Quem consome serviços de streaming com certeza já se viu na seguinte situação: parar em frente à TV e zapear o catálogo por uma eternidade até achar um título que parece bom o bastante para preencher o tédio. Em um dia como esse, naveguei sem rumo pelas águas misteriosas do imenso catálogo da Netflix, até encontrar um anime com um título curioso: Kotaro Vai Morar Sozinho. Apesar de não dizer muito, o nome chamativo atiçou minha curiosidade, então resolvi dar uma chance para o trailer. Com apenas poucos segundos entendi que aquela história era o meu tipo de humor — errei, mas nunca estive tão certo.
Meu imediatismo por serotonina e o clima do episódio piloto me levaram a crer que aquela era a história de um garotinho maduro demais para sua idade que resolveu morar sozinho e ser independente. Na verdade, a trama segue um menino que, sem poder contar com o pai ou a mãe — não explicarei o motivo para evitar spoilers — se vê o brigado a morar sozinho. Sem uma renda exorbitante, ele aluga um quarto em uma modesta pensão, com vizinhos muito especiais: uma acompanhante de luxo, um capanga da Yakuza e um mangaká pra lá de preguiçoso. Intrigados com o novo vizinho de apenas quatro anos, eles logo viram amigos e se juntam para cuidar do pobre Kotaro.
Os dois primeiros episódios são um verdadeiro banquete anti-tédio e cheio de humor, mas gradualmente, a história vai revelando detalhes sombrios e profundos que sorrateiramente arrancam lágrimas dos seus olhos — sem deixar de ser divertida. A trama baseada na obra original Kotarou wa Hitorigurashi, de Mami Tsumura, é um deleite para quem gosta de boas histórias que fogem do comum. Além disso, ao colocar Kotaro em contato com diferentes personagens, o anime descarta qualquer possibilidade de sapatear na mesmice e cria uma dinâmica de ineditismo constante, tanto nos fatos que apresenta quanto nos sentimentos do protagonista, que vagarosamente desabrocha para o espectador.
É importante alertar que a história possui diversos possíveis gatilhos emocionais sobre abandono parental, bullying e rejeição. Então, se alguns desses temas é sensível para você e pode te machucar, talvez seja melhor deixar para acompanhar o anime em outro momento.
Com uma vastidão impressionante de histórias em dez episódios curtos, Kotaro Vai Morar Sozinho é sem dúvidas uma das melhores produções de anime originais no catálogo da Netflix. Não há como não se solidarizar com a história do pequeno protagonista e ser completamente fisgado por ele no processo. Seja uma professora do primário ou um golpista, Kotaro muda a vida de todos que se aproximam dele, e, de alguma forma, também mudou a minha.
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