À primeira vista, espanta que Justin Timberlake tenha subido no Palco Budweiser do Lollapalooza 2025, às 21h30 desse domingo (30), já cantando "Mirrors". Trata-se, afinal, do maior hit do cantor nos últimos 15 anos, com uma vantagem tão larga que a imensa maioria dos artistas a guardariam para o fim da setlist, mirando num gran finale de respeito. Mas é só pensar na posição em que Timberlake se encontra atualmente na carreira para entender por que ele achou necessária essa ofensiva de hits logo no topo de sua apresentação.
Se a entrada com "Mirrors" já foi emendada em "Cry me a River", outra canção assinatura de Timberlake que já tem algumas décadas de idade, é porque o cantor sente que precisa lembrar aos seus fãs das canções que os fizeram se apaixonar por ele. Os dois últimos álbuns de Timberlake, afinal (Man of the Woods, de 2018; e Everything I Thought I Was, de 2024), não produziram hits - sinal disso é quão infrequentemente canções deles apareceram no setlist de hoje. E sua reputação também não é o que costumava ser, diante de relitigações de polêmicas passadas com Janet Jackson e Britney Spears, além de deslizes recentes inteiramente próprios.
Timberlake, portanto, tem algo a provar, um público a reconquistar, um grito de relevância a levantar ("Hey, ainda é cool gostar de mim!"). E, honestamente? Ele poderia fazer pior do que nos relembrar de quando produzia algumas das canções pop mais simultaneamente grudentas e experimentais da indústria, principalmente porque está muito bem acompanhado na hora de executá-las no palco.
Flanqueado por uma banda numerosa, talentosa e (há de se dizer) quase toda negra, que só faz sublinhar o quanto do jazz e do R&B ele chupinhou em suas melhores eras, Timberlake está mais do que satisfeito em ser a face de uma banda competente com história para contar. Em alguns de seus maiores hits, inclusive, o cantor prefere dar um passo atrás e deixar seu extraordinário time de backing vocals (apelidados The Tennessee Kids) carregar a melodia. É o que rola em "Rock Your Body" e "LoveStoned/I Think She Knows", por exemplo.
E o resultado é sim uma boa jam session de 1h30 a céu aberto no Autódromo do Interlagos. Mas há um buraco no centro desse bolo, não? Na ânsia de relembrar o público de seus triunfos, Timberlake vai também se removendo da equação dessas memórias, conscientemente ou não. É talvez a natureza cruel do jogo que ele escolheu jogar: uma sensibilidade pop que não se renova, que não se prova vital, vai inevitavelmente morrendo.
Enfim, uma excelente banda cover de Justin Timberlake tocou no Lollapalooza 2025 na noite de hoje. Mas Justin, mesmo? Parece não ter saído de casa.
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