Filmes

Artigo

Festival de Cannes | "O amor e a compaixão foram minhas alternativas à violência", diz Martin Scorsese

Um dos maiores cineastas dos EUA, o diretor de Taxi Driver fala de suas origens ao receber troféu honorário no evento

09.05.2018, às 13H45.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

Dando uma pausa em The Irishman, Martin Scorsese passou pelo Festival de Cannes nesta quarta-feira (9), comovendo os presentes ao relembrar dilemas sociais de sua infância e de seus primeiros anos como diretor. Laureado com a Palma de Ouro de 1976 por Taxi Driver, o diretor de 75 anos bateu um papo com o público da Quinzena dos Realizadores, mostra paralela do evento, na qual recebeu o troféu honorário Carroça de Ouro.

Antes da homenagem, a Quinzena exibiu uma versão inédita de um dos longas que fez em sua juventude, antes de sua fama: Caminhos Perigosos (1973), com Robert De Niro.

"Esse filme é uma crônica do cotidiano pontuada pelas consequências das discussões mais ordinárias do dia a dia, refletindo o bruto ambiente onde cresci nos Estados Unidos. Venho de um lugar de gente de caráter duvidoso, mas também de gente boa. O fato de você vir de um lugar em decadência não te torna uma figura sem virtudes morais", disse o cineasta. "Não sei se eu aprendi alguma coisa dos filmes que fiz, mas sei que descobri no amor e na compaixão uma alternativa para a violência. Existe uma questão essencial na arte, para mim, que é falar de responsabilidade. Caminhos Perigosos, como todos os meus filmes, está sempre discutindo o limite em que a responsabilidade deixa de ser exercida pelas pessoas".

Durante o papo, cheio de confissões ("só quando meu pai morreu, me dei conta de que temos obrigações na vida, que nos guiam") e recheado de emoção, Scorsese lembrou de amigos e parceiros como Jerry Lewis, a quem dirigiu em 1983 em O Rei na Comédia.

"Não sei se defino esse filme como uma comédia, como o título sugere, pois ele foi feito num período muito turbulento da minha vida. Sei que Depois de Horas, que dirigi na sequência dele, é uma comédia. Aliás, é um pesadelo engraçado, assim como é o Mãe!, com Javier Bardem. Vai entrando gente naquela casa, sem sentido e isso é engraçado. Gosto desse filme", disse, elogiando o polêmico longa de Darren Aronofsky.

Encarado como sendo uma referência viva para gerações de diretores, sobretudo com Os Bons Companheiros (1990), Scorsese contou que sua origem de baixa classe média, numa casa sem livros, em Nova York, o levou aos filmes. "Faço desenhos, algo próximo do que se chama tecnicamente de storyboard, para guiar o caminho a ser seguido na direção de minhas cenas. Eu mesmo faço esses rabiscos. Eles me dão o caminho da simplicidade, algo que aprendi vendo o cinema de Jean Renoir e de Luis Buñuel em casa, quando menino, sofrendo de asma".

"Todas as cenas de luta que dirigi em Touro Indomável, desenhei num papel antes de filmar. Mas além dos desenhos, aprendi nos filmes de Elia Kazan e John Ford, grandes influências, o valor de se fazer um take apenas colocando uma câmera diante de dois atores. Com esses mestres aprendi a importância de estar próximo dos atores, ouvi-los, entendendo a vibração de um set", afirmou.

O Festival de Cannes segue até 19 de maio.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.