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Korea
Crítica

Harbin transforma luta por independência da Coreia em faroeste artesanal

Filme de Woo Min-ho empresta a linguagem do gênero para dar ritmo a história burocrática

Omelete
4 min de leitura
05.10.2025, às 08H00.
Cena de Harbin (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Harbin (Reprodução)

Em certa cena lá pelo terceiro ato de Harbin (sem spoilers, prometo!), um dos nossos heróis está em um trem, tentando enxergar discretamente os rostos de dois homens que conversam há alguns vagões de distância. Enquanto ele espia por cima do ombro para tentar distingui-los, as curvas do caminho fazem as divisões sanfonadas do trem esconderem e revelarem aos poucos as feições que ele tenta discernir, num jogo de cena que o diretor Woo Min-ho (Infiltrados, O Homem ao Lado) claramente acha delicioso.

É na concepção e execução desse tipo de cena que o épico histórico de Woo se destaca. Harbin, em alguns momentos, é quase um poema tonal – uma narrativa mais ditada por atmosfera e sugestão do que ação. Aí brilha um time de bastidores que representa o melhor do artesanato no cinema sul-coreano atual: na fotografia, Hong Kyung-pyo, parceiro de Bong Joon-ho em Parasita e Lee Chang-dong em Em Chamas; na trilha sonora, Cho Young-guk, colaborador de Park Chan-wook desde Oldboy; e por aí vai.

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Esses profissionais fazem escolhas que ajudam, primeiro, a evocar a gravidade de uma história que tem suma importância para o público sul-coreano. Harbin acompanha um grupo de rebeldes militarizados, liderados pelo nobre Ahn Jung-geun (Hyun Bin), que lutam contra a ocupação japonesa na Coreia no início do século XX. O filme abre com uma derrota desoladora dos rebeldes em campo de batalha, entrecortada com a posterior reunião onde o grupo decide um curso de retaliação e começa a planejar o assassinato de Ito Hirobumi (Lily Franky), uma importante autoridade japonesa.

Já nessa abertura o time de bastidores de Harbin demonstra brilho – a câmera de Hong faz milagres no interior esfumaçado do bar de porão onde os rebeldes se encontram para confabular –, mas é na 1h30 que se segue que a primazia técnica do filme se impõe. Isso porque, a partir dali, Harbin basicamente se transforma em um faroeste.

Ahn e seus comparsas precisam, afinal, atravessar desertos, vilarejos e montanhas nevadas para chegar até Harbin, cidade no nordeste da China que nessa época estava sob controle dos russos, e para a qual Hirobumi está viajando em missão diplomática. No caminho, eles encontram almas quebradas pelo colonialismo, conhecem melhor as próprias histórias enquanto tentam decidir se podem confiar uns nos outros, e são perseguidos insistentemente por um cruel soldado japonês (Park Hoon, ótimo no papel).

Nas mãos do diretor Woo, também corroteirista com Kim Min-seong (Força Bruta), essa jornada adere com prazer às convenções do bangue-bangue. Sempre belamente vestidos com sobretudos e chapéus que escondem parte dos seus rostos, esses rebeldes com causa derretem por baixo da casca-grossa da masculinidade e do trauma, bandoleiros-caubóis que proclamam um código de honra, mas são engolidos pelo desejo justo de revanche, e de libertação. Violento e por vezes desagradável, Harbin é talvez um faroeste revisionista, mas não deixa de ser um faroeste.

E que bela decisão criativa, essa de se apoiar nos códigos de um dos gêneros mais intrinsicamente melodramáticos da ficção para contar uma história real que – como tudo na realidade – tem algo de burocrático enterrado por baixo de suas excelentes intenções. Veja a subtrama envolvendo um vira-casacas no grupo dos rebeldes, por exemplo. Com esse dado histórico em mãos, Harbin poderia muito bem ir pelo caminho óbvio de se vestir de thriller de espião cerebral à la O Homem Que Sabia Demais. Mas aí, também, ele teria se encurralado em um terrível anticlímax, porque as linhas nunca se conectam na realidade com o mesmo flair satisfatório de um livro de John Le Carré.

O faroeste, por outro lado, permite mais o acaso, e o romancesco. As tramas que Harbin tece não precisam se juntar num gran finale operático – elas acontecem, às vezes por pura sorte, e nós só observamos a devastação que elas deixam para trás. Que essa novela seja tão extraordinariamente executada ajuda muito, é claro.

*Harbin foi exibido no KOFF - Korean Film Festival 2025, que acontece em São Paulo entre os dias 2 e 8 de outubro. Confira aqui informações de programação e ingressos.

O título não tem previsão de estreia no circuito comercial brasileiro. 

Nota do Crítico

Harbin

하얼빈

2024
108 min
País: Coreia do Sul
Direção: Woo Min-ho
Roteiro: Kim Min-seong, Woo Min-ho
Elenco: Jo Woo-jin, Jeon Yeo-been, Park Jeong-min, Hyun Bin, Lee Dong-wook
Onde assistir:
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