Filmes

Notícia

Tropa de Elite - Festival do Rio 2007

O filme nacional mais comentado de 2007

21.09.2007, às 12H00.
Atualizada em 08.01.2017, ÀS 21H01

Tropa de Elite (2007) é o filme nacional mais comentado na mídia nos últimos meses. A discussão, porém, nunca foi em torno de suas qualidades, mas sim sobre as milhares de cópias piratas vendidas pelas esquinas da Cidade Maravilhosa. O consumo em massa ilegal foi praticado por todas as camadas sociais.

Tentando remediar a situação, a assessoria do filme chegou a divulgar que essa versão comercializada nas ruas não era a final. No trailer foi acrescentado a seguinte frase: "o verdadeiro e ainda inédito...", na tentativa de levar as pessoas ao cinema. Na verdade, o longa sofreu ínfimas alterações. Ganhou uns 4 minutos a mais e os intertítulos foram retirados. Mas isso não justifica desistir de assisti-lo no cinema. A produção deve ser vista na telona até para que as intenções do diretor José Padilha (Ônibus 174) possam ser apreciadas da maneira que foram planejadas. Principalmente porque, por melhor que seja o sistema de doméstico de cada pessoa que assistiu à versão pirata, nada substitui a magia da sala escura.

Tropa de elite

None

tropa de elite

None

tropa de elite

None

Independente dessa polêmica fica a dúvida: Tropa de Elite merece uma ida ao cinema por seus méritos artísticos? Sim. O filme é um eletrizante policial de ação, que não deve em nada às produções estrangeiras. Os efeitos especiais foram feitos por Phil Neilson, "importado" diretamente de Hollywood. A trama não perde tempo com firulas e nem flerta com a estética vazia estilo videoclipe de um Cidade de Deus. A narrativa é uma verdadeira porrada seca e monocórdia, tendo como cenário o conflito entre a policia e os traficantes dos morros cariocas.

O roteiro escrito por Bráulio Mantovani, Padilha e Rodrigo Pimentel (ex-oficial do Bope) ainda mescla melodrama com ótimas atuações do elenco. Wagner Moura interpreta seu personagem, o capitão Nascimento, com várias nuances psicológicas. Apesar de ser um soldado indestrutível em combate, fora do conflito medos e dúvidas permeiam sua consciência. Ele agrupa os sentimentos de dois iniciantes da Tropa. Matias representa o cérebro, interpretado de forma contida por André Ramiro. Neto, feito por Caio Junqueira, representa os músculos. Ambos desenvolvem com muita propriedade essas características de suas figuras dramáticas.

A trama acompanha a vida do capitão Nascimento e o dilema de escolher um substituto para comandar sua tropa. Ele está cansado da guerra contra o tráfico que envolve bandidos, policias corruptos da PM e a classe média. Ao mesmo tempo, está esperando seu primeiro filho e quer montar uma família com sua esposa, com a esperança de não ter que conviver diretamente com a violência que é obrigado a participar todos os dias. Encontrar um sucessor será uma tarefa hercúlea dentro da corporação.

Padilha ainda investe em pequenas subtramas para traçar o perfil dos envolvidos direta e indiretamente com o tráfico de drogas. Percebe-se que toda a sociedade está interligada. Uns como causa do problema e outros sofrendo as conseqüências. E talvez esteja ai o calcanhar de Aquiles do filme. Infelizmente, Tropa de Elite exibe conotações sociológicas sustentadas por algo que não passa de filosofia de botequim: se os jovens riquinhos das universidades não consumissem drogas, não existiria tráfico. Se a PM ganhasse um salário digno e condizente com sua profissão de alto risco, não seriam corruptos. Já os soldados do Bope são retratados como incorruptíveis, os bastiões da integridade. Eles são a única solução dos problemas da criminalidade que assolam o Brasil. Mas a discussão é muito mais séria do que se imagina.

Os mais incomodados irão inclusive acusar o filme de fascista, pela forma que os vilões são tratados. São torturas bárbaras praticadas por homens que deveriam estar protegendo a população. Mas mesmo essas cenas chocantes provocarão uma espécie de catarse em vários espectadores. Para esse grupo, o filme serve como vingança pelos inúmeros crimes sofridos nas mãos dos bandidos. Já que não dá para contar com uma justiça séria e confiável, o jeito é assisti-la sendo praticada sem limites na telona.

Assim, para apreciar Tropa de Elite, o espectador precisa esquecer as discussões sociológicas e filosóficas e embarcar na magia do cinema. Ter em mente que o filme é pura adrenalina com o objetivo de entreter. Uma espécie de 300 tupiniquim que ao final da sessão os mais exaltados terão vontade de se juntar a tropa e gritar: "Caveira!".

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.