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Pinguim surpreende com primeiro episódio alimentado pelo bom humor

Apesar do pedigree HBO, direção e roteiro localizam série firmemente no domínio das HQs

Omelete
3 min de leitura
20.09.2024, às 15H49.

ATENÇÃO: Spoilers de Pinguim a seguir!

O primeiro episódio de Pinguim termina ao som de Dolly Parton. Um dos hits mais emblemáticos da rainha do country, 9 to 5, toca sobre os créditos finais do capítulo como um aceno para uma sequência vários minutos antes, na qual o protagonista (Colin Farrell) liga o seu carro e, envergonhado, precisa silenciar o rádio quando ele começa a tocar a canção no último volume. É justamente nesse tipo de desvio bem humorado que mora a maior virtude de “After Hours”, capítulo de estreia escrito pela showrunner Lauren LeFranc - cujos créditos anteriores incluem Chuck, Agents of SHIELD e vários outros títulos de espírito ostensivamente mais leve do que a história sombria de máfia que esta série da HBO tem vendido ao público.

Acontece que Pinguim, veja só, não é o que foi vendido. Diante do desafio de mesclar o universo dos quadrinhos do Batman com uma trama de máfia à la Família Soprano, LeFranc e o diretor Craig Zobel (fãs do ótimo thriller Obediência sabem que ele também tem um pendor para o humor ácido) optam pela via do pastiche e do operático. A ascensão de Oz ao topo do império criminoso de Gotham City, portanto, começa com um assassinato de impulso e segue adiante através de diálogos afiadamente novelísticos, pontuados sem nenhuma sutileza pela trilha de Mick Giacchino (sim, ele é filho do Michael), um procedimento que tem muito mais a ver com a ópera rasgada de O Poderoso Chefão do que com o realismo prestigioso de Sopranos.

E as performances, por sua vez, seguem a deixa. Farrell preenche as próteses corporais de seu Oz com ambição e truculência, sim, mas sabe expressar que esses dois motores do personagem são alimentados pelo ressentimento arraigado de um filhinho-da-mamãe que sempre ouviu que era especial - até encontrar alguém indisposto a mentir para ele. Cristin Milioti, por sua vez, entra em cena como Sofia Falcone só para desenhar com ainda mais força a linha tênue entre drama e comédia na qual a série anda, toda sorrisos e tiques divertidos, mas igualmente adepta a um olhar de desespero afiado, que toca o espectador mais fundo do que o esperado.

No fim das contas, o mais legal de perceber este humor que alimenta Pinguim é que ele faz muito para reaproximar a franquia de Matt Reeves das HQs. Ao menos neste primeiro episódio, a série se move com um ímpeto, um dinamismo, uma consciência pop dos gêneros em que transita e das ideias que precisa - de alguma forma - refrescar que simplesmente não existia no filme do qual ela se originou. O Batman de Reeves, tão focado em observar e mapear as sensações de seu mundo, tornado-o palpável (uma magia deliciosa de se viver no cinema, não me leve a mal), tinha perdido de vista um pouco essa ideia do universo quadrinístico como espaço de comentário e renovação de todos os gêneros que o cercam.

É o lado bom, enfim, de uma franquia que não controla tão rigidamente o tom e as ideias de todos os seus capítulos: o próximo sempre pode resgatar e dar destaque aos elementos que o anterior, até por necessidade de escolha, colocou de escanteio.

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