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Um Corpo que Cai | Obra de Hitchcock completa 60 anos como um dos melhores filmes já feitos

Longa sobre obsessão continua influenciando a cultura pop

09.05.2018, às 17H28.
Atualizada em 11.05.2018, ÀS 04H00

Quando Um Corpo Que Cai (Vertigo) começa, a primeira sensação do público é de incômodo: a câmera está próxima demais ao rosto e aos olhos de uma pessoa e parece querer mostrar que há vários segredos nesse olhar. Esse sentimento se repete várias vezes no filme de Alfred Hitchcock, que completa 60 anos de lançamento em 9 de maio e continua influenciando a cultura pop.

Divulgação

Porém, em seu lançamento em 1958, a produção não fez tanto sucesso quanto outras obras do diretor, como Janela Indiscreta (1954). O motivo disso, segundo Patricia Hitchcock, filha do diretor, é que o filme estava à frente de seu tempo. “Tem todos os tipos de medos e fobias e isso é o que as pessoas querem ver agora. Não fez sucesso antes. Foi moderado, mas não como Psicose e Os Pássaros. É interessante ver como os jovens vão assistir hoje e eu acho que eles gostam”, disse em 1996, época que a obra ganhou uma versão restaurada.

Mas o que torna esse filme tão atrativo? Uma das respostas é a grande sensação de mistério que permeia a história. Quando Scottie (James Stewart), que está lidando com uma fobia de altura após um grande trauma, começa a investigar a mulher de seu melhor amigo, não fica claro qual história está sendo contada. Ao invés de respostas, quem assiste começa a ter muitas perguntas: qual será o segredo da esposa? Será que Midge, a melhor amiga de Scottie, tem algo a ver com isso? E a fobia do protagonista, mostrada apenas no começo, terá importância? A resposta de Hitchcock a isso é um filme que se revela aos poucos e, além de responder às dúvidas do público, apresenta outros aspectos ainda mais profundos, como loucura, obsessão, sensualidade e cobiça.

Ao investigar Madeleine, interpretada por Kim Novak, Scottie se apaixona, mas não de uma forma convencional: para ele, as atitudes intrigantes da mulher a tornam quase uma “entidade” e sua reação a isso é uma obsessão para conseguir o que quer. Hitchcock revelou que, para ressaltar essa ideia, mostrou a mulher com um filtro de neblina em várias cenas. Porém, quando o público pensa que vai testemunhar essa história de amor, algo inesperado acontece com Madeleine e Scottie entra em um estado depressivo até conhecer Judy e resolver fazer dela sua nova paixão. Um dos momentos mais icônicos, e que realmente demonstra a fixação do protagonista, é quando ele decide comprar roupas para que Judy fique igual a Madeleine.

“No cinema, todos os esforços para ele recriar uma mulher são mostrados de um modo que parece que ele quer despir Judy, ao invés do contrário”, afirmou Hitchcock em uma de suas famosas entrevistas ao também diretor François Truffaut. No começo, Judy resiste a isso, mas aos poucos ela começa também a cobiçar a vida, o visual e o amor que um dia foi de Madeleine. Além de uma mulher sozinha, Judy é carente de afeição e sabe que só terá o amor de Scottie se concordar em “ser” outra pessoa, algo que se torna até irônico dentro da história.

Todas essas pequenas pistas de uma história maior prendem o público e fazem com que cada um se sinta um pouco investigador ao lado de Scottie. E Hitchcock sabia exatamente como causar essa sensação. “Ele fez seus filmes para o público, não para os críticos. Claro, ele fica chateado se os críticos não gostam do filme, mas seu motivo principal é fazer uma produção para o público. Ele fez esse filme para você”, completa a filha do diretor.

Reprodução

Contudo, se o filme não fez tanto sucesso em sua época de lançamento, ele se tornou icônico com o passar das décadas. Tanto que a revista Sight and Sound, que realiza votações a cada dez anos, elegeu Um Corpo Que Cai o Melhor Filme de Todos os Tempos em 2012, desbancando pela primeira vez Cidadão Kane, de Orson Welles. Já na cultura pop, uma das influências mais icônicas e recentes é a série de TV Mad Men, que faz várias alusões à queda de Don Draper (inclusive na abertura), como se ele estivesse mergulhando em seus próprios traumas e loucuras.

O que faz de Um Corpo Que Cai um longa tão inesquecível é sua capacidade de discutir temas universais e inerentes ao ser humano, ao mesmo tempo em que deixa o público fascinado com suas reviravoltas. Uma obra-prima, de fato.

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