Acredito que Bleach é uma franquia que dispensa apresentações. O mangá original fazia parte do “Big 3” da revista semanal Shounen Jump, ao lado de One Piece e Naruto, e sua adaptação em anime soma, atualmente, 406 episódios com mais uma temporada já anunciada, apesar de não ter uma data específica. Ou seja, não estamos falando aqui de uma obra desconhecida, e sim de um dos pilares dos animes e mangás dos anos 2000, que angariou uma legião de fãs, e claro que eu sou um deles.
Quando Bleach: Rebirth of Souls foi anunciado, entrei em êxtase. Não tínhamos um jogo da franquia para consoles desde 2011, com Bleach: Soul Resurreccion para o PS3. Foram quase 15 anos sem nenhum lançamento, e até mais do que isso, se formos falar de jogos bons, já que Soul Resurreccion era bem simples e repetitivo. Porém, o novo jogo da franquia veio para mostrar que Bleach ainda tem muito a entregar.
Bleach: Rebirth of Souls é um Arena Fighter sem tirar nem pôr, e vários aspectos desse subgênero de jogos de luta, que ficou popular principalmente por jogos da franquia Dragon Ball e Naruto, estão presentes. Rebirth of Souls tenta trazer novidades que são muito bem vindas e modifica, um pouco, mecânicas padrões dos jogos de luta. Isso pode parecer confuso em primeira instância, mas, ao se acostumar com elas, essas mudanças mostram o verdadeiro valor do jogo. Ainda assim, nem tudo são rosas na Sociedade das Almas.
O gameplay das lutas funciona com um botão de ataque rápido, outro de ataque pesado e um que ativa o movimento de assinatura de cada personagem, além de ter o clássico agarrão e um botão para dar dashs, aqui chamados de Passos. Além disso, temos a barra Reverse, que é usada para ativar as reverse actions, permitindo estender combos ou quebrá-los. Também há a barra de Reishi, que serve para conjurar habilidades específicas de cada personagem, combinando o gatilho esquerdo com outros botões de ataque. Por último, temos o Espírito de Luta, que permite que os personagens usem o Despertar, deixando-os mais fortes e até mudando seus combos, em alguns casos.
Derrotar o oponente é o objetivo, como de praxe. Mas é aqui que vem o grande diferencial de Rebirth of Souls. No lugar das barras de vida, entra um sistema com dois medidores diferentes: as Konpakus, que funcionam como o número total de vidas que o personagem tem, indo até nove; e a barra de vida normal, que precisa ser destruída para acabar com as Konpakus, e assim vencer a luta. Só acabar com uma barra de vida não quer dizer que apenas uma Konpaku vai ser destruída também. O número de Konpakus destruídas variam por muitos fatores, podendo ir de duas até todas de uma vez — tudo depende do personagem que você está usando e da circunstância de cada luta. Por mais complicado que tudo isso possa parecer, essa é a melhor parte do jogo, e dá para perder horas só jogando contra a CPU no modo offline.
O alcance de cada ataque, o repertório de especiais, as diferentes formas de criar combos e os vários tipos de Despertar e Redespertar tornam cada personagem único. Por mais que o número do elenco seja reduzido, se compararmos a outros jogos do tipo, a singularidade de cada não torna isso um problema. Mudar o personagem é sempre gratificante, por não ficar repetitivo, e ainda que esse jogo aparente ter várias mecânicas, ele se mantém simples em sua essência. Isso torna o processo de aprender novos personagens divertido e ágil, e para quem quiser é possível se aprofundar neles, já que apesar do sistema ser simples, ele apresenta uma boa profundidade. Amantes de jogos de luta tradicionais podem se surpreender com Rebirth of Souls, mesmo com toda sua simplicidade. Claro, todas as mecânicas do jogo sustentariam ele por si só, mas o design visual o eleva a proporções colossais.
Bleach sempre foi muito “maneiro”. Seja o design dos Hollows ou as insanas Bankais, o mangá original tem o estilo como uma grande qualidade, e Rebirth of Souls faz jus a isso. O uso de sombras duras e cores na apresentação traz à tona a arte original de Tite Kubo, o criador de Bleach, e adiciona novos ares de “estilo”. Já a trilha sonora entrega a energia que o anime original tem, com muita música boa. Estou louco para adicionar várias delas na minha playlist, especialmente a música tema da Yoruichi, minha preferida do jogo inteiro. Os menus são a parte mais simples de todo o visual do jogo, mas eles servem ao seu propósito, sendo bem fáceis de navegar.
