Lost Soul Aside é um jogo ruim cheio de boas ideias
Iniciado por um único desenvolvedor e financiado pela Sony, jogo de ação é vítima de sua própria ambição
Créditos da imagem: Divulgação/PlayStation
Em um 2025 marcado por histórias na indústria de games surpreendentes e motivadoras por trás do sempre caótico processo de fazer um jogo, Lost Soul Aside aparece como um alerta. De um simples projeto feito por um único desenvolvedor que explodiu após um trailer conceitual a um jogo bancado pela Sony em uma incubadora de games para consoles no mercado chinês, este jogo de ação passou por várias versões, com escopos diferentes, nos nove anos que separam seu anúncio do lançamento.
O jogo que emergiu deste conturbado desenvolvimento é um catado de boas ideias, que garantem brilho em alguns momentos individuais, remendada sem muita coesão em uma aventura assolada por problemas técnicos e uma apresentação que você esperaria do projeto como ele começou em 2016, com um único desenvolvedor trabalhando do quarto de casa, e não de um jogo feito com o financiamento e o apoio da fabricante do PlayStation 5.
Lost Soul Aside é um jogo de “ação de personagem”, o mesmo estilo popularizado por Devil May Cry, com um grande foco no estilo. O protagonista Kaser une suas forças com o espírito de um dragão antigo chamado Arena, que lhe confere poderes sobre-humanos. A partir daí, você se torna um super-herói, capaz de disparar ondas de energia, transformar-se em eletricidade e desferir golpes super rápidos e visualmente interessantes.
Por trás das sequências visuais impressionantes, especialmente depois que você desbloqueia combos e habilidades adicionais para cada uma das armas do protagonista, está um sistema de combate que tenta unir filosofias distintas de jogos de ação e RPG. Na maior parte das vezes que Kaser termina um combo, ele se abre em janelas de vulnerabilidade para ataques inimigos como se fosse um jogo de ação mais cadenciado, na estirpe de Elden Ring.
Essa junção de elementos tão diferentes entra em um choque ainda maior quando o comportamento dos inimigos inclui diversos golpes cuja área é avisada ao jogador antes de eles serem executados, que é bem comum em MMOs. Para evitar, é preciso sair de um determinado local, ou chegar até um determinado local - inclusive, há batalhas de chefe com golpes que instantaneamente matam o seu personagem caso você não cumpra essas condições.
Lost Soul Aside começou como um projeto solo do desenvolvedor chinês Yang Bing, que decidiu criar o seu jogo após se empolgar com um trailer de Final Fantasy XV. Bing nunca escondeu suas preferências e paixões como jogador, que vão desde a série de RPGs da Square Enix a jogos como o próprio Devil May Cry ou outros títulos de ação de personagem, como Bayonetta e Ninja Gaiden.
Mas a vontade de abraçar o mundo trouxe mais problemas do que soluções para Lost Soul Aside, que vê esse amontoado de referências se empilhar em uma experiência incongruente, na qual os poucos momentos de satisfação não valem um todo frustrante e desconjuntado.
Eu senti esse momento em particular ao passar pelos cenários dos cinco capítulos do jogo, nos quais a metamorfose de projetos ao longo de dez anos de desenvolvimento é mais do que perceptível. O jogo começa em uma cidade que funciona como uma espécie de base para Kaser e o resto do elenco, parte de uma força de resistência contra um Império. Tudo muda quando criaturas extradimensionais chamadas Voidrax atacam o local, roubando diversas almas, incluindo a da irmã de Kaser. A história não é grande coisa, mas serve como desculpa para Kaser, Arena e o restante do elenco viajarem pelo mundo na tentativa de recuperar as almas humanas roubadas pelos inimigos.
Os cenários na maioria das vezes são lineares, mas costumam utilizar diversos tipos de mecânicas de travessia, indo dos clássicos pulo duplo e dash a segmentos de plataforma em que você precisa mirar para onde quer ser arremessado. Todas essas mecânicas criam alguns segmentos frustrantes de plataforma, o que se repete na maior parte do jogo. Entretanto, no início do capítulo 2, o mapa se abre em um rápido momento, com diversos segredos e desafios de plataforma espalhados, dando um vislumbre de como os controles poderiam funcionar em um mundo aberto.
Tudo isso é acometido por um jogo com uma apresentação estranha, na qual cenas e trilha sonora são cortadas sem muita cerimônia pelo carregamento do jogo, a física ragdoll de personagens (na qual bonecos simplesmente parecem “perder vida” quando caem) criam cutscenes bizarras, ou até mesmo com o jogo fechando sem explicações no meio do gameplay, como aconteceu comigo durante meus testes.
A maior tristeza de Lost Soul Aside não está no conjunto da obra estranho que acabou chegando às lojas, mas em elementos individuais que mostram como o jogo poderia ter alcançado seu potencial caso tivesse um pouco mais de foco e polimento. Fazer jogos é difícil, e dez anos depois, este título é uma grande prova disso.
Lost Soul Aside
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