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Música
Artigo

A música no Vivo Open Air paulistano

A música no Vivo Open Air paulistano

EV
11.04.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H17

Geanine Marques

DJ Dolores

Sex in Dallas

Jumbo Elektro

Canastra

Voltair

Los Sebosos Postizos

Mariana Aydar

Omelete Recomenda

A edição 2005 do mega-evento Vivo Open Air tomou conta de São Paulo, durante vinte dias do último mês, no espaço do Jockey Club. Ambicioso, o projeto cresceu e abraçou de vez outras áreas que não o cinema. A proposta, segundo a curadoria, era a aposta na sinestesia, a confusão de sensações, em que um sentido sobrepõe e estimula o outro.

É fácil um evento assim beirar a esquizofrenia e não chegar a lugar algum, tornando-se apenas mera confusão de marketing. O VOP deste ano, com sua estrutura gigantesca, foi uma maratona esquizofrênica, mas conseguiu se manter saudável. Misturou o cinema-arte de Isaac Julien com games, instalações de artes visuais com restaurantes, música, festas e, bom, cinema. Complicado era saber a que dar atenção nessa feira multimídia.

À parte a boa seleção de filmes, o xodó principal do evento e sua tela gigante, a curadoria acertou a mão na programação de shows, que é o que interessa neste espaço. Abriu mão dos nomes já manjados e deu um espaço excelente à apresentação de novos artistas, projetos singulares e atrações internacionais fora do padrão.

Mas, se a escalação foi esperta, o problema é o público que o evento reúne. Os caros ingressos a R$ 36 fizeram uma cruel seleção, em que os interessados em boa música ficaram de fora, restando só aquela massa do público paulistano que vai a qualquer lugar para ver e ser visto, beber e circular entre um bar e outro - que, cruelmente, ficavam nos dois lados do palco, convertido em ponto de passagem. Muitos dos músicos ali tocaram para ninguém.

Acompanhe abaixo o que apareceu de melhor e pior no palco do Vivo Open Air.

Obrigada, amiguinhos

A abertura musical da primeira semana do VOP ficou por conta da magérrima e semi-desconhecida Geanine Marques, modelo/cantora/musa dos gays moderninhos, que gravou recentemente um disco com os indies do Pullovers. Seu show no evento foi especialmente dedicado ao compositor Burt Bacharach, ícone do pop adulto americano e figurinha fácil em trilhas sonoras. O repertório incluiu todos aqueles standards que todo mundo conhece mas que quase ninguém liga a Bacharach: de Raindrops keep fallin on my head a I say a little prayer, Wishin and hopin e Ill never fall in love again.

Este show foi uma extensão bem-vinda de uma apresentação que Geanine fez em 2003, cantando ao vivo em um desfile do estilista paulista Alexandre Herchcovitch. Na ocasião, presenciada por poucos felizardos, interpretou uma seleção de hits dos anos 50, estética irmã dos trabalhos de Bacharach.

Cantora de voz afiada, Geanine demonstrou no palco do Jockey o que já é óbvio para quem a acompanha de perto: vai do rock ao hip hop ao pop fofinho com malemolência incomum - além de um carisma absurdo. Dá até para perdoar alguns erros no andamento e deslizes na afinação.

Tem maconheiro em São Paulo, tem?

Na mesma noite, mudando do vinho para a cachaça, Geanine cedeu o palco para o pernambucano DJ Dolores. Recém-chegado de uma louvada turnê pela Europa, Dolores trouxe a São Paulo seu novo projeto, Aparelhagem.

Exótico trip hop vitaminado do Nordeste, o Aparelhagem traz na mala, além das batidas eletrônicas de Dolores, uma cozinha com forte influência free jazz e o ótimo vocal feminino de Isaar França.

O repertório consegue fundir ritmos regionais pesquisados pelo DJ com músicas próprias e releituras - incluindo aí uma reconstrução surpresa de Som de preto, clássico dos primórdios do funk carioca - num excelente show. Se Dolores conseguir manter a energia do palco no disco do Aparelhagem, que sai ainda este mês pela Trama, será um belo upgrade na carreira do músico.

Are you here, São Paulo? Or are you in Kill Bill?

Na noite seguinte, depois da apresentação dos dois volumes de Kill Bill, foi a vez da primeira atração internacional do evento: Sex in Dallas. Praticamente incógnitas para o grande público, o trio é formado por dois franceses e uma austríaca radicados na Alemanha. Sucesso no underground da música eletrônica, eles investem no bom e velho electro-rock hedonista.

Com os homens nas mesas de som, o show ficou todo nas mãos da garota, Biladoll. Dançando no palco, ela parecia uma versão feminina e chapada de um Kraftwerk. Cantando e gritando, provocava e tentava conquistar o público alienígena, que não fazia idéia do que estava assistindo (Essa é a banda? Como é o nome mesmo? Achei que era um cara só. era o que mais se ouvia na platéia).

