Marvel Games superou o Marvel Studios: melhor fase dos heróis agora é nos games

Na última quarta-feira (5), durante uma apresentação State of Play da Sony PlayStation, a Marvel Games anunciou o jogo de luta Marvel Tokon: Fighting Souls, e a habitual empolgação da comunidade com esses eventos veio de um susto. O espanto é compreensível, já que parecia ser um projeto impossível de imaginar ou prever.

Primeiro, porque, para produzir este jogo, a Marvel não escolheu a Capcom, sua parceira histórica neste gênero desde antes dos clássicos Marvel vs. Capcom dominarem arcades pelo mundo. A Casa das Ideias colocou seus personagens (com uma ajudinha do PlayStation Studios) nas mãos da Arc System Works, produtora com décadas de experiência em jogos de luta frenéticos e mergulhados na estética do anime, como Guilty Gear, BlazBlue, e mais recentemente, o ótimo Dragon Ball FighterZ.

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O resultado dessa união improvável já é visto nas primeiras cenas do jogo, na qual um Capitão América de jaqueta troca socos com um Homem de Ferro cuja armadura parece mais um Gundam do que os trajes polidos e curvilíneos que Robert Downey Jr. vestiu em uma década de MCU. Esse combo aparentemente impossível é a prova de como a Marvel tem vivido uma ótima fase nos games. Com projetos criativos e diferentes tipos de jogos, a empresa soube escolher os parceiros certos para fazer florescer a criatividade e, principalmente, o interesse por esses personagens e histórias – algo que o MCU está devendo desde Vingadores: Ultimato.

Curiosamente, essa boa fase começou a ser montada exatamente nessa época. Em 2016, a Marvel reformulou a estratégia da Marvel Games. A divisão não seria mais responsável por produzir diretamente os jogos dos X-Men, Vingadores e cia., ou mesmo procurar lançar adaptações baratas dos filmes de sucesso, mas seria uma espécie de supervisora. Sua missão é escolher os estúdios certos para criar seus games e garantir que eles tirassem o melhor de seus heróis.

O resultado disso, logo de cara, foi um sucesso. Marvel’s Spider-Man, jogo do Homem-Aranha feito pela Insomniac e lançado em 2018 veio com a sensação que acompanhava os melhores filmes da Marvel – um valor de produção alto combinado com uma compreensão profunda do que faz o personagem especial. Mas, como produzir games demora mais do que filmes, os efeitos dessa mudança são melhor observados quando ampliamos o escopo. Agora, sete anos depois de Spider-Man, basta olhar os jogos mais recentes com heróis da Marvel para perceber o quanto ela foi positiva.

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Sob a tutela do Marvel Games, vimos o lançamento de grandes jogos de ação cinematográficos, que geralmente chamam a atenção de um público mais amplo, como Marvel's Spider-Man 2, continuação feita pela Insomniac e o jogo de Guardiões da Galáxia, que protagonizaram uma aventura single-player lançada pela Eidos Montreal, de Deus Ex, que não fez o maior sucesso financeiro, mas tem grandes méritos narrativos.

Mas a nova iniciativa também rendeu frutos em gêneros de jogos que a Marvel não habitava há algum tempo ou não tinha tanta tradição, como estratégia, hero shooters ou jogos de cartas.

E em todos estes casos, a editora soube escolher os estúdios certos para conduzir esses desenvolvimentos, como foi o caso de Marvel's Midnight Suns, que ficou nas mãos dos experts em games de estratégia da Firaxis, de XCOM e Civilization, ou Marvel Snap, produzido pela Second Dinner, estúdio que Ben Brode, o criador de Hearthstone, fundou após deixar a Blizzard.

A chegada de Marvel Tokon Fighting Souls pode ser até espantosa, mas faz todo sentido quando consideramos a fase atual da empresa nos games, e a maneira como ela tem trabalhado. É uma diferença considerável se lembrarmos que, pouco antes da criação da Marvel Games, a estratégia era exatamente oposta, com a editora se auto-sabotando em todas as mídias para valorizar suas propriedades no cinema, o que resultou em erros históricos como lançar um Marvel vs Capcom temático de Joias do Infinito para coincidir com Guerra Infinita sem personagens tão icônicos daquela franquia, como Wolverine, Magneto e outros X-Men.

Além de publicar grandes jogos, a Marvel conseguiu um efeito menos óbvio de fazer o público se empolgar com seus heróis. Basta ver, desde o ano passado, a quantidade de fanarts do Quarteto Fantástico com os uniformes do time de Marvel Rivals, não do filme. Essa abordagem mais focada na criatividade e no que funciona melhor para cada ocasião pode ser uma boa inspiração para o MCU, que têm sofrido justamente com isso, com Fases de filmes e séries que parecem se importar só em continuar uma macrohistória cada vez menos interessante do que entreter e serem bons por si só.

Mas enquanto o MCU não se acerta no cinema, vale mais a pena prestar atenção no que a editora tem feito, com grande sucesso, em outros meios. A melhor fase da Marvel no momento é nos games.