Dead Take é imperfeito como um game sobre arte deve ser
Recheado de estrelas em seu elenco, o game abraça seus problemas de forma caótica
Créditos da imagem: Divulgação/Pocketpair
Qualquer jogo que estampasse os nomes de Ben Starr, Neil Newbon e Sam Lake em seu elenco já seria suficiente para chamar minha atenção. Um terror baseado em puzzles, com narrativa confusa e muito mais perguntas do que respostas, então? Dead Take me conquistou já nos trailers, e não seria exagero dizer que, mesmo que eu soubesse sobre sua existência há pouco tempo, ele era um dos games que mais esperava no segundo semestre.
Os nomes dos atores podem não ser conhecidos por todos, mas são eles quem dão vida a Verso em Clair Obscur, Astarion em Baldur's Gate 3 e Alex Casey em Alan Wake 2, respectivamente — neste último caso, Lake também é o criador de todo o universo compartilhado da Remedy.
Um game que reúne tanto talento teatral não poderia seguir outro caminho senão a atuação propriamente dita. Dead Take é, sim, um jogo de terror, mas também acaba servindo como um ensaio sobre a profissão, guiado de forma muito tênue por um enredo sobre relações de poder nessa indústria.
O jogador controla Chase Lowry (Newbon) em uma busca por Vinny Monroe (Starr). O galã desapareceu após uma festa na mansão do lendário produtor Duke Cain, que celebrava o início das filmagens de The Last Voyage, seu novo longa com Monroe no papel principal.
Lowry encontra uma mansão vazia, e sua investigação silenciosa é ritmada pela trilha sonora arrepiante, assim como vários ruídos vindos de direções improváveis. A cada quebra-cabeça, o protagonista e o jogador se aprofundam mais nas histórias de Cain, Monroe e do próprio Chase, ainda que tudo seja contado de uma forma nada linear ou intuitiva.
Dead Take não tem cutscenes. A narrativa se desenrola em um cinema, onde o jogador descobre, aos poucos, gravações live-action feitas pelos membros do elenco e outros profissionais envolvidos na produção de The Last Voyage. A aposta do jogo é na entrega dos atores em uma sala vazia, e em sua suficiência para nos convencer da autenticidade daquela narrativa.
O resultado nem sempre é incrível, ainda que Starr e Newbon, ambos excelentes e com visível liberdade criativa, travem uma batalha silenciosa pelo maior impacto causado. O restante do elenco tem seus pontos de brilho, mas também tem seus pontos medianos, desequilibrando a balança.
Esses deslizes passariam batido em um jogo com mais ambições em escopo. Dead Take, entretanto, é simples como um produto mecânico. Quase tudo é resolvido com cliques e caminhadas de um lado para o outro, em quebra-cabeças que ficam entre o raso e o satisfatório. O tempero do terror de jumpscares, vozes e barulhos ajuda a criar uma atmosfera mais densa, mas vai parecer gratuito para alguns jogadores.
Ironicamente, o próprio game indica que sabe dessas fragilidades e abraça totalmente a ideia de que não vai funcionar para todos. A narrativa quebrada quase nunca entrega respostas concretas, e é o maior exemplo dessa autoconsciência.
Curto e marcante, Dead Take tem seu brilho na inconsistência e no não dito. Fugir do óbvio, ainda mais num jogo independente, vai inevitavelmente resultar em altos e baixos, mas faz todo sentido que um jogo com a arte como motor tenha suas imperfeições, não é mesmo?
Dead Take
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