Após a revelação de Resident Evil 9: Requiem no Summer Game Fest, ficou quase impossível discordar que a Capcom se tornou a maior empresa dos games na atualidade. Emendando sucessos comerciais e de crítica com pouquíssimos pontos de baixa, a desenvolvedora encontrou uma fórmula de alta produtividade, entregando múltiplos títulos por ano e sem perder, de forma alguma, em qualidade.
Argumentos não faltam para sustentar essa excelente fase, mas talvez o mais incontestável seja um que conversa mais com o lado corporativo. Enquanto quase todos os estúdios do mundo estão demitindo funcionários, ou simplesmente encerrando operações, a Capcom anunciou aumento salarial para todos seus empregados em 2024, e recentemente revelou que irá realizar uma expansão em suas equipes, inaugurando um novo escritório no Japão.
Olhando em direção aos jogos que saíram nesse período, Monster Hunter Wilds e Dragon's Dogma 2 podem ser os mais frescos na memória, mas é possível traçar uma linha do tempo desde 2017, quando Resident Evil 7 foi lançado. O game marcou a virada de chave para a empresa, que precisava se reerguer após anos dificílimos na primeira metade da década passada.
Resident Evil 6 passou longe de ser um sucesso. Street Fighter 5 chegou com severos problemas e também não teve grande aceitação. Os anos 2010 ainda tiveram DmC: Devil May Cry, como uma tentativa falha de reinventar a já consolidada franquia de ação — mesmo que, olhando em retrospecto, esse game passe longe de ser ruim.
Após 2016, entretanto, a empresa passou por uma reorganização em seu gerenciamento, visando impactar ainda mais o público do ocidente com seus novos títulos. Não é à toa que Monster Hunter World, de 2018, tenha esse nome: a ideia era justamente fazer alusão à internacionalização da franquia.
“O fato de termos chamado o jogo de Monster Hunter World é realmente como um aceno para a nossa vontade de atrair a audiência mundial, que queríamos que realmente se aprofundasse e experimentasse Monster Hunter pela primeira vez", disse Ryozo Tsujimoto, produtor executivo da série, em entrevista ao IGN.
World é só um grande exemplo do carinho maior que a própria Capcom passou a ter com as suas grandes franquias nos anos seguintes. Depois do fracasso de DmC, Devil May Cry 5 reconquistou fãs e poderia, tranquilamente, estar entre os indicados de Jogo do Ano em 2019, além de ter levado o troféu de Melhor Jogo de Ação no The Game Awards.
O TGA, por sinal, optou por reconhecer Resident Evil 2 em sua principal categoria naquele ano, ainda que o jogo tenha sido superado por Sekiro: Shadows Die Twice — o que de forma alguma apaga o sucesso do remake.
Dali pra frente, é difícil apontar erros na trajetória da Capcom. Resident Evil Village também esteve entre os concorrentes a Jogo do Ano; Street Fighter 6 conseguiu trazer a franquia de volta para os holofotes; os remakes de RE 3 e 4 foram bastante elogiados, ainda que não tanto quanto o de RE 2.
Trazendo para os dias atuais, Dragon's Dogma 2 foi um ótimo jogo esquecido em meio a uma enxurrada de games excelentes em 2024. No mesmo ano, Kunitsu-Gami não chegou a fazer tanto barulho com as vendas, mas já mostrava que a empresa estava em posição confortável o suficiente para arriscar em formatos diferentes.
Em 2025, Monster Hunter Wilds está praticamente garantido entre os indicados a Jogo do Ano, e os dois últimos grandes eventos da indústria foram marcados por anúncios gigantes da Capcom. A sequência de Okami, com o retorno de Hideki Kamiya na direção; a volta de Onimusha; o renascimento de Pragmata e, claro, o anúncio de Resident Evil 9.
Todos esses exemplos são fruto da reorganização gerencial na desenvolvedora, mas seria injusto não mencionar o papel do lado técnico. Normalmente, saber o nome de um motor gráfico significa que ele tem bugs, é datado demais ou não tem a versatilidade necessária.
A RE Engine, que veio junto dessa mudança interna na desenvolvedora, é justamente o oposto. O motor ficou famoso por atender diferentes tipos de demanda, e se tornou tão reconhecível a ponto de sabermos como é a aparência de um ovo frito feito nessa plataforma, ou como os cabelos de personagens da Capcom irão se comportar em uma cutscene.
Com aparentemente tudo a seu favor, a Capcom vive quase em um universo separado do resto da indústria. Sucessos garantidos em suas grandes franquias e espaço para arriscar com novas ideias, como em Pragmata, são confortos que qualquer estúdio daria tudo para ter atualmente. Claro, a roda dos games sempre gira e nada garante que a empresa vai manter a mesma posição daqui alguns anos — mas por enquanto, o trono está bem seguro.
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