Omelete entrevista: Avi Arad

Não é todo dia que se conversa com um dos executivos mais importantes de Hollywood. E pelo jeito, não é a qualquer hora também. A entrevista por telefone com Avi Arad, todo-poderoso produtor por trás de todos os filmes baseados nos personagens da Marvel Comics, estava marcada para o meio da tarde, mas só aconteceu noite adentro. E mesmo assim, não foi nada fácil. Arad tinha passado o dia desenvolvendo seus próximos filmes (como você vai ver em instantes) e falava do seu celular, que teimava em cortar suas palavras sempre que possível. Nada que nossos ouvidos (apurados como os de uma aranha?) fossem incapazes de entender :-)

Omelete: Não foi fácil conseguir falar com o senhor! O que estava fazendo hoje?

Avi Arad: Alguns filmes.

Ah é? Quais?

Tem um chamado Homem de Ferro. Você ouviu falar dele?

Claro! Do Jon Favreau, com Robert Downey Jr., Gwyneth Paltrow, Terrence Howard... ótimo elenco!

Pois é! Além disso, também estou fazendo um filme chamado Bratz, baseado na famosa coleção de bonecas fashion. Vou trazê-las à vida!

Interessante! Mas vamos falar do nosso amigo Homem-Aranha.

Boa idéia!

Desde o início, Sam Raimi disse que não usaria Venom como inimigo do Homem-Aranha em seus filmes. E você foi o responsável por mostrar para ele que o Venom era o vilão certo para o Aranha enfrentar desta vez. Como foi convencê-lo?

Bom, como você bem sabe, Venom é um personagem recente. Ele não é tão antigo como o Homem-Aranha e por isso Sam não o conhecia bem. Levou um tempo até que nós conseguíssemos educar e criar uma conexão. Alvin Sargent, nosso roteirista, se apaixonou pelo personagem de Eddie Brock e escreveu uma ótima história. Eddie Brock é um concorrente direto do Peter no seu trabalho. Ele trabalhava falsificando o que Peter ralava para conseguir. Mas Peter consegue pegá-lo e o resto vocês vão ter que ver no cinema.

Topher Grace é um ator sensacional. Ele tinha em suas mãos um personagem muito complexo e que se une ao simbionte que originou o Aranha do uniforme negro para criar um novo vilão. É sempre uma boa fazer com que o Peter Parker seja o responsável pelo que vai acontecer. Esta é a melhor forma de se testar um herói: fazê-lo se sentir culpado, responsável e sedento por arrumar tudo fazendo a coisa certa. Então, como você deve estar imaginando, o Aranha vai ter um dia bem movimentado.

E no futuro nós não precisamos ficar preocupados com o Carnificina, né?

Nem um pouco! hahaha

A sua carreira de produtor é baseada nos super-heróis. O senhor pode nos contar como começou e se isso foi uma coisa pensada?

Bom, eu sempre fui muito interessado em personagens fantásticos. Nos anos 60 eu descobri as histórias em quadrinhos e logo adorei aquilo. Nas minhas fantasias, eu sempre quis ser como eles, ter superpoderes e fazer a coisa certa. Mas daí você percebe que na vida real estes poderes não existem e que nem sempre é fácil fazer a coisa certa. É por isso que eu digo que dei muita sorte de ter me envolvido neste meio, com personagens que te permitem criar metáforas e são movidos pelo bom caráter. Eu acho que existe um herói em cada um de nós e isso foi uma grande motivação para fazer todos estes filmes e séries de televisão.

E da mudança de CEO da Toy Biz para CEO da Marvel e agora produtor de todos estes filmes, quais foram os desafios que você enfrentou?

Quando começamos, os estúdios eram imaturos. Os quadrinhos eram vendidos de forma limitada e a verdade é que não apenas as pessoas não davam aos quadrinhos o mesmo peso que a literatura, mas também não enxergavam que eles eram feitos para serem filmados. Eram storyboards prontos. Os personagens são sempre muito interessantes porque eles têm identidades múltiplas e carregam muita responsabilidade.

E acho que o Homem-Aranha é o mais importante porque encarna a idéia de toda criança que quer ser um herói, que quer fazer a coisa certa, e aprende que não é fácil, nem simples. Ser um herói demanda muita responsabilidade.

Então, quando começamos, os estúdios não tinham essa consciência. Mas para a nossa sorte, muitos dos cineastas, produtores, roteiristas e animadores de hoje cresceram no meio desta literatura, carregados de quadrinhos, graphic novels e ficção científica, e por isso são tão apaixonados e estão fazendo estes filmes que você pode ver hoje com tanto entusiasmo e esforço, tratando os personagens com carinho para ficar o melhor possível.

Por falar em responsabilidades, o slogan do Aranha, que é "Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades", quais são as suas responsabilidades como produtor?

A primeira coisa é garantir que tenhamos em mão uma boa história e que respeitemos o personagem e suas características. No caso de Peter Parker/Homem-Aranha, se nós estamos ou não preservando a integridade da Tia May, sempre contar a história pelo ponto de vista do Peter, acompanhar a história de amor que ele tem com a MJ, revelar o Tio Ben como grande motivação e achar vilões. Às vezes temos que reconstruir vilões, modernizando-os. E temos que achar a história que conecta o vilão ao herói e vice-versa. Então nós testamos a amizade do Peter, a sua humanidade.

Eu acho que a maior responsabilidade é achar o diretor certo, o roteirista certo e o elenco. E também é importante ter o estúdio certo por trás. Se você olhar para o Homem-Aranha, a Sony tem a SPI, que é uma grande empresa de efeitos visuais, e tem um grande apetite pelo personagem.

