Quase uma década após a estreia da primeira temporada de Sword Art Online, o autor Reki Kawahara decide revisitar o início da trama através de uma nova perspectiva. Com o filme Sword Art Online Progressive - Ária de Uma Noite Sem Estrelas, cujo roteiro é de sua autoria, Kawahara reorganiza o foco de sua história colocando a personagem Asuna como a grande protagonista. Apesar das mudanças e de novos personagens, o longa patina em eventos já conhecidos e parece não se esforçar para agregar algo realmente novo à franquia.
O ponto forte do longa está em seus primeiros minutos, quando vemos a história de Asuna antes do SAO. Na vida real, a personagem se mostra muito diferente da guerreira vanguardista do jogo e nem sequer tinha contato com o universo das grandes franquias de videogame. Incentivada por sua amiga, Misumi (Mito, no jogo), Asuna decide experimentar o SAO, mas acaba presa no jogo mortal com os outros milhares de jogadores. Ainda sem conhecer Kirito, grande protagonista do anime, ela parte com Mito em busca de zerar o jogo — a única maneira de sair dele com vida. Assim como Kirito passa muitos episódios longe de Asuna, no anime, no filme a personagem também enfrenta muitas coisas antes de encontrá-lo.
Apesar de não conter muitas mudanças em relação à obra original, Ária de Uma Noite Sem Estrelas acrescenta algumas passagens importantes para que o espectador possa mergulhar um pouco mais fundo na história do castelo negro de Aincrad. O longa transforma a história dos dois primeiros episódios em um conto com cerca de 90 minutos, e para isso preenche a tela com momentos menos importantes. Mais uma vez, Kawahara utiliza o fato de que a morte no jogo também mata o jogador na vida real para dar mais dramaticidade à sua história. Esse é certamente o principal recurso da primeira parte do anime, e retorna no longa de maneira menos bárbara, provavelmente para fugir de classificações indicativas mais rígidas.
O filme reapresenta o olhar do autor para sua obra através de outro ângulo, por isso é comum que fãs sintam falta do protagonismo isolado de Kirito, mas ele não faz falta em praticamente nenhum momento do filme. O papel de proteção e companheirismo que o personagem carrega no anime é transferido para Mito, no filme. A nova personagem está ali para justificar a brusca mudança na postura de Asuna ao longo dos anos no jogo. Assim como Kirito, ela é muito habilidosa e participou da fase de testes do jogo, por isso está acima dos demais jogadores, mas não deve ter o mesmo destaque na sequência do filme, que já está em produção e estreia neste ano no Japão.
As habilidades dos personagens ficam ainda mais interessantes sob a direção de Ayako Kono, que dá aos golpes um tom tridimensional mais parecido com os jogos da atualidade. Porém, o filme peca justamente pela falta de grandes embates, que entregaram sempre uma carga extra de emoção às histórias de Kawahara. Ainda assim, o trabalho visual do longa proporciona uma experiência visual muito positiva para o público da tela grande.
Com exceção dos novos personagens e da história prelúdio de Asuna, o filme não traz muita novidade para o universo canônico de Sword Art Online. A produção deixa claro que a intenção não era prender o público pela inovação, apenas trazer mais detalhes de uma história já conhecida do início ao fim. Talvez a falta de uma reviravolta inédita deixe um gosto decepcionante para o espectador.
Tentando se equilibrar sobre erros e acertos, Sword Art Online Progressive: Ária de Uma Noite Sem Estrelas é um reencontro entre autor e obra que não beneficia o espectador fã da franquia. Ainda assim, o filme tem todos os elementos necessários para cativar um público que ainda não tenha contato com a história original, que canonicamente se passa em 2022. Apostando no tom introdutório, o longa-metragem caminha para ser o primeiro passo rumo a uma grande leva de filmes animados que mostrarão o lado B dos personagens além do protagonismo de Kirito.
Ano: 2021
País: Japão
Duração: 97 min
Direção: Ayako Kono
Roteiro: Reki Kawahara