sombria, num falar arrastado, gutural e quase impossível de ser compreendido abrem Erian Mysthical rhymes. Segue-se um belo coral, que num crescente, assume ritmo mais acelerado. A faixa não se difere das demais, contém bom andamento e refrão grandioso, elementos presentes em quase todas as músicas do Rhapsody. Não que seja um demérito, muito pelo contrário. A propósito, Erian Mysthical rhymes é a primeira do álbum que ultrapassa os dez minutos de duração.
The last angels call começa acelerada e não para. De todas as faixas, é a mais típica do Rhapsody. Não causaria estranheza se ouvida em qualquer outro CD do grupo.
Dragonland river é mais uma que começa lenta e emprega de instrumentos de sopro para se fazer intimista. Nesta balada, o tom de voz de Fábio Lione está mais contido do que o habitual. Assim como Elgards green valley, repousa o ouvinte antes do que está por vir.
A voz poderosa de Christopher Lee reaparece em meio a um vento forte e dá início à Sacred power of the raging winds. Após essa entrada, seguida de um belo riff de Luca Turilli, a música descamba pra um heavy metal muito bem feito, com destaque para a bateria de Alex Holzwarth. Em seus mais de dez minutos, mostra uma infinidade de ritmos lentos e pesados. As mudanças de andamento fluem bem e mostram que a banda interagiu de modo perfeito com a orquestra que a acompanhou.
A exemplo de seu trabalho anterior com o Rhapsody, Luca Turilli acrescentou uma canção em sua língua natal. Guardiani del destino é lenta e adquire um tom grandioso apenas no refrão. É interessante, apesar da letra incompreensível para quem não entende italiano.
O teclado de Staropolli, a bateria de Holzwarth e a guitarra de Luca marcam a introdução de Shadows of death. Não há muito o que se dizer dessa música, uma vez que apresenta mais ou menos as mesmas características das demais. Staropolli, Lione e Holzwarth são os que se destacam nela, que também traz curtíssima participação de Christopher Lee.
Symphony of enchanted lands II - the dark secret chega ao fim com Nightfall on the grey mountains. Essa faixa traz ritmos, especialmente associados aos corais, que remetem a Unholy warcry. Com todas as qualidades de suas predecessoras, fecha com chave de ouro mais um ótimo trabalho do Rhapsody.
No frigir dos ovos, Symphony of enchanted lands II - the dark secret apresenta o Rhapsody de sempre, com a diferença de que as músicas estão mais pomposas e pesadas. Luca Turilli e Alex Staropolli parecem ter despendido bastante tempo em suas composições, visando a que todos os elementos se encaixassem da forma perfeita. Quem é fã de Rhapsody ou de seu estilo vai adorar o disco que, na minha humilde opinião, já é um dos candidatos a melhor do ano. Quem não gosta vai continuar desgostando.