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Excelente, Minha Estrela Encrenqueira fala só com os convertidos do k-drama

Da escalação aos detalhes técnicos, série do Viki é uma ótima piada interna

Omelete
4 min de leitura
19.08.2025, às 16H07.
Atualizada em 28.08.2025, ÀS 10H35
Uhm Jung-hwa em Minha Estrela Encrenqueira (Reprodução)

Créditos da imagem: Uhm Jung-hwa em Minha Estrela Encrenqueira (Reprodução)

Difícil imaginar o que alguém que não viu nenhum outro k-drama na vida - ou mesmo alguém que só viu os Round 6 e All of Us Are Dead desse mundo, os hits sul-coreanos inescapáveis do streaming brasileiro - poderia curtir em Minha Estrela Encrenqueira. Difícil entender também, no entanto, porque essa pessoa estaria apertando o play na nova série do Rakuten Viki. Não só a plataforma é especializada em conteúdo asiático, especialmente k-dramas, como também este título em específico não é um daqueles que vai ter (ou, a bem da verdade, quer ter) grande apelo de crossover. Daí que fica muito mais fácil perdoar Minha Estrela Encrenqueira por ser, essencialmente, uma grande piada interna.

Tudo começa na escalação truqueira para acabar com todas as escalações truqueiras: Uhm Jung-hwa interpreta Im Se-ra, uma mulher de meia idade que acorda no hospital em 2025, mas cuja última memória é ser uma jovem, premiada e popular atriz em 1999. A graça das cenas de Minha Estrela Encrenqueira estreladas por Uhm é ver uma das maiores estrelas da história da cultura pop sul-coreana vivendo uma mulher que age como se fosse a pessoa mais famosa do país… mas que, na verdade, ninguém ao seu redor reconhece. E melhor ainda é perceber que a cantora e atriz que eternizou hits como “D.I.S.C.O.” e Dra. Cha se entrega a essa proposta sem traço de vaidade.

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Talvez armada do seu próprio senso de ridículo sobre a fama, do alto de 56 anos de idade e 35 de carreira, a protagonista de Minha Estrela Encrenqueira permite-se rir de si mesma enquanto protege por trás da zombaria uma história que vale a pena ser contada: a de uma mulher mais velha tentando reencontrar-se numa arte pela qual é apaixonada, mas que não necessariamente está acessível para ela como estava na juventude. A série não pesa a mão ao contar essa história, pelo menos nesse primeiro momento, mas ela ainda está lá. É a segunda camada mais séria de uma brincadeira afetuosa com os chavões do k-drama, a cultura de fama que se constrói ao redor deles, e a fantasia que eles vendem.

Aí também entram em cena os flashbacks da série, em que vemos uma jovem Se-ra (Jang Da-ah, de O Jogo da Pirâmide) no auge de sua carreira, lidando com a adoração dos fãs, mas também a inveja dos colegas de indústria, os subtons abusivos dos bastidores, a pressão para ser levada a sério como atriz, um pai vigarista e uma irmã que não deseja a atenção atraída pela carreira dela. É quando a jovem estrela encontra um policial (Lee Min-jae, de Classe dos Heróis Fracos) disposto a ouvi-la, e os dois parecem ensaiar um romance. Por fim, é claro que Minha Estrela Encrenqueira também trata de reunir os dois em 2025, quando o rapaz é vivido por Song Seung-hoon (Black Knight).

Mais importante, no entanto, é notar como o diretor Choi Young-hun (Pandora: Além do Paraíso) se aproveita desses flashbacks para brincar com o formato e as expectativas do público. Filmadas em formato convencional para a TV em 2025 - ou seja, em widescreen -, essas cenas são compactadas para caber na tela quadradinha mais característica dos anos 1990. As tarjas pretas incluídas nos cantos da imagem, no entanto, são um pouco transparentes, provocando o espectador a entender que o restante da cena existe, mas está sendo deliberadamente escondido. E não foi uma decisão estética de última hora, como fica claro quando percebemos que Choi planejou as suas tomadas para centralizar os personagens, nunca deixando-os escapar pelas beiradas escurecidas da tela.

A ideia, portanto, era mesmo brincar com o formato televisivo quadrado e com o que ele deixa de fora - especular se é mesmo tão importante ter a tela cheia de informação, e de quais escolhas essa demanda estética da atualidade priva os artistas envolvidos no audiovisual. Desse primeiro jogo nascem outros, que vão se intensificando com o passar do primeiro episódio, seja na música (a última cena do capítulo tem uma surpresa inspirada nesse sentido), na montagem ou na coreografia dramática delicada que Choi pede de seus atores. Encenar a vida de estrela de sua protagonista como um k-drama antigo, em todos os cacoetes que ainda reverberam na atualidade, é um truque que vai fazer devotos do formato se divertirem à beça… e vai passar batido por todo o resto do público.

Não que isso seja um problema, é claro. Se você se encaixa no alvo pintado por Minha Estrela Encrenqueira, poucos k-dramas vão te entreter tanto quanto ele.

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