Românticos Anônimos esconde drama envolvente sob cobertura de chocolate
Com casal charmoso e premissa instigante, série nipo-coreana virou hit na Netflix
Créditos da imagem: Cena de Românticos Anônimos (Reprodução)
Uma jovem e genial chocolateira, acometida de escopofobia (o medo irracional de ser observada), fica desamparada após o seu único amigo no mundo – e chef da confeitaria para a qual ela fornece chocolates, em termos de anonimato – falece inesperadamente. Logo depois, o herdeiro de uma marca de doces em crise, que sofre de afefobia (medo de tocar outras pessoas), assume o controle da confeitaria e expressa a intenção de desfazer esse contrato nada convencional com o “chocolateiro misterioso”. Na tentativa de manter o emprego, a moça vence seus medos e sai de casa para confrontar o novo “chefe”, mas no processo descobre que seus sintomas não se manifestam quando está com ele… e a recíproca é verdadeira.
A premissa de Românticos Anônimos, encapsulada no charmoso e envolvente capítulo inicial, é brilhante. Ponto para os roteiristas Kim Ji-hyun (Everybody Say Kungdari) e Yoshikazu Okada (Depois do Adeus), uma das muitas parcerias Coreia do Sul-Japão que definem a excelência da série da Netflix.
É verdade que a dupla de escritores se inspirou no filme franco-belga Românticos Anônimos, produzido em 2009, mas essa versão televisiva da trama adiciona detalhes importantes à receita: o desencontro entre as ansiedades sociais dos dois personagens, e a severidade delas, é um desses temperos; outro é a caracterização dos dois como almas gêmeas, de certa forma, uma vez que desarmam um no outro a característica que os impede de socializar com outras pessoas. Parece pouco, mas esses ajustes adicionam algo de caprichoso à história, um toque de conto de fadas que nos ajuda a entrar na sintonia correta para saborear o doce e o amargo (perdoem o trocadilho) do texto.
A oposição entre as performances centrais de Românticos Anônimos também faz parte desse carisma, é claro. Do lado sul-coreano, a irrepreensível Han Hyo-joo (Joia da Coroa, W - Dois Mundos) constrói uma protagonista inesperadamente solar, definida por gestos expansivos que contrastam bem com o nervosismo e postura compacta que ela adota em situações de ansiedade social – é por causa da credibilidade dessa oposição que compramos os momentos mais doloridos do primeiro episódio. Ao redor dela, o elenco japonês liderado por Shun Oguri (Gintama, Godzilla vs. Kong) colore os cantos da tela com um humor ácido e uma gravidade corporativa que é marcante da produção do país.
Sobra ao diretor Sho Tsukikawa (do live-action de Yu Yu Hakusho), por fim, a responsabilidade de equilibrar essa mistura de sensibilidades em um todo coerente, que não ofusque a ideia genuinamente valorosa que guia a trama – a de retratar distúrbios psíquicos sem estigma, com foco na possibilidade de viver uma vida completa enquanto se lida com eles.
Seguro dizer que, em todas essas frentes, Românticos Anônimos faz um trabalho bem feito. Embora não haja aqui nenhum arroubo de ousadia, seja estética ou narrativa, é difícil argumentar que esse ou qualquer outro floreio fosse necessário. Com charme e eloquência de sobra para conquistar o público, a série não precisa de muito mais.
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