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Este não é o Peter Parker que eu conheço

20.06.2006, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H40

Este não é o Peter Parker que eu conheço

Aviso: Se você não está acompanhando os eventos recentes relativos ao evento Marvel "Civil War", não leia o texto abaixo.

Preciso ser honesto. Quando nosso caríssimo editor Marcelo Forlani me disse que minha coluna seria postada essa semana - na verdade, semana passada - fiquei um tanto quanto preocupado. Por incrível que pareça, devido a fatores que não vêm ao caso, eu não tinha sequer um assunto do qual falar. Pensei em falar sobre álbuns instrumentais, mas não tive tempo para escutar e analisar os pré-selecionados; pensei em escrever algo relacionado aos X-Men, mas, francamente, já tinha escrito o bastante sobre os mutantes no especial que fizemos recentemente; me veio à mente comentar algo sobre o vindouro filme do Super-Homem, mas nada que me empolgasse o suficiente. Estava quase desistindo e avisando que faria um artigo sobre a Alemanha, aproveitando o gancho da Copa do Mundo para falar de boas bandas de rock e heavy metal - algumas bastante conhecidas do omelenauta assíduo - que vêm da terra da cerveja. Quando selecionava o material de pesquisa para isso, me cai uma bomba no colo: Peter Parker, o Homem-Aranha, revelou sua identidade ao mundo. E aí eu tinha justamente o tema ideal para essa coluna.

Ainda estou digerindo a notícia, é verdade. Num primeiro momento, fiquei um tanto quanto surpreso e mesmo indignado como fã de longa data. Se eu disser que esperava que isso acontecesse, é mentira. No entanto, alguns fatos há algum tempo já apontavam para que algo assim fosse acontecer e, por incrível que pareça, acredito em Mark Millar quando ele diz que a idéia para isso veio de Joe Quesada. Antes de entrar na minha teoria a respeito, vamos a alguns esclarecimentos:

Peter Parker revelou sua identidade ao mundo como apoio ao Homem de Ferro e o programa do Governo estadunidense que quer registrar todos os indivíduos superpoderosos que atuam dentro de suas fronteiras. O programa, motivado depois de um acidente envolvendo os sumidos Novos Guerreiros, dividiu o Universo Marvel em duas facções: uma pró-governo - liderada pelo Homem de Ferro - e outra contra, a dita Resistência, cujo líder, por incrível que pareça, é o Capitão América. É, meus caros omelenautas, o soldado resolveu ir contra o governo do país que tanto ama. Ponto para quem teve essa idéia.

Isso tudo faz parte do mega-evento Marvel do ano "Civil War", que todo mundo deve estar acompanhando, nem que seja de longe, como eu. Segundo Mark Millar, que além de ser um tremendo escritor é também um grande marqueteiro, o evento será comentado pelos leitores por anos. A revista Civil War #2, que trás a revelação de Peter, já tem causado um grande burburinho.

Esclarecimentos terminados, quero relembrá-los de que Joe Quesada, o suposto mentor desta idéia, é contra o fato do Homem-Aranha ser casado. Há algumas semanas Quesada postou em sua coluna semanal no site Newsarama um longo artigo pesando os prós e contras de ter Peter Parker casado e como poderia resolver esse imbróglio sem causar muitos traumas aos fãs. Quesada disse que se encontrava num beco sem saída, porque, se um Peter Parker casado era ruim, um Peter Parker divorciado seria pior. A situação era desconfortável, mas ele teria que aprender a conviver com ela... Ou será que não?

Quem é fã de longa data do Homem-Aranha, como eu, sabe que Peter nunca revelaria sua identidade ao público com medo de represálias não contra a si, mas contra seus entes queridos. Basicamente, sua esposa Mary Jane e sua tia, May. Segundo minhas fontes, parece que esqueceram de avisar sobre o fato de que uma revelação pública estava sendo planejada, porque uma semana antes de Civil War 2 chegar às bancas, a série derivada, Frontline, que mostra a guerra pelo ponto de vista de dois repórteres, trouxe Peter fazendo um discurso justamente sobre esse mesmo assunto. Millar deve ter esquecido de pedir a Quesada que desse um toque no escritor de Frontline, Paul Jenkins, a respeito.

