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Hit-Girl | Crítica

Minissérie só existe para cumprir demanda

22.03.2013, às 16H46.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H41

Se a grande cena de Hit-Girl em Kick-Ass, a HQ original, era a em que ela aproveitava sua diminutez para atirar pelos fundilhos do bandido, o equivalente "artístico" na sua minissérie própria envolve um rolo de massa.

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Não sei dizer se rolos de massa já haviam sido utilizados para aquele fim, nem se podem ser utilizados para aquele fim, tampouco se uma menininha de doze anos teria força para fazer aquilo com um rolo de massa. Mas, enfim, é o contrato de leitura de Kick-Ass: enquanto o personagem título tende para o realismo o-que-aconteceria-se-um-nerd-resolvesse-virar-super-herói (resumo: ele só se fode), Hit-Girl é a contraparte fantasiosa/eye-candy da menininha empunhando armas e massacrando geral. E invencível.

A minissérie solo de Hit-Girl é um prelúdio de Kick-Ass 2 (a HQ) mas acabou saindo depois desta. Há várias explicações para isso - desde Mark Millar não ter previsto o destaque da menina até uma mudança de planos quanto ao desenhista contratado originalmente para a mini derivada. A versão mais cínica é que o filme Kick-Ass 2 precisava de mais história, forçando Millar a escrever qualquer coisa com sua personagem hit antes que alguém dissesse que ele copiou do filme.

E "qualquer coisa" parece ter sido a diretriz do roteiro. Mindy, 12 anos e 3 meses, está proibida pelos pais de ser Hit-Girl. Mas as bullies do colégio não a deixam em paz, os mafiosos de Nova York querem vingança e Dave, o Kick-Ass, precisa de treinamento. Considerando que os leitores já leram Kick-Ass 2, que se passa depois, sobrou um intervalo apertado para Millar trabalhar. Mas, enfim, ele precisava porque precisava fazer uma minissérie da Hit-Girl.

Então rolam cenas previsíveis da menininha vingando-se das bullies, encontrando formas criativo-sanguinárias de matar gângsters e, ao mesmo tempo, tendo que esconder tudo isso dos pais. Os diálogos bem sacados, característica forte de Millar, tentam maquiar a trama pobre. Não dão conta.

Um subplot que atravessa as edições, porém, vira a melhor piada da mini: a "jornada do vilão" de Red Mist, o filho de mafioso que virou algoz de Kick-Ass. "Eu vou viajar o mundo inteiro que nem o Bruce Wayne e vou pagar pros mestres antigos pra me ensinar artes marciais. Vou aprender um monte de idiomas, virar cientista brilhante, botar músculo até não poder mais e comprar uma caralhada de traquitrana foda", ele jura. O resultado da viagem é o tipo de deturpação de clichê em que Millar se esmera.

John Romita Jr. topa o tom irrealista de Hit-Girl e faz páginas mais caricaturescas que as de Kick-Ass. Que nem nos Peanuts, as crianças têm a cabeça desproporcional ao corpo. Personagens adultos também estão menos realistas (Romita Jr. é creditado por breakdowns, ou seja, desenhos mais soltos, sendo que o arte-finalista Tom Palmer é creditado com finishes). O colorista Dean White também assume um outro tom, lembrando mais pintura em aquarela do que as cores chapadas das outras minis da franquia.

Hit-Girl virou uma personagem mais famosa que o herói titular Kick-Ass (talvez por ser mais irreal que ele). Mas como ainda é personagem secundária - e tendo que continuar secundária porque a franquia cinematográfica chama-se Kick-Ass, não Hit-Girl - ganhou uma aventura só para dizer que tem, feita a toque de caixa e enfiada de qualquer jeito no meio da trilogia kickassiana prevista inicialmente por Millar. A ironia é que, enquanto a série com seu nome é fraca, é ela que acabou roubando a cena quando o título da HQ (ou do filme) é Kick-Ass.

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