A apresentação já começou pelo maior hit dos Dalas, Everybody deserves to be fucked e seguiu pelas outras faixas da banda, como Berlin rocks e Crazy dogs. A empatia geral só veio mesmo quando Biladoll investiu nas coreografias sexuais, tirando a roupa e desmontando o figurino.

Ao final, um saldo estranho: um excelente show de electro-rock, em que os moderninhos da noite local vibraram, alguns poucos pinçados na platéia se divertiram e os alienígenas, bem, continuaram alienígenas, preferindo seus copos de cerveja.

Rock carioca, deboche paulistano

A noite indie do Vivo trouxe duas das bandas que chamaram atenção com excelentes discos no ano passado. O Canastra, do Rio de Janeiro, e o Jumbo Elektro, de São Paulo.

Aparentemente contrárias, os dois nomes têm no deboche um fator em comum. Se no Canastra isso vem do histórico ligado ao novo rock carioca da maioria dos integrantes - a banda é uma das ramificações do Acabou La Tequila - o pessoal do Jumbo abusa da caricatura e da bizarrice.

O primeiro show foi dos cariocas, que apresentaram músicas do seu primeiro disco, o excelente Traz a pessoa amada em três dias. Rock local com jazz, swing, semi-sambinhas e surf music marcam as músicas, com o baixo estourado e camisas coloridas. A participação catártica de Nervoso, também ex-Tequila, cantando uma faixa de seu disco solo, foi mais que especial. Assim como o encerramento, com cover da clássica Tu vuo fa lamericano.

Em seguida o Jumbo Elektro, que faz a linha banda engraçadinha, mas sem desgrudar de um bom repertório. Foi um show básico da banda, com os integrantes encarnando personagens bizarros e metralhando gracinhas ao microfone. Entre uma piada e outra, tocaram os hits do seu disco Freak to meet you - incluindo aí uma cover de Iggy Pop, TV eye, com trechos de House of jealous lovers, do Rapture. O excesso de bom-humor cansa, mas não deixa de ser divertido.

Je suis Papo Reto

Um dos maiores acertos na escalação do festival, a dupla de DJs franceses Voltair foi a grande atração da segunda semana do Vivo. A organização e a mída prometiam, antes do show, uma apresentação de funk carioca relido pelos dois residentes do clube francês Favela Chic. Mas quem foi ao show esperando uma noite de pancadão clichezento, recheado com fraseados de duplo sentido, perdeu a viagem. O funk ali foi só um detalhe, e o buraco era muito mais embaixo.

O mestre de cerimônias da apresentação foi o MC Papo Reto que, junto com o percussionista Juninho da Mangueira, garantiram a porção orgânica e carioca no palco, com participações de outros MCs, como o niteroiense De Leve.

Por trás, os dois DJs se mostraram experts em música brasileira. Num tratado de cultura carioca, os franceses derretiam todos os limites entre os ritmos típicos, reprocessando em peso as batidas típicas do rap, funk e samba. No meio de tudo isso, inseriam Britney Spears, rap americano, blues, reggae, disco music e música eletrônica. Foram quase três horas de caô de morro globalizado, com muito rap improvisado e franceses tocando pandeiro.

O funk se tornou presente de verdade na segunda metade da apresentação, quando a dupla deu uma aula da evolução do ritmo nas picapes: dos primórdios com James Brown ao mais recente miami bass, vertente que acabou descambando no funk carioca. Os momentos de pancadão genuíno foram levados a cabo por Papo Reto e De Leve, que fizeram até trenzinho com a platéia assustada.

Lembrando Ben

É sempre impressionante a quantidade de público que a Nação Zumbi mobiliza para seus shows em São Paulo, mesmo com um não dedicado à carreira da banda.

Los Sebosos Postizos são um projeto paralelo da banda, todo dedicado a Jorge Ben. No repertório, pérolas da fase de ouro do músico, de quando ele ainda enveredava pela invenção de uma sonoridade própria. A safra inclui clássicos do porte de Zumbi, Ponta de lança africano, O homem da gravata florida, O telefone tocou novamente e por aí vai.

Longe de meros covers, os recifenses jogam a sonoridade de Ben no seu universo próprio, fazendo um samba-rock à la Nação, com pitadas pesadas de dub, na excepcionalidade costumeira da banda. Na linha de frente, o trio Du Peixe, com a voz agravada por sintetizadores, Lucio Maia e Pupilo já valem qualquer ingresso.

Não é a primeira vez que os Postizos se apresentam na cidade, mas foi provavelmente a última. Ao microfone, Du Peixe avisou que foi um dos últimos shows desta encarnação do projeto. Uma pena.

Telepatique-tique-tique

É difícil um show que começa com samples de Mutantes dê errado. Tá aqui o Telepatique, que não me deixa mentir.

O projeto é uma dupla: de um lado Mylene, cantora de MPB-eletrônica, com um disco independente na carreira e coleção de elogios na imprensa, aqui e lá fora; do outro, Periférico, veterano DJ e produtor paulistano, que caminha pelo hip hop e música eletrônica.

