Minha Juventude tem pulso firme no romance e na construção dos personagens
K-drama do Viki pincela temas interessantes já em seus primeiros episódios
Créditos da imagem: Song Joong-ki em cena de Minha Juventude (Reprodução)
É de impressionar a profundidade das sensações que Minha Juventude evoca já em seus primeiros dois episódios, lançados no Brasil pelo Rakuten Viki - e sem apelar para o melodrama, diga-se de passagem. Mérito do texto de Park Si-hyeon (Na Direção do Amor), onde a sugestão do trauma se faz tão real quanto um retrato mais frontal dele, e as trajetórias dos personagens se entrelaçam para dizer algo muito claro sobre o ambiente em que eles se encontram.
A trama: Sung Je-yeon (Chun Wo-hee, de The 8 Show) é a dedicada empresária de uma atriz de sucesso, Mo Tae-rin (Lee Ju-myeong, de Flores no Deserto). Para conseguir que sua agenciada dê o próximo passo na carreira, ela precisa se reconectar com um colega de escola, Hae Sun-woo (Song Joong-ki, de Vincenzo), que abandonou a indústria do entretenimento após infância como astro mirim. A ideia é trazê-lo de volta para uma participação especial na série onde Tae-rin está mirando um papel regular, mas o rapaz - agora um florista que vive no anonimato - não parece propenso a dizer “sim”.
Principal isca para atrair os fãs de k-drama para Minha Juventude, Song Joong-ki encontra um papel e tanto neste ex-ator que cavou a duras penas um espaço de dignidade justa e reservada na vida adulta. Expressando muitas das emoções reprimidas do personagem na postura e nos movimentos desajeitados, ele mantém uma expressão impávida e um olhar inquisitivo que fazem de Hae Sun-woo um (co-)protagonista tão misterioso quanto compulsivamente assistível. A aliança do espectador está sempre com ele, e é crucial que esteja.
Isso porque, de certa forma, Minha Juventude é a anti-narrativa de exaltação da indústria. De fato, o roteiro de Park tem ideias quietamente subversivas em seu retrato do mundo do entretenimento, caindo em cima da invasão de privacidade inerente a ele, da desvalorização de uma “vidinha comum” diante dessa idealização da celebridade. Até quando retrata os bastidores da TV o k-drama faz questão de deixar claro com quem está sua lealdade: esta é uma história dos trabalhos de formiguinha da indústria, do gerenciamento de egos e inseguranças que mantém ela rodando.
Nesse sentido, a insistência de Sun-woo em proteger sua nova vida em anonimato é totalmente compreensível, e as ameaças de Je-yeon a esse anonimato são vistas como são: infrações à escolha do outro, e um erro de cálculo carreirista. Que a partir desse desencontro de objetivos e intrusões se comece a construir um caso de amor é - como raramente acontece nos k-dramas românticos - genuinamente surpreendente, o que por sua vez só faz com que a jornada dos personagens na direção um do outro seja mais instigante.
Conduzido com firmeza pelo diretor Lee Sang-yeop (As Células de Yumi) - muito espertamente, ele preenche seus espaços urbanos com a poluição da publicidade, nos lembrando do mundo paralelo que existe àquele em que seus personagens caminham, e como um influi no outro -, Minha Juventude demonstra um controle raro para o gênero. Seja nos discursos ou nos personagens, a sensação é que essa é uma boa história em boas mãos, o que é mais do que meio caminho andado para um excelente k-drama.
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