Sabe quando se diz, de certo artista, que ele "fica ainda melhor ao vivo"? Bom, Olivia Rodrigo está no avesso dessa máxima cansada da crítica musical. Na verdade, no exato momento em que ela subiu no palco do Lollapalooza 2025, por volta das 22h15 desta sexta-feira (28), entoando os primeiros versos da eufórica "Obsessed", ficou claro que Olivia é muito - muito mesmo - melhor no estúdio.
Desde que sua "Drivers License" se tornou um hit inesperado no começo de 2021, desaguando em um par de álbuns engravados com genuínas pérolas de boa composição pop rock, ficou claro para todo mundo com dois ouvidos funcionais que a "moça da série de High School Musical" tinha talento para criar canções. O poder de uma boa canção, no entanto, só vai até certo ponto quando a lente favorável da melhor produção que o dinheiro pode comprar é substituída pelo holofote cruel de um palco gigante como o do Lolla.
Tudo isso é para dizer que Olivia, ao menos por hora, não segura o próprio repertório ao vivo. Os vocais da artista, embora dramaticamente expressivos e hábeis no timbre rasgado do pop punk (duas qualidades que os seus produtores sempre souberam sublinhar), saem esganiçados e recortados no microfone, como se ela estivesse constantemente buscando um espaço para respirar, esperando um momento de alivio que nunca vem. O falsete é um assobio fora de centro e quase (quase!) fora de tom, e o clímax das cançôes sempre é amaciado nos arranjos para que ela consiga executá-los sem tanto esforço.
Talvez insegura na consciência dessa dificuldade técnica, ela tenta compensar com uma energia afoita que - quando funciona - contagia o público para abraçar suas músicas como hinos de rebeldia. Na escalada alucinante de "Ballad of a Homeschooled Girl" funciona, e até a nota longa de "Happier" sai melhor do que a encomenda no calor do momento, mas canções mais difíceis, calcadas no dramático e na subida de tom, ficam devendo muito... e, infelizmente, as melhores do repertório de Rodrigo são justamente essas, baladas desesperadas de coração quebrado como "Vampire" e "Deja Vu".
Ademais, o próprio Lolla parece ter decepcionado a artista: ela se apresentou diante de um Palco Budweiser cheio pela metade e pouco barulhento, um mero fantasma da recepção que headliners passados receberam por aqui. E é uma pena, de fato - falo sem nenhum pingo de cinismo. Com um repertório cheio de criações pop cuidadosamente moldadas, e emblemáticas de uma expressão feminina e jovem de assertividade e honestidade puco representada no cenário atual, a Olivia do estúdio merecia um show que a representasse melhor.
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