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Marvel Século 21 estréia por cima

Marvel Século 21 estréia por cima

20.09.2001, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H40
Quando Joe Quesada assumiu o cargo de editor-chefe da Marvel, a expectativa era a de que ele levasse a editora a novos rumos, repetindo o sucesso do selo que já estava sob seu comando, Marvel Knights.

E novos rumos, houve, haja vista a contratação de editores como Axel Alonso e Stuart Moore, bem como de equipes criativas de renome para as franquias X-Men e Homem-Aranha. No entanto, dentre todas as mudanças que o novo manda-chuva efetuou, talvez a mais promissora tenha sido o projeto Ultimate Marvel. Esta nova linha de publicações visou reapresentar, num primeiro momento, o Homem-Aranha – o herói mais querido da editora – e os X-Men – cuja popularidade aumentara sensivelmente graças ao filme – a uma geração de novos leitores. A intenção era torná-los produtos inteiramente ajustados ao contexto do milênio que se inicia. Logo de saída, os dois títulos da nova linha – Ultimate Spider-Man e Ultimate X-Men – chamaram a atenção. Saltava aos olhos a qualidade e a agilidade de suas histórias.

Michael Brian Bendis & Bill Jemas (texto), Mark Bagley (desenhos), Art Thibert (arte-final) e Steve Buccelato (cores) assumiram a difícil missão de catapultar para o ano 2000 a origem do herói aracnídeo criado por Stan Lee e Steve Ditko nos anos 60; tarefa um tanto quanto ingrata, se lembrarmos que, recentemente, John Byrne tentou o mesmo, sem sucesso, com sua Spider-Man: Chapter One, no Brasil, publicada na falecida A teia do Aranha, sob o nome de Homem-Aranha: Gênesis.

Num primeiro momento, pode-se dizer, sem medo de errar, que Bendis, Bagley & Cia. realizaram um bom trabalho. A caracterização das personagens é primorosa. Peter Parker é o mesmo CDF de sempre, solitário e vítima das brincadeiras truculentas de Flash Thompson – que na nova versão “cabelo de cuia” lembra bastante Guy Gardner – e seu companheiro, Kong. Os óculos permanecem, mas o terninho e as roupas mais sóbrias dos anos 60 foram sabiamente descartadas. Como todo adolescente, Peter usa camisetas, jeans e tênis. Harry Osborn, filho de Norman, ainda é o melhor amigo de Peter, como o era na versão de Stan Lee, mas, tal qual Mary Jane, convive com ele desde o colegial e não desde a faculdade. Ao contrário da original, a menina é aluna aplicada, mas mantem a mesma quedinha pelo futuro herói aracnídeo. É provável que Gwen Stacy não figure nessa nova versão, já que MJ é mais popular do que a loirinha entre os fãs recentes do Aracnídeo. O Tio Ben e a Tia May, também foram modernizados. Ele ficou mais magro, ganhou óculos e um rabo-de-cavalo. É uma figura ao mesmo tempo sóbria e moderna, sendo o principal ponto de apoio de Peter; já a boa senhora não sofreu tantas modificações visuais, mas sim de personalidade. Deixou de ser a velhinha ingênua e avoada da versão original para ser mais antenada com a vida de hoje. Fechando o time de personagens que aparecem na primeira edição, temos Norman Osborn, o mesmo empresário ganancioso e inescrupuloso que estamos acostumados a ver nas histórias do Aranha.

A história em si começa quando as Indústrias Osborn estão desenvolvendo e testando uma nova droga chamada OZ. A cobaia da vez é uma aranha alterada geneticamente que, por descuido de um dos assistentes de Norman, acaba fugindo de seu confinamento. Dias depois, a turma de Peter Parker é recebida na sede empresa para uma visita. Durante o evento, a aranha fugitiva pica o franzino Peter Parker.

