Séries e TV

Artigo

A televisão depois de 11 de setembro

A televisão depois de 11 de setembro

11.09.2002, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H40

24 horas

The Agency

Arquivo X - Resista ao futuro

Third Watch

The Shield

Ninguém foi mais presente do que a TV naquele dia de setembro. Foi por meio dela, na última olhada antes de sair para o trabalho, que os americanos tomaram contato com o que imaginavam impossível. Em todo o mundo, a imagem um milhão de vezes repetida das torres desabando, sempre acompanhada de narradores e comentários foi a principal marca do 11 de setembro de 2001.

O primeiro impacto, obviamente, deu-se sobre o noticiário. Programação normal suspensa, a TV dedicou todo o seu tempo à cobertura do que acontecia em Nova York e Washington. Por quatro dias, nenhum comercial deu lucro a uma indústria habituada eliminar de sua grade qualquer coisa que não responda com cifrões a cada minuto de exibição. Muitos redescobriram o trabalho jornalístico, o valor do correspondente no local. Cabo e TV aberta até hoje discutem quem fez a melhor cobertura e quem teve os melhores analistas.

VÍTIMAS DO CANCELAMENTO

Logo depois vieram os cancelamentos e adiamentos. Em primeiro lugar, devido ao fato de que todo o horário estava ocupado com a cobertura do que acontecia no Ground Zero. Em Washington, a grade de exibição tomou contornos doentios, onde executivos. Produtores cortavam qualquer tema que supostamente aumentasse o trauma das pessoas. A intenção era evitar a rejeição do público que, sem desviar os olhos da fumaça do World Trade Center, não deixaria de assistir à TV.

A vítima mais famosa foi 24 Horas, da Fox, com Kiefer Sutherland. Anunciada por uma maciça campanha de marketing, prometia ser o grande sucesso da temporada. No entanto, a série não só tinha o terrorismo como ponto central como incluía a explosão de um avião em seus primeiros episódios. Na época, nem se divulgava que o enredo envolveria a vingança contra um serviço sujo americano em solo estrangeiro.

Os outros adiamentos seguiram a mesma linha, atingindo Alias, produção da ABC com Jennifer Garner, e The Agency, série sobre os bastidores da CIA, que conta com o apoio e informações da própria Agência. Em seu primeiro episódio, mostrava a loja Harrods de Londres como alvo de um ataque terrorista. Talvez as cenas não chocassem tanto os europeus, vítimas históricas de ataques do IRA, ETA, Brigadas Vermelhas e outros grupos quando os Estados Unidos ainda achavam que terrorismo era o que acontecia em outros países.

Em seguida, foram canceladas também as reprises de Arquivo X - Resista ao futuro, devido à cena logo no início em que o prédio de escritórios explode, e de O pacificador, que termina com um ataque nuclear em Manhattan. Independence day também foi retirado da grade. Na nova onda patriótica antitraumas, a cena de destruição da Casa Branca não mais gerava assovios e aplausos como se viu em alguns lugares quando o filme foi exibido no cinema.

O ATAQUE DA CENSURA

No rastro da proibição, a TV inglesa fez uma varredura em sua programação, tirando do ar filmes e programas com temas como terrorismo, bombas e explosões. Seguiu-se a isto, uma verdadeira caças às bruxas, com comentaristas esportivos proibidos de usar durante os jogos palavras como combate e batalha, listas de músicas que deveriam ser evitadas e outros exageros.

Os primeiros analistas acreditaram que este seria o novo caminho da TV, com a diminuição da violência e um apego do público a programas familiares, como o clássico I love Lucy, ou o longa Uma babá quase perfeita, alguns dos que substituíram a programação cancelada. Como prova, citavam a atitude da FEDEX de cortar o patrocínio do programa Politically incorrect (Politicamente incorreto) depois que o comediante Bill Maher disse que os americanos, e não os terroristas, eram covardes por atacar com mísseis enquanto ficavam seguros a quilômetros de distância.

RETOMANDO O DIA A DIA

O tempo, no entanto, continua sendo o melhor dos remédios e os índices de audiência, os mestres da programação. Os eventos de 11 de setembro foram pouco a pouco deixando de ser condutores de roteiros para se tornarem nota ao longo da históri. Os que esperavam mudanças radicais foram largados pelo caminho.

Logo após o ataque, The West Wing dedicou um episódio inteiro ao assunto, Third watch escolheu mostrar seus bombeiros de mentira entrevistando bombeiros de verdade e muitas produções paravam para decidir se e como incorporar os fatos à ficção. Não tardou muito, porém, para 11 de setembro ser mencionado apenas uma citação de passagem.

Não houve queixas por Friends e Will & Grace ignorarem o ocorrido. E, embora alguns apontem as novas séries ambientadas nos anos 60 - American dream e Oliver Beene - como conseqüências dos ataques, é sabido que programas ambientados em outras épocas são uma aposta certa para um público saudosista.

Quanto à violência na TV, o primeiro episódio de The shield, seriado indicado a vários prêmios Emmy, mostra que seu emprego ainda rende bom drama e boa audiência. E, apesar de anunciar que a próxima ameaça será contra a Casa Branca, a segunda temporada de 24 horas conta com apoio suficiente de um patrocinador de peso para estrear com um episódio sem comerciais.

QUESTÃO DE TEMPO

Mudanças, se de fato ocorreram, foram temporárias e sutis. Se serão reavivadas com o despejo de uma tonelada de especiais e cerimônias na TV desta quarta-feira, logo serão alvo de escrutínio menos apaixonado.

No jornalismo, alguns sentem que os profissionais ganharam uma injeção de ânimo, trocando escândalos como o de Gary Condit pela cobertura dos ataques e maior espaço para a situação internacional. Enquanto isso, os produtores de ficção fizeram sua parte ao admitir o evento e seguir em frente. E se, até o momento, Scott Bakula, Kiefer Sutherland, Richard Dean Anderson ou algum novato canadense com a quantidade certa de músculos não foi escolhido para um longa das muitas histórias do 11/09, é apenas uma questão de tempo.

O show é business e o show não pode e nem vai parar.

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