O Foster the People ama fazer música. Ora, evidente, o leitor pode pensar: não é como se ser músico fosse um empreguinho de escritório que só se faz para pagar as contas, afinal. Presume-se de quem dedica a vida a fazer música que a música seja uma vocação, uma paixão, um prazer - além, e talvez antes de, um trabalho. Mas se o Lollapalooza 2025 provou alguma coisa nos últimos dias, é que nem sempre essa alegria de estar ali, no palco, tocando, transparece tão fácil e tão clara quanto deveria.
De popstars a veteranos do rock, passando por fenômenos indie e apostas para o futuro, o Lolla 2025 preencheu um fim de semana com performances que - raras exceções - passam essa paixão pela música através de um filtro cinzento de cálculo mercadológico ou reputacional. Todo mundo tem algo a provar, algo a dizer, algo a superar... enfim, algum alvo milimetricamente definido que quer acertar. Todo mundo, aparentemente, menos Mark Foster e seus companheiros de banda.
Desde os primeiros minutos de show, quando uma introdução de sintetizadores graves desaguou na subida de tom cartunesca das cordas de "Lost in Space" - no timing preciso de um sorrisão indefectível que se abriu no rosto do vocalista - ficou claro que o Foster estava aqui pra curtir. E eles só sabem curtir tocando. Na altura em que percussão retumbante (além do baterista, a banda trouxe um segundo instrumentista para comandar um set de tambores mais graves) começou a trabalhar em harmonia perfeita com o synth para fazer de "Helena Beat" exatamente o arraso balançante que os fãs mais antigos lembravam, todo mundo estava curtindo com eles.
Longe de ser banda de um truque só, o Foster fez subir paredões de guitarra em "Miss You", dona de um pós-refrão que nunca cansa de crescer; se deixou levar pelos ritmos sinuosos da excelente "Coming of Age", que fez o vocalista arrancar o casaco e correr de um lado pro outro como o pós-adolescente tomado por nostalgia da letra; construiu viagens lisérgicas melancólicas e distorcidas em uma sessão no miolo do set; e ainda colocou o Autódromo de Interlagos para pular ao som dos hits propulsivos "Houdini" e "Pumped Up Kicks".
Não importa o que estivesse fazendo, no entanto, o Foster sempre parecia se entregar inteiramente à música que tinha nas mãos naquele momento. Se tocar ao vivo é sobre viver o agora, estar presente naquele local onde a mágica precisa acontecer - e de nada importa o que temos que provar a quem fora daqui -, eles sem dúvida fizeram o melhor show do Lollapalooza 2025. Dá até uma pontinha de esperança para o futuro, né?
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