Nos dias seguintes, o jovem sofre sensíveis mudanças. Ao se esquivar de mais uma das brincadeiras da dupla Flash/Kong, ele desmaia. Ao ser levado para o hospital, uma amostra de sangue é colhida, roubada e levada para Osborn, que decide mantê-lo sob vigilância. O vilão descobre que a picada da aranha contaminada estava matando o menino. Como isso poderia ser um entrave tremendo em suas pesquisas, Norman manda um de seus capangas eliminá-lo. E é aqui que vemos uma bela adaptação do acidente de carro que despertou os poderes de Peter pela primeira vez na versão de Lee/Ditko. Conseguindo escapar e tendo sua sentença de morte revogada por Norman Osborn, que prefere mantê-lo sob vigilância ainda maior, Peter descobre que a picada da aranha havia, de alguma forma, causado alterações significativas. O próximo passo seria descobrir quais e quão profundas teriam sido essas mudanças...

Os X-Men, por sua vez, foram entregues às mãos competentes do consagrado roteirista de Authority, Mark Millar, ao desenhista Adam Kubert, ao mesmo arte-finalista Art Thibert e ao colorista Richard Isanove.

A histeria anti-mutante está em alta principalmente depois da explosão do Capitólio perpetrada pro Magneto e sua Irmandade de Mutantes. Como medida de retaliação, o governo americano libera os Sentinelas, robôs caçadores de mutantes, como a arma definitiva contra essa ameaça à humanidade. Para evitar a guerra que se aproxima, Charles Xavier, um telepata que julga possível a convivência pacífica entre humanos e mutantes, decide recrutar um bando de párias a fim de formar a equipe que viria a ser conhecida como os X-Men. Para tanto, emprega os talentos telecinéticos de Jean Grey – irreconhecível em seu novo visual, com cabelos curtos e piercings.

Assim, de San Diego, vem o primeiro a ser “alistado”: Hank McCoy, um mutante com agilidade incomum, evidente pelo tamanho descomunal de suas mãos e pés; em Atenas, Texas, Jean tira da cadeia Ororo Munroe, uma ladra de carros com o dom aparente de influenciar o clima; de NY, vem o russo Piotr Rasputin, um traficante de armas a serviço da máfia russa, capaz de transformar suas carnes em metal orgânico. A todos eles, junta-se Scott Summers, já aluno de Xavier, cujos olhos emitem poderosas rajadas óticas. Adotando respectivamente os codinomes de Garota Marvel, Fera, Tempestade, Colossus e Ciclope, a equipe é apresentada a Charles Xavier e enfrenta sua primeira missão, resgatar Bobby Drake, um mutante que havia fugido de casa quando seus poderes se manifestaram. Os X-Men tem que lutar contra o tempo para salvar o menino da fúria dos Sentinelas. A essa altura, no entanto, Magneto já tomou consciência das atividades dos X-Men e decide recrutar um assassino Wolverine para eliminar a ameaça de Xavier...

A influência de X-Men – o Filme sobre o trabalho de Millar & Kubert é evidente. A começar pelos uniformes dos X-Men. Roupas de couro preta substituíram os clássicos trajes amarelos e pretos, bem como alguns arroubos policromáticos da antiga versão. A formação inicial dos X-Men também foi influenciadas pela película. Afinal, Ciclope, Tempestade e Jean formavam a base da equipe nas telas. Wolverine deve se integrar aos X-Men no próximo número. Já a Irmandade de Mutantes respeita mais a escalação original, sendo formada por Magneto, Feiticeira Escarlate, Mercúrio e Groxo que, como no filme, tem uma língua poderosa e pegajosa, ausente na sua versão anterior nos quadrinhos.

Apesar do título meia boca, Marvel Século 21 tem tudo para agradar gregos e troianos, ou melhor, novatos e veteranos; o primeiro grupo, por ser apresentado a personagens do qual tanto ouviram falar, mas que às vezes tinha preguiça de conhecer mais a fundo, devido ao fato de suas histórias serem um tanto quanto complicadas para marinheiros de primeira viagem. Já para o segundo grupo, é sempre legal ver como a nova geração de escritores adapta seus ídolos clássicos para os tempos modernos; desde que, é claro, respeite-se o original.

Nota Omelete
3 ovos e uma gema

Marvel Século 21
Editora Abril
Setembro de 2001
100 páginas - R$ 4,50.


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