Entre um e outra, uma impressionante produção de breakbeat, que não dá fôlego aos ouvidos em momento algum, aditivada por um baterista exageradamente furioso. Nos vocais, Mylene grita, sussurra e faz performance na linha sexy-agressiva. As músicas são autorais na maioria, mas abrem espaço para reverências a influências - como o cover de Nirvana. Algumas letras são bobinhas, é verdade. Mas a energia do resultado final impressiona.

Vamos fazer um sambinha, né?

De cantoras novinhas que querem resgatar a MPB, o Brasil está cheio. E Mariana Aydar, que se apresentou pela primeira vez no VOP, é mais uma delas.

A intenção não deixa de ser louvável, pois tem no repertório grandes clássicos - de Adoniran Barbosa a Chico Buarque. Mas o conjunto de fatores não colabora. Os arranjos seguem a mania pentelha de encapar os sambas com uma camada de cool jazz. E a voz pouca da guria, mesmo embalada pelo acompanhamento suave, some no meio de tudo - principalmente com o barulho da platéia.

Mariana veio ao mundo em boa companhia: bons instrumentistas na banda de apoio, composições de novos talentos (como BiD, Iara Rennó e Robertinho Brant) e o apadrinhamento de luxo de Seu Jorge - que participou do show e acabou abafando ainda mais as boas intenções da moça.

Assim, Mariana acabou não passando de ser realmente apenas mais uma nova carinha na nova MPB. O bom é que ainda tem idade para evoluir muito, só precisa achar um diferencial.

Pornochanchada ao vivo

Reproduzir um disco instrumental ao vivo e agradar ao grande público é uma tarefa complicada, mas Che conseguiu cumprir com maestria. Foi a primeira apresentação do recém-lançado disco Sexy 70, que é todo inspirado nas trilhas das pornochanchadas de antigamente.

E não faltou inspiração - nem na gravação do disco, muito menos na performance no palco do Jockey. Che, que gravou todos os instrumentos no CD, reuniu um time de músicos de primeira, formando a banda Sete Galo. O show foi praticamente uma audição ao vivo e na íntegra de Sexy 70, com direito à participação virtual de Paulo César Pereio e Helena Ramos. Mais canalha impossível.

Hele

Rei do mangue, Roberto do Rio

A penúltima noite do Vivo foi dedicada a Roberto Carlos e seu universo, reunindo dois projetos indies que homenageiam a trupe do Rei - uma dobradinha que há muito deveria ter sido arranjada.

O primeiro, vindo do Rio, é o Lafayette e os Tremendões. O grupo é uma espécie de all stars do rock carioca (com membros dos Autoramas, Canastra, Carbona e Acabou La Tequila, além do estrangeiro Penélope) fazendo o papel de banda de apoio do tecladista da fase iê-iê-iê de Roberto, o Lafayette do título. A segunda é a Del Rey, de Recife, que reúne o showman China (ex-Sheik Tosado) com o Mombojó como banda de fundo.

Apesar da proposta de releitura parecida, as duas bandas se complementam sem brigar por repertório. Enquanto os Tremendões dão conta principalmente da fase Jovem Guarda de Roberto (mais Erasmo e Wanderléa de brinde), além de releituras de músicas lançadas por Lafayette em seus discos solo, como Beatles, os recifenses são mais abrangentes e enfiam o pé também na fase romântica e cafona do Rei. Quero que vá tudo pro inferno e Pare o casamento de um lado, Além do horizonte e Coisa bonita (Gordinha) de outro. Uma ode completa ao cantor.

As duas bandas também não brigam no quesito arranjos. Os Tremendões apostam no rock desmedido, apenas reavivando o arranjo original das músicas, enquanto o Del Rey lê as canções ao seu modo, apostando na malemolência de China e na sonoridade neo-mangue, com o perdão do rótulo.

Uma noite célebre. Só ficaram devendo uma jam entre as duas bandas, tocando Amazônia, O taxista, ou algo assim.

Môitos bêjos!

O último show do evento ficou nas mãos da terceira atração internacional da escalação. Famosos na Inglaterra, a dupla Bent tem o trabalho baseado em música eletrônica calminha, trabalhando camadas de sons que misturam de tudo um pouco, mas não necessariamente chegam a algum lugar.

Já é complicado um show de lounge music em lugares menores e para pessoas interessadas. Em um evento em que a música acabou sendo atração acessória, é pior. E a atração não ajudou.

Originalmente um duo, o Bent apresentou-se por aqui pela primeira vez como banda: além dos produtores, uma base orgânica e duas cantoras. Se a música era interessante, apesar de estéril, a viagem virou a cabeça das meninas, que encarnaram a velha cartilha do músico gringo em terras tupiniquins. Num esforço de simpatia, pontuavam frases em português, declaravam amor a São Paulo, mandavam beijos e tentavam versos de músicas daqui - todas com Brasil no meio. Com mais um pouco de show, capaz que cantassem o hino nacional.

No repertório, apenas reproduziram as músicas dos discos e pronto. A banda parecia animada por estar no palco - animada demais, até - mas não conseguiu fazer mais que isso. Chato? É. Uma escalação dessas merecia desfecho melhor.

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