Nos quadrinhos, é meio comum ver o Homem-Aranha pensando em desistir da carreira de herói, como no segundo filme. Você já pensou em deixar de lado seu trabalho como produtor depois de um mal resultado nas bilheterias ou críticas negativas?

Não. Eu ainda não tive que enfrentar algo que me deixasse desanimado nas bilheterias. Todos os filmes foram feitos com a melhor das intenções e se as coisas às vezes não dão certo, você deve tentar entender o que aconteceu, para que da próxima vez o resultado seja melhor. Se você gosta daquilo que faz, nada deve te desencorajar.

Você abriu recentemente a sua própria empresa de produção [a Avi Arad Productions]. Qual é a vantagem que isso lhe traz? Você ganhou mais liberdade? Poderíamos talvez tê-lo produzindo filmes para personagens de outras editoras?

Foram alguns fatores [que me levaram a tomar esta decisão]. Agora tenho mais liberdade, sim. Gerenciar uma produtora não é só fazer filmes. É um trabalho em que você tem que cuidar de assuntos pessoais, política e tudo mais que vem junto no pacote. Cheguei a um ponto da minha vida em que posso cuidar de um personagem que adoro como o Homem-Aranha e também desenvolver novos projetos, dos quais vocês vão ouvir falar em alguns meses. Além de poder pensar em descansar um pouco. hahaha

Enquanto eu estiver me divertindo, é isso que eu quero continuar fazendo.

Eu li que você também adora exercitar seu lado criativo. Você já pensou em dirigir um filme?

Sim, na verdade estou pensando bastante nisso. Mas esta é uma decisão muito grande e para conseguir concretizá-la vou ter que parar de fazer muitas outras coisas. Então, espero tomar a decisão certa nos próximos dias.

Falando agora um pouco do DVD Homem-Aranha 2.1, ele tem oito minutos a mais de cenas inéditas. São cenas que vocês pensaram para o segundo filme, mas não tiveram tempo, não tiveram dinheiro ou simplesmente descartaram porque não ia acrescentar muita coisa?

É uma combinação de várias coisas. Havia cenas que eram maravilhosas, mas tomariam muito tempo para finalizá-las. Por isso deixamos para terminar o serviço agora e assim ter algo novo para o DVD, que é um enorme mercado. E houve também cenas que realmente pensamos especialmente para este DVD, para ter algo completamente novo. Nos nossos DVDs, você raramente vai ver algo que não estava no filme porque não pertencia ao filme. Não importa se é uma cena muito grande ou que não conseguimos terminar a computação gráfica porque era algo muito complicado. Quando olhamos o filme e percebemos que já temos material suficiente para uma determinada cena, faz parte da nossa política de distribuição guardar este extra especialmente para o DVD, que merece ter materiais especiais e inéditos.

Você agora está encerrando a sua segunda trilogia, foi X-Men ano passado e agora Homem-Aranha. Quais são os próximos passos para estas franquias? Você está pensando em contratar novas equipes e novos elencos, convencer quem já trabalhou nas séries a voltar para novas aventuras ou ainda partir para os filmes solo, como é o caso do Wolverine e Magneto?

Quando você tem estas HQs que são publicadas com sucesso há tanto tempo, há tantas histórias para contar, que o legal é justamente procurar o que não foi mostrado ainda. A motivação para fazer fazer uma continuação é a vontade de criar algo novo. Procurar novos ângulos na vida do Peter Parker, do seu relacionamento com Mary Jane. É ter uma idéia, discuti-la e dizer "uau, isso vai ficar muuuuito legal!" Você tem que estar bastante seguro da direção pra onde está indo, porque filmes como este toma três anos da sua vida.

Por falar no relacionamento de Peter Parker e Mary Jane, Joe Quesada (editor-chefe da Marvel) já disse várias vezes que gostaria de ver Peter e MJ separados, que é o oposto da direção que vocês estão andando. Como uma mídia pode reagir e interagir com a outra?

Bom, nos quadrinhos você vê um personagem morrendo e três meses depois ele está de volta. Os filmes são mais realistas. Os atores são de verdade. E por isso devemos ter muito cuidado para não acabar com a ilusão. Os filmes são muito grandes e têm grande influência nas vidas das pessoas e por isso temos de ser muito responsáveis pelas decisões que podem funcionar em uma HQ, mas não no cinema.

No ano passado, o segundo filme da série Piratas do Caribe fez mais de 1 bilhão de dólares nas bilheterias. Neste ano, o novo filme vai estrear apenas três semanas depois do Homem-Aranha 3. Qual o tipo de armas que vocês estão preparando para chegar na frente dos Piratas? E você acha que dá para Homem-Aranha 3 ser o quarto filme a bater a barreira do bilhão nas bilheterias?

Bom, isso já é com o público. Nós fizemos um filme maravilhoso. Dá para ver pela reação das pessoas quando vêem os trailers que o departamento de Marketing fez um ótimo trabalho. Nós não estamos preocupados em bater recordes. Nós sabemos que muita gente vai ver o filme e o mais importante é que as pessoas continuem interessadas em saber o que vai acontecer com os personagens.

Mas a verdade é que vai ser um longo verão [no Hemisfério Norte], com muitos filmes se dando bem. Tem espaço para todo mundo.

Ok, Sr. Arad. Muito obrigado pela entrevista. Espero que possamos nos encontrar na Comic-Con deste ano, em San Diego.

Mal posso esperar.

Leia o Especial Homem-Aranha