Falando do desempenho, Tenho que avisar que joguei no Playstation 5, então fora um crash e um bug de certos sons sumirem, não tive grandes problemas de desempenho com o jogo. Porém, a versão de PC de Bleach: Rebirth of Souls lançou em péssimo estado. Os desenvolvedores estão lançando atualizações para a plataforma, então espero que melhore, mas no PS5 realmente não tive muitas questões.
Mas, como já foi dito antes, nem tudo são louros. O modo história, apesar de bem completo se falarmos de narrativa, não consegue passar a mesma energia do gameplay das lutas. A grande maioria das cutscenes são engessadas, e nenhuma salta aos olhos — pelo menos, grande parte delas são animadas, algo que não é muito comum entre os Arena Fighters. As cutscenes “slide shows” têm uma apresentação interessante, fugindo da mediocridade do gênero, mas mesmo assim nada faz o modo história engatar. Temos algumas lutas que trazem algo diferente dos outros modos, com inimigos gigantes e outras condições de vitórias, mas essa está longe de ser a melhor forma de viver a história de Bleach.
A falta de recompensas por progredir na história também não ajuda muito o jogo. Conforme se avança, o nível da conta aumenta, você ganha itens para gastar nas lutas, deixando o personagem mais forte, libera títulos e fotos de perfil, mas nada disso passa a sensação de relevância. A única recompensa substancial por completar o modo história é a liberação de um único personagem, já que todos os outros estão liberados desde o começo, mas isso não ajuda a deixar a experiência mais engajante. Também dá para liberar as missões extras, que são como side quests, mas mesmo elas não agregam muito, parecendo ser mais um agrado pros fãs.
Para terminar, há o modo online, que se precisasse resumir em uma palavra, ela seria “desapontante”. Os problemas começam com a ausência de uma fila ranqueada, e só os modos de jogo Partida Livre e Partida de Sala estão disponíveis. Isso faz com que o matchmaking fique totalmente desbalanceado nos outros modos. Os jogadores mais sérios não conseguem achar pessoas do mesmo nível, e o mesmo vale para os iniciantes, mas os problemas de jogar online não param aí, infelizmente.
A parte mais frustrante de todo o jogo, para mim, foi tentar encontrar com quem jogar online. Por algum motivo, achar outros jogadores na Partida Livre demora uma eternidade na maioria das vezes. Nas Partidas de Sala, também demorei para achar jogadores, pois há um problema estranho, entrar em uma sala aberta pode ocasionar em um erro de conexão, e te jogar de volta por menu. Por causa desses problemas, tive momentos em que fiquei mais de 20 minutos só tentando encontrar um partida, em ambos modos de jogo. Pelo que pesquisei, é algo que outras pessoas estão enfrentando, e a comunidade está achando que é um bug, mas só o tempo dirá se isso vai ser corrigido em algum patch, ou não.
Fora isso tudo, ainda tive um outro problema. Quando finalmente conseguia achar uma partida, passando por todos os perrengues, nem uma única vez eu encontrei um jogador com uma conexão boa, sinalizada com a cor verde, só joguei com pessoas com conexão em vermelho.
Apesar disso, tive boas partidas, mas com um delay sempre perceptível. Pode ser que se encontrasse alguém com uma conexão verde não sentisse tanto o delay, mas infelizmente não posso atestar isso. Tudo isso é uma pena, pois as lutas são muito boas para só ficar jogando contra a CPU, já que depois de um tempo ela passa a ficar muito previsível.
Bleach: Rebirth of Souls tenta criar novas tendências com um elenco pequeno para um Arena Fighter, mas dando mais qualidade para seus personagens. As lutas sempre são divertidas e os visuais, efeitos, trilhas e animações estão impecáveis, mas um modo história morno e um modo online incompleto deixam uma sensação de que falta algo para tornar esse jogo, que já é muito bom, em uma experiência necessária para amantes de jogos de luta.
Bleach: Renascimento das Almas
Bleach: Rebirth of Souls
Lançamento: 20.03.2025
Desenvolvedora: TAMSOFT
Publicadora: Bandai Namco
Gênero: Luta
Classificação: 14 anos
Plataformas: Xbox Series X , PlayStation 5 , PlayStation 4 , PC
Testado em: PlayStation 5
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