Cena de Pinguim, "Inside Man" (1x02) (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Pinguim, "Inside Man" (1x02) (Reprodução)

Séries e TV

Artigo

Cristin Milioti mantém Pinguim em alta com performance nervosa e envolvente

Segundo episódio tem ritmo irregular, mas segue fiel aos seus bons personagens

Omelete
3 min de leitura
29.09.2024, às 23H00.

ATENÇÃO: Spoilers de Pinguim a seguir!

Escrever um episódio piloto é, de muitas maneiras, bem mais fácil do que escrever uma série de TV. Roteiristas, afinal, já estão acostumados a partir de uma tela em branco e pintar os detalhes de um mundo, para seguir essa primeira construção inicial e estender as deixas do primeiro episódio para colocar em curso a trama que vai se estender por mais algumas horas (com sorte, muitas) de televisão… esse é um malabarismo bem mais difícil de se acertar. Em Pinguim, a missão ficou com Erika L. Johnson (da ótima minissérie The Good Lord Bird) - e o episódio resultante, intitulado “Inside Man”, é aquele que trata de colocar a série nos trilhos para o formato em que foi concebida.

Acima de tudo, o capítulo herda do seu antecessor o gosto por rimas narrativas bem arranjadas, fundadas no arco que pretende desenhar na relação entre Oz (Colin Farrell) e Sofia (Cristin Milioti), conforme eles hesitam na consolidação de sua parceria criminosa. Daí que eles começam na ponta dos pés, durante o velório de Alberto (Michael Zegen), com uma conversa sobre como a mãe de Oz superou a morte do marido levando o filho para dançar; e terminam diante do túmulo do irmão de Sofia, com a moça finalmente oficializando a proposta de parceria e o protagonista respondendo, com um meio-sorriso no rosto: “Vamos dançar.

É um dos toques de elegância que mantêm “Inside Man” na atmosfera rarefeita dos bons dramas, das histórias contadas com uma dose bem-vinda de refinamento e consciência retórica - isso porque, em termos de estrutura e ritmo, a série tropeça um pouco para se estabelecer além do impulso excitante e operático do primeiro capítulo. Montando uma historinha batida, cheia de exercícios de plot fúteis, sobre como Oz se esquiva da acusação de ser um agente duplo dentro da família Falcone (o que ele efetivamente se torna quando faz um trato com os rivais Maroni, representados pelo sempre imperioso Clancy Brown), o episódio faz menos do que deveria nos convencer de que essa trama tem fôlego dramático para oito horas de televisão.

Por sorte, Cristin Milioti está aqui para salvar o dia ao nos mostrar exatamente onde “Inside Man” não se deixa perder o rumo: na dedicação aos personagens. Conforme a sua Sofia vai ganhando profundidade, a performance nervosa e autoconsciente que ela apresentou no primeiro episódio também vai mergulhando em um território mais sombrio - ainda que mantenha a piscadela para o público (e o diretor Craig Zobel certamente ajuda, vide o take tirado diretamente de O Poderoso Chefão que aparece no terceiro ato do capítulo), Milioti constrói uma Sofia cuja ambição convence por ser fundada no luto, no trauma, na vontade de construir um lugar seguro para si, exatamente como o seu irmão não conseguiu.

Enfim, Pinguim encontra o caminho para se tornar uma série de TV - e é essencial aqui entender que é isso que ela é, e não “mais um capítulo na franquia do Batman” - ao buscar as engrenagens que giram dentro de seus personagens. Dessa forma, mesmo que por vezes eles pareçam rodopiar pela trama sem um propósito definido, tentando escapar da última enrascada ou (in)conveniência de plot, ainda vamos querer voltar a encontrá-los na semana que vem, mesmo que seja só para ver as faíscas que essas engrenagens criam ao se chocar com as outras que ainda vamos conhecer.

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