Em 2009, poucos poderiam prever que League of Legends, então apenas uma aposta gratuita num cenário dominado por grandes publishers, se tornaria uma das maiores potências da cultura gamer. Quase duas décadas depois, a Riot Games continua não apenas mantendo o LoL relevante, mas expandindo seus universos, moldando novos modelos de engajamento e preparando o terreno para os próximos 15 anos. Durante o Global Influencer and Press Summit de 2025, conversamos com Paul Belleza, um veterano dentre principais desenvolvedores da equipe de liderança da Riot Games, que compartilhou com exclusividade os bastidores de como a empresa pensa o presente e o futuro de League of Legends.
O Início de Tudo: Quando LoL Virou Cultura
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Qual foi o momento em que vocês perceberam que LoL tinha virado um fenômeno cultural?
Para quem trabalha na Riot desde os primórdios, como Paul Belleza, dois momentos específicos marcaram a transformação do LoL em um fenômeno cultural. O primeiro foi o Mundial de 2012, no Galen Center da USC: “Foi Azubu Frost contra Taipei Assassins, com 7 ou 8 mil pessoas na plateia. Era a primeira vez que fazíamos um torneio internacional daquele tamanho. Quando vi a galera vibrando até por uma ward, tive um estalo: agora eu entendo esportes. Parecia um jogo de futebol.”
O segundo veio seis anos depois, em 2018, com o evento de estreia do K/DA na Coreia: “Estávamos num estádio enorme, o dragão apareceu na tela, a música começou... Era inacreditável. Um nível de espetáculo que nos fez perceber o impacto cultural real que o jogo tinha alcançado.”
Filosofia de Longo Prazo: O Jogador no Centro
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Como equilibrar a preservação da ‘alma’ do LoL com as mudanças tecnológicas inevitáveis (cloud gaming, IA generativa, etc.)?
Parte do segredo da longevidade de League of Legends está em uma filosofia que, segundo o executivo, nunca mudou: “A gente quer ser a empresa mais centrada no jogador do mundo. Isso significa mais do que só fazer algo legal — significa pensar o tempo inteiro: isso conecta de verdade com a experiência do jogador?”.
Essa mentalidade atravessa desde a organização dos eventos até os ajustes mais técnicos. Ele relembra uma situação curiosa: “Em um evento, a fila de produtos não andava. A gente simplesmente largou tudo e organizou uma brigada de Rioters pra distribuir a merch de outro jeito. É esse tipo de mentalidade: meter a mão na massa pra garantir que a experiência funcione.”
Essa visão se aplica também ao planejamento de campanhas, como a integração de Arcane ao jogo e ao Worlds: “Cada peça foi pensada com meses de antecedência. Desde o trailer até os conteúdos no PBE. Tudo foi coreografado pra que o jogador sentisse uma jornada coesa.”
Temporadas, Variedade e Lições do Ato 1
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O que a Riot aprendeu nos primeiros atos que já levou a ajustes no cronograma ou na cadência de conteúdo?
Com a implementação do modelo sazonal em 2024, a Riot passou a organizar o conteúdo de forma mais temática e interligada — o que exigiu novos processos e ajustes rápidos. “A gente quer que tudo se conecte: o CG, as HQs, as missões e os mapas. Mas aprendemos que às vezes isso pode ser demais. O mapa de Noxus, por exemplo, era intenso. A paleta de cores cansava. Jogadores passam três meses naquele ambiente, então precisa ser agradável e claro.”
A escolha de Spirit Blossom como tema da segunda temporada foi feita há mais de um ano, e serviu como correção de rota: “Confirmou pra gente que variedade é boa, mas precisa ser bem aplicada. Algumas cores atrapalham a clareza de gameplay. Aprendemos que design visual precisa respeitar jogabilidade.”
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Quais métricas internas definem ‘temporada de sucesso’? Tempo médio de jogo, taxa de retorno, ou algo mais qualitativo?
A Riot analisa tudo: sentimentos, estatísticas e, sim, vendas. “A gente olha pra engajamento, tempo de jogo, retenção, performance das skins… Mas a principal métrica é: isso fez o jogo parecer mais fresco? Fez a galera querer jogar?”
Para eles, vendas de skins funcionam como termômetro de amor: “Quando uma skin vende bem, é porque ela tocou alguém. Nosso objetivo é fazer com que comprar algo valha a pena.”
Yunara e a Criação de Campeões - Quanto tempo leva?