De qualquer forma causa muita estranheza o fato de Peter fazer essa revelação depois de anos e anos escondendo sua identidade justamente para proteger aqueles a quem ama. Quem leu a série "Espetacular Homem-Aranha", escrita justamente por Millar, sabe o que acontece quando uma pessoa simplesmente ameaça espalhar o segredo de Peter. Ele endoida e perde o controle. Imagina se o mundo todo toma conhecimento de que Peter Parker é o Homem-Aranha. Quanto tempo vocês acham que levaria pra Electro, Abutre, Homem-Hídrico, Bumerangue, Homem-Areia e mesmo pesos pesados como o Dr. Octopus usarem seus recursos para uma pequena pesquisa - tem computador e Google em qualquer lugar - pra saber quem atacar? Porque atingir o Homem-Aranha diretamente é difícil, mas sua esposa e tia são pessoas comuns. "Ah, mas agora o Aranha é um Vingador e May e MJ vivem na Torre Stark e estão protegidas por caras como o Homem de Ferro e o Sentinela. E ainda tem aquele mordomo durão, o Jarvis", vocês podem dizer. E concordo com vocês. Porém, vocês acham mesmo que May e MJ aceitariam ficar confinadas na Torre Stark pelo resto de seus dias numa espécie de prisão domiciliar? Ou que Sentinela e Homem de Ferro topariam ser guarda-costas toda vez que MJ fosse fazer uma sessão de fotos, peça ou coisa parecida? "Ah, mas aí a SHIELD entra em cena e designa alguém pra cuidar delas". Já até imagino o tipo de guarda-costas que a SHIELD designaria. Provavelmente Silver Sable ou o Armadilho.

Pra mim, tudo isso, parece um esquema para tornar Peter Parker solteiro de novo. Não a "Civil War" em si, ela é apenas mais um evento em uma editora que atualmente parece direcionada a ter um "grande evento" todo ano. Não só a Marvel, com seu "Vingadores: a queda", "House of M" e agora "Civil War", mas também a DC e sua "Crise de identidade" e "Crise infinita". Pensem comigo: Peter Parker revela sua identidade ao mundo. Um dos seus incontáveis vilões - ou uma nova versão do Sexteto Sinistro - ataca a torre Stark quando essa estiver menos protegida e pronto. Temos um Peter Parker viúvo. Ou solteiro, como quer Joe Quesada.

Minha teoria, no entanto, é quase que pura especulação, baseada nas declarações de Quesada nos últimos tempos e, de acordo com um amigo, tem uma falha: Mark Millar, um dos escritores mais imprevisíveis do mercado atual geralmente vai contra todas as expectativas. Por outro lado, "Civil War" terá sete números - assim como suas co-irmãs citadas acima, o que me faz pensar que sete é o número de sorte de Marvel e DC - e na edição de número 6 o Homem-Aranha mudar de lado e se junta à Resistência. Pra um cara como Peter Parker mudar de lado repentinamente, das duas uma: ou a Marvel deixou Millar descaracterizar completamente o personagem - a exemplo do que Garth Ennis fez quando escreveu o gibi do Justiceiro antes dele ser transferido para o Marvel Knights - ou acontecerá mais um evento traumático na vida do herói. Quem conhece o Aranha sabe que "evento traumático = fizeram alguma coisa com a minha família". Como a família de Peter se resume à MJ e May, é bem provável que alguma coisa aconteça a uma delas, em conseqüência dessa revelação. Meu palpite vai pra esposa, já que a tia não é mais assim tão popular.

Só espero que, no final das contas, não só eu esteja errado como tudo isso não passe de mais uma Marvelice e, num passe de mágica, todos acabem esquecendo que Peter é o Aranha. Porque todos temos visto o que o Demolidor tem sofrido depois de ter revelado - mais ou menos - sua identidade. As histórias melhoraram? Pra caramba! Isso vai durar? Duvido. Uma coisa é o Quarteto Fantástico ter sua identidade publicamente conhecida. Seus inimigos querem saber é de conquistar o mundo, dominar o universo ou alguma coisa bem megalomaníaca - e, na boa, estúpida. Dominar o mundo pra quê? Tem que ser muito tapado pra querer tanto problema assim na vida. Já heróis como o Aranha e o Demolidor têm inimigos mais "pé no chão". Depois de apanhar tanto, uma vingançazinha bem arquitetada já está de bom tamanho. Eles querem é acertar onde dói. E, no caso do Homem-Aranha, dói mais em sua família do que em qualquer outro lugar.

Isso é pelo menos o que eu faria se fosse um supervilão que soubesse a identidade de meu maior inimigo. Se o Universo Marvel quer mesmo se tornar mais próximo possível da realidade, deveria considerar certos fatores antes de exercer tanta mudança no status quo. Porque pode não ser muito fácil fazer tudo voltar ao normal depois da cagada feita.

Por outro lado, essa revelação pode trazer boas histórias, o que é o que todos nós queremos quando pegamos o gibi sagrado de cada mês nas bancas. Como leitor velho de casa, no entanto, tenho certas dúvidas a respeito de onde a revelação da identidade do Homem-Aranha pode levar suas histórias. O jeito é esperar pelo pior, mas torcer pelo melhor.

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