Talento eletrizante do Golden Child é soterrado por produção de show equivocada

O Golden Child é brilhante ao vivo. O grupo chegou a São Paulo, para apresentação no VIP Station na última sexta-feira (25), desfalcado: o líder Daeyeol está fora da turnê por conta do serviço militar obrigatório, enquanto Bomin está se recuperando após sofrer uma fratura no rosto que exigiu cirurgia. Mesmo assim, os oito rapazes remanescentes brilharam nas coreografias intrincadas e dinâmicas de muitos dos maiores sucessos do Golden Child, entrelaçando braços e pernas no palco, executando formações inesperadas e se dividindo em unidades que tomavam os holofotes no centro do palco em partes diferentes de cada canção.

Energia e carisma não faltaram nas performances de “Wannabe”, “Pump It Up” (uma das preferidas do fandom, e por boas razões - ao vivo, a alegria da faixa é contagiante) e “DDARA”, dona de uma das coreografias mais classudas e graciosas do k-pop contemporâneo. O rapper Tag, com sua silhueta comprida e seus olhares fatais para o público, provou a cada faixa ser a verdadeira estrela do grupo, levantando a energia da plateia - e reforçando o magnetismo das canções eletrônicas climáticas do Golden Child - sempre que seus versos apareciam.

No campo vocal, Y e Joochan emprestam potência para o grupo, mas não há elo fraco. Do mais baixinho dos oito, Seungmin, sai um tom aéreo que, vez ou outra, alcança notas extraordinariamente agudas; e até os rappers Tag e Jangjun se arriscam nas melodias e tomam a frente em alguns dos refrões, sem fazer feio. Não à toa, o show do Golden Child conta com uma sessão em que os integrantes recebem pedidos de música da plateia e os atendem a capella, esbanjando harmonizações e provando que a acusação de playback, recorrentemente levantada contra os grupos de k-pop, não se aplica.

Não só o Gol-Cha tem qualidade, como também um repertório recheado de épicos de pista de dança surpreendentemente melódicos. Além das faixas já citadas, a setlist ainda contou com “Ram Pam Pam”, com seu sabor de reggaeton acelerado (influência latina reconhecida por um dos integrantes no palco, inclusive); e o single mais recente do grupo, “Replay”, chefiado por um refrão estratosférico, dono de uma das viradas melódicas mais eletrizantes do pop recente. Essa é a palavra para o Golden Child quando ele está operando em sua força total, aliás: eletrizante.

O problema é que, em duas horas de show no VIP Station, esse Golden Child brilhante apareceu muito pouco. Ao invés de deixar os rapazes fazerem o que fazem de melhor, a produção privilegiou interações simplistas com o público (um sorteio em que os vencedores nem subiram ao palco, por exemplo) e até a exibição de longos vídeos em telão que podem, inclusive, ser encontrados no canal de YouTube do grupo. Veteranos de shows de k-pop sabem que essa inclinação populista faz parte do espetáculo, mas aqui a divisão de tempo pareceu simplesmente equivocada, preguiçosa e, acima de tudo, sem visão.

Isso porque o Golden Child é tão, mas tão bom, que cada segundo deles fora do palco - ou no palco, mas trocando performance por gracinha ou conversa - pareceu um segundo jogado fora. Não que o fã tenha saído decepcionado, mas quando aquele arrepio subiu pela espinha ao ver o Golden Child no auge de suas habilidades, bom… ficou difícil não querer mais.