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Vocês mencionaram um novo metagame. Podemos esperar algo que mude a leitura de rotas ou é mais um ‘sistema paralelo’, como Runas e Itens Míticos foram na época?
Yunara, a nova campeã, simboliza bem o equilíbrio que a Riot busca: acessível para jogadores casuais, mas com profundidade mecânica para pro-players. “Ela é como uma artista marcial. O jogador precisa ser deliberado, entender o momento de atacar. Tem que fluir como água. Foi isso que quisemos trazer na mecânica.”
Hoje, criar um campeão leva mais de um ano. “Nos primeiros anos, lançávamos um campeão a cada duas semanas. Agora, o espaço de design está quase todo preenchido. Cada novo personagem exige uma ideia mecânica forte e que justifique sua existência.”
E sim, várias ideias são descartadas: “Brincamos com habilidades de ultimate global o tempo todo, mas a maioria não sai do papel. Algumas são simplesmente anti-diversão.”
Novos Modos e Metajogo: Liberdade Criativa
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Vocês estão lançando um novo metagame nessa temporada. Por que escolheram este formato, pode falar mais dele?
Com a introdução do metajogo Battle of Koshin, um beat’em up temporário estrelado por Xin Zhao e Yunara, a Riot se permite ousar com formatos que seriam impensáveis no Summoner’s Rift. “É difícil contar histórias dentro de uma MOBA. Esses jogos paralelos ajudam a expandir o universo de forma acessível, divertida e menos exaustiva que o Rift.”
Segundo ele, modos alternativos são ideais para experimentação. “A Arena, por exemplo, foi algo que nunca pensaríamos anos atrás. Mas serve um tipo de jogador diferente, e funciona. O mesmo vale pro Brawl, que foca em ação direta sem preocupação com objetivos.”
Tecnologia, Anti-Cheat e Futuro
Sobre o uso de novas tecnologias como IA, consoles com mouse e outras inovações, a resposta é cautelosa mas otimista: “Nosso foco é sempre: como isso serve o jogador? League é, antes de tudo, um jogo de PC com coordenação intensa. Mas nunca dizemos nunca.”
Com um motor gráfico proprietário, a Riot aposta na otimização constante para manter o jogo acessível: “A graça de LoL sempre foi rodar até nos PCs mais simples. A gente quer continuar evoluindo visualmente, sem abandonar esse princípio.”
E em relação ao anti-cheat? “Temos várias frentes ativas, inclusive com machine learning. Não podemos falar de tudo, mas é uma batalha constante.”
LoL em outras plataformas além do PC (Nintendo Switch 2?)
Quando questionado sobre a possibilidade de League of Legends chegar a outras plataformas no futuro — como consoles ou até experiências em nuvem — a resposta da Riot foi cautelosa, mas aberta à inovação. Segundo o executivo entrevistado, a prioridade continua sendo preservar a essência do LoL, mesmo diante das transformações tecnológicas: “Nosso foco é sempre: como isso serve o jogador? League é, antes de tudo, um jogo de PC com coordenação intensa. Mas nunca dizemos nunca.”
Ele explicou que o time de tecnologia da Riot explora frequentemente novos formatos e experimentos, mas qualquer adaptação do jogo principal precisaria respeitar a complexidade e o nível de controle que são marcas registradas da experiência no PC: “A gente já testou coisas. Mas mudar de plataforma é mais do que adaptar controles — é repensar ritmo, interface, até a expectativa do jogador. Isso muda tudo.”
Embora não tenha confirmado nenhum projeto específico, a menção ao cloud gaming e à observação de que “nunca dizem nunca” sugere que a Riot está atenta aos movimentos da indústria — especialmente com a popularização de jogos multiplataforma e experiências híbridas como acontece em Valorant e League: Wild Rift.
E o Brasil?
Ficou clara a admiração da equipe pelo impacto regional do CBLOL e da comunidade latino-americana. Planos específicos de expansão ou infraestrutura local não foram mencionados — mas o carinho ficou no ar.
A entrevista deixa claro que League of Legends é hoje mais do que um jogo: é uma plataforma cultural construída com intencionalidade, testes rigorosos e muito planejamento. A Riot não finge saber todas as respostas, mas deixa claro que tenta acertar com experimentação e escuta ativa da comunidade.
Seja pela emoção de um estádio lotado ou pela escolha cuidadosa de cores no mapa, a paixão pelo jogador continua sendo a pedra fundamental da casa de Runeterra.
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