Robert Downey Jr., segundos antes de revelar seu rosto no painel do Marvel Studios na SDCC (Matt Winkelmeyer / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)

Créditos da imagem: Robert Downey Jr., segundos antes de revelar seu rosto no painel do Marvel Studios na SDCC (Matt Winkelmeyer / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)

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Vingadores: Marvel apaga cinco anos de história para recomeçar o Multiverso

Fora Kang, fora Michael Waldron e fora azar: Kevin Feige apresenta a nova direção do Marvel Studios nos cinemas

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4 min de leitura
31.07.2024, às 15H46.
Atualizada em 02.08.2024, ÀS 15H20

Marvel Studios nunca foi tão reativo quanto no último sábado (27), quando anunciou que Vingadores: A Dinastia Kang havia sido transformado em Vingadores: Doomsday. No lugar do Kang do demitido Jonathan Majors, o Doutor Destino, vilão original da história de Guerras Secretas que será adaptada para o cinema. Mas o mais importante é o ator: Robert Downey Jr., o antigo Homem de Ferro, e o rosto do MCU por mais de 10 anos, será Victor von Doom, o Doutor Destino.

É uma mudança significativa, e uma que aponta para o desejo da Marvel de, aos olhos do grande público, recomeçar sua história de multiverso com novos personagens e rostos conhecidos. Downey é apenas o primeiro.

Responsáveis por Vingadores: Guerra Infinita Ultimato, os irmãos Joe Anthony Russo também estão de volta na direção, assim como Stephen McFeely, no roteiro. Essa última informação, a menos bombástica de todas as que listei aqui, é notável. McFeely, que escreveu todos os filmes dirigidos pelos Russos com seu parceiro criativo Christopher Markus, aparentemente reescreverá ambos filmes do zero.

Isso significa que Vingadores 5, o antigo Dinastia Kang, será escrito pela terceira vez, no mínimo. Guerras Secretas, pela segunda vez. Os filmes eram, respectivamente, responsabilidade de Jeff Loveness (Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania) e Michael Waldron (LokiDoutor Estranho no Multiverso da Loucura). Depois da recepção negativa de Quantumania, e da saída do diretor Destin Daniel Cretton (Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis), Waldron também deu uma passada no que era A Dinastia Kang para, acreditam muitos, introduzir um novo foco ao filme, distaciando-o do Conquistador.

Será fascinante se esses roteiros, um dia, virem a luz do dia, mas todas essas informações, juntas, já contam uma história. Loveness e Waldron foram os dois principais escribas do Saga do Multiverso da Marvel até então, e os grandes arquitetos de Kang e todas as suas variantes, de Aquele Que Permanece a Victor Timely. Respectivamente uma das mais rejeitadas e uma das mais celebradas produções da Saga do Multiverso, Quantumania e Loki fizeram o preparo do terreno para o vilão que deveria ser "o novo Thanos" - planos que, agora, foram essencialmente descartados.

É claro que Loki e a Autoridade de Variância do Tempo devem figurar, de alguma maneira, em Doomsday e Guerras Secretas (minha teoria de leitor de HQ é que Loki salvará os heróis que sobrevivem ao fim do multiverso e chegam ao Mundo Bélico onde Victor von Doom é deus, assim saindo de rival dos Vingadores para seu salvador), e outras peças importantes dos últimos anos, como o Doutor Estranho, Homem-Aranha, Deadpool e Wolverine ainda protagonizarão momentos futuros, mas a chegada dos Russos, McFeely e especialmente Downey Jr. representam o começo de algo novo. Dentro e fora das telas, a história da Saga do Multiverso (versão 2.0) teve seu pontapé inciial no Hall H no último fim de semana.

O grau de planejamento do Marvel Studios sempre foi exagerado. Leia algo como o livro O Reinado da Marvel Studios e você verá que tão importante para o sucesso da Saga do Infinito foram fatores como sorte, acidentes felizes e coincidências. Kevin Feige arquitetou um caminho que foi aprimorado pelos desvios e imprevistos. Ainda assim, o que vemos acontecendo agora é algo inédito. No que é essencialmente a metade da Saga do Multiverso, que começou em 2020 e deve terminar lá para 2028, Feige jogou a toalha. A versão dessa narrativa com Kang não deu certo, e ao invés de tentar uma engenheria reversa, tentando inserir o Destino de Downey no que já existe, eles optaram por uma página em branco.

Novamente, não é que os personagens e ideias dos últimos cinco anos serão totalmente ignorados, mas não é do interesse da Marvel (e especialmente da Disney de Bob Iger) que o público precise assistir aos lançamentos da antiga encarnação da Saga do Multiverso para ir ao cinema ver o ator mais famoso do mundo como um vilão. Se eu fosse chutar, diria que a história começa mesmo em Quarteto Fantástico: First Steps, um filme que já se passa em outro universo e, portanto, não requer conhecimento prévio algum, e onde provavelmente veremos Doom pela primeira vez.

Até mercadologicamente, o que Feige e Iger desejam é lembrar o público dos bons tempos de 2014 a 2019, quando Downey Jr. era associado ao melhor que a Marvel tinha para oferecer. Os personagens serão outros, mas a ideia é a mesma. Nas palavras do novo Doutor Destino: nova máscara, mesma tarefa.

Então, em 2026 (se não for adiado) chega Vingadores: Doomsday, que junto com Guerras Secretas servirá menos como a conclusão de uma grande narrativa e mais como um reboot — simultaneamente um recomeço e a inauguração de um novo momento, seja no cânone ou fora dele. Depois disso, Feige tirará outra página da HQ de Jonathan Hickman que servirá como base para o último filme desta Saga, e um novo universo Marvel começará do zero. Robert Downey Jr. foi a pedra ângular na qual o MCU foi erguido, e agora será seu grande destruidor.

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