Cena de Rick and Morty: O Anime (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Rick and Morty: O Anime (Reprodução)

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Caos típico de Rick and Morty cai como uma luva no formato do anime

Takashi Sano não está interessado em público que vai ter que “se adaptar” ao estilo

Omelete
3 min de leitura
16.08.2024, às 12H17.
Atualizada em 16.08.2024, ÀS 15H41

No ar há mais de uma década, Rick and Morty se acostumou a reconhecer e quebrar as regras da estrutura narrativa da ficção científica para servir aos caprichos metalinguísticos e voos filosóficos niilistas da vez. Por mais subversiva que seja a pose da criação de Dan Harmon e Justin Roiland, no entanto, é notável como ela também se sente na necessidade de explicar sua subversão - o caos absoluto só pode reinar, em Rick and Morty, a partir do momento em que o roteiro nos faz entender exatamente qual é o caos que ele está propondo desta vez. A série quer explodir sua cabeça e provocar sua concepção de mundo, mas entende que o momento chave desses processos é aquele em que você compreende o que ela está propondo como história.

Não é o caso de Rick and Morty: O Anime, cujo primeiro episódio chegou hoje (16) ao catálogo da Max. Além do capítulo inicial da série escrita e dirigida por Takashi Sano (Tower of God), o Omelete também teve acesso ao segundo episódio da temporada, que terá lançamento semanal - sempre às sextas-feiras -, e pode afirmar categoricamente: em sua versão anime, Rick and Morty não está nem um pouco interessado em te explicar coisa alguma. Pelo contrário, desde os primeiros minutos do primeiro capítulo, esta nova adição à franquia animada se esmera na fragmentação de referências, narrativas e ideias que define de muitas formas o encanto do anime como formato e como cultura.

É até difícil resumir a trama, que se fratura em várias realidades paralelas e linhas temporais. No primeiro capítulo, vemos Morty preso na realidade virtual de um videogame, onde ele é simultaneamente um guerreiro apaixonado pela charmosa Elle e um magnata da mídia à la Cidadão Kane; no segundo, a versão guerreira espacial de Beth enfrenta um império de alienígenas-insetos que, no capítulo anterior, estavam prestes a destruir um planeta protegido por uma versão hacker de Summer; enquanto isso, dois Rick’s travam um conflito intenso através de várias realidades, causando um incidente bélico internacional que necessita cortes eventuais para o Salão Oval da Casa Branca. E tudo isso acontece, com níveis variáveis de resolução, em menos de 40 minutos!

Para Rick and Morty: O Anime, no entanto, é menos importante que você entenda a história como uma linha íntegra, e mais importante que você se envolva nela como um caleidoscópio de referências, ambientações e ideias visuais que vagam pela cabeça dos artistas responsáveis por ela. Sano e seus comparsas criativos (a série é coproduzida pelo Studio Deen, pela Sola Entertainment e pela Telecom Animation Film) brincam com os chavões do anime o tempo todo: na trilha sonora que mistura pop rock e violinos inspiracionais, na paleta de cores terrena, nas caracterizações em traço forte, na "câmera lenta" e nos respiros para captar as reações dos personagens... tudo aqui é uma bola de neve do que veio antes, uma homenagem carinhosa que não se esquece de olhar adiante para saber onde o gênero ainda pode ir.

E, no fim das contas, essa é uma forma de anarquia mais honesta do que aquela pregada pela série original. Na liberdade de olhar para si mesma como um experimento estético-narrativo, ao invés de uma história que precisa convencer alguém de sua própria inteligência, O Anime se entrega com muto mais abandono à multiplicidade de mundos, à potencialidade da noção de que “nada importa no final”, do que Rick and Morty jamais conseguiu. Ainda melhor, ela faz isso enquanto capitaliza em cima da afeição que construímos pelos personagens - mas é claro que, por outro lado, a produção abre mão da acessibilidade ao eleger esse caminho.

Tanto para os neófitos na animação japonesa, quanto para os neófitos da franquia, vai ser difícil embarcar nessa viagem. Para aqueles que se localizam na junção perfeita entre esses dois mundos, no entanto, e talvez para aqueles mais dados a receber uma obra em seus próprios termos, é uma gratíssima surpresa.

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