Um Louco Apaixonado
Comédia sobre diferenças entre EUA e UK poderia ser menos hollywoodiano e mais inglês
A mídia que cobre atores, atrizes e celebridades nos EUA é oposta da britânica. Na Inglaterra tabloides se especializam em tirar sarro de poses flagradas por paparazzi, já as revistas do lado de cá do Atlântico sobre o circo hollywoodiano normalmente passam pelo crivo dos RPs dos artistas antes de irem às bancas. A grosso modo, nos EUA a mídia é aliada. Na Inglaterra, o inimigo.
A base da comédia How to Lose Friends and Alienate People - que no Brasil perdeu o irônico sentido original, "como perder amigos e alienar pessoas", e ganhou o título genérico Um Louco Apaixonado - é o livro de memórias homônimo de Toby Young. Nele, o Truman Capote inglês hétero, como Young ficou conhecido, conta como passou cinco anos de calvário tentando virar editor da revista Vanity Fair em Nova York para no final só colecionar desafetos por conta do seu humor "diferente".
megan fox
jeff bridges
kirsten dunst
Daria um excelente filme essa premissa, um Diabo Veste Prada sem o desfile de vestidos, com direito a piadas internas sobre astros, filmes, chefes de redação. Para interpretar o alter-ego de Toby Young, Sydney Young, a MGM aprovou o nome de Simon Pegg, ótimo em comédias inglesas (Todo Mundo Quase Morto) mas mal aproveitado em pastelões hollywoodianos (Maratona do Amor). Daria certo... se fosse um filme 100% britânico, ao invés de uma co-produção dos dois países.
Uma vez produzido nos EUA, Um Louco Apaixonado se rende às generalizações da comédia romântica enlatada de Hollywood. Sydney Young tem lampejos de escárnio (na maioria, referências pop que vão de Big Lebowski a Con Air) mas é também um clássico herói desamparado de romcom: se apaixona pela vagaba mas só encontra o verdadeiro amor naquela amiga vinda do interior. Segundo Hollywood, só quem nasceu em cidade pequena ama de verdade.
É nessa mistura de situações-clichê e sarcasmo metalinguístico que o diretor Robert Weide (conhecido por outro trabalho que fala sobre Hollywood, o seriado Segura a onda) não consegue se equilibrar. Há uma evidente declaração de amor aos talentos "puros" - o protagonista que digita febrilmente um artigo sincero, a garota que escreve um romance, o pôster de Godard no escritório do chefe, a música de Nino Rota em A Doce Vida - mas a trama nivelada por baixo anula qualquer arroubo de originalidade.
Então a cada frase esperta de Pegg aguarde uma gag física típica (o cão que cai pela janela, a comida que voa...), a cada piscadela para o espectador cinéfilo espere, em seguida, ser tratado como idiota (o cara que escuta atrás da porta a mulher falar mal dele, a garota apaixonada que o descobre com outra na cama justo na hora em que se reconciliariam...). Vendo um filme como Um Louco Apaixonado dá pra entender por que tantos casais se desencontram nas comédias românticas. Se pelo menos as pessoas telefonassem antes de chegar, na primeira hora do dia, batendo sem avisar na porta dos outros, metade de todos esses mal-entendidos amorosos seriam evitados.