Trilogia Indiana Jones
Trilogia Indiana Jones
Meu pai vivia me falando do deslumbramento de ir ao cinema na época em que ele era jovem. Os nomes que vinham à baila nessas conversas eram invariavelmente Jim das Selvas, Flash Gordon, Tarzan, e alguns outros que não me lembro agora. Acho que nunca cheguei realmente a entender o que ele queria dizer. Afinal de contas, meu conceito de herói aventureiro passava longe daquelas figuras com a cara pintada de branco, batom na boca, travando lutas extremamente mal coreografadas na frente de cavernas de isopor, enquanto uma mocinha dava berros (mudos, é lógico) vestida dos pés à cabeça.
Talvez exatamente por não captar esse fascínio, eu não entendi quando ele chegou em casa tão excitado, após voltar do cinema, onde tinha assistido a Caçadores da Arca Perdida. Nessa época, o nome Indiana Jones não significava nada para mim. Aliás, para ninguém. Nem nos títulos constava (fato que foi, justamente corrigido agora). Eu era apenas um moleque de 10 anos, e mesmo minha paixão por Guerra nas Estrelas estava apenas começando, portanto, não ligava Harrison Ford à Han Solo, ainda.
O fato, é que os seriados de cinema eram o ápice do entretenimento, nos tempos de meu pai. Muita coisa havia mudado no cinema dos seus tempos para os da minha geração em 1985. Um moleque como eu não via sentido naqueles seriados, mas, para meu pai, a emoção daquelas aventuras ingênuas e movimentadas, era bem real.
Bem, depois daquele monte de elogios, tudo que eu queria era correr para o cinema mais próximo, e ver o tal filme. Fiquei querendo. Muitas caveiras e sustos, para uma criança da minha idade. De modo que minha primeira tentativa de conhecer Indiana Jones resultou infrutífera.
Alguns anos se passaram (é bom lembrar, os filmes não eram lançados em vídeo naquela época) e um novo Indiana chegou aos cinemas.
Para falar a verdade, eu nem me lembrava do filme anterior. Simplesmente fui ao cinema, tal qual fazia todo final de semana. E aí entendi perfeitamente o que meu pai queria dizer.
Foi acachapante. Meus olhos ficaram simplesmente grudados na tela pelas quase duas horas de projeção de Indiana Jones no Templo da Perdição.
Logo de princípio, a cena em Shangai. Aquele balé esquisito, com todo mundo chutando diamante para cá, antídoto para lá, uma maravilha. Me encontrei desde o princípio.
Só muito mais tarde, fiquei sabendo que, na verdade, a história de Templo se passava anteriormente a Caçadores da Arca Perdida. Involuntariamente, acabei vendo os filmes na ordem cronológica certa.
É verdade de que Templo da Perdição é o pior dos três filmes, e Steven Spielberg é o primeiro a reconhecer isso. O filme exagerou nos tons sombrios, deixou Indy com uma personalidade meio dúbia (já que no princípio, parecia estar negociando diamantes, e não cita o museu), e acabou tirando de cena um elemento que é crucial nos outros dois filmes: nazistas. Mesmo assim, conseguiu cenas memoráveis. A melhor, com certeza, é a corrida de carrinhos, que utilizou stop-motion, com bonecos de massinha de um modo impressionante até para nossos padrões digitais de hoje em dia.
Dizer, no entanto, que é o pior filme é até injusto. Melhor dizer que (perdoem-me os gramáticos) é o menos bom.
Então, fiquei sabendo que havia mais um filme de Indiana Jones, e eu não tinha visto. Demorei para conseguir assistir. Infelizmente, a solução foi ver um vídeo pirata (naquela época, era preciso recorrer a certas estratégias escusas), no colégio onde estudava.
Mesmo sem o impacto da tela grande, Caçadores da Arca Perdida se destaca. É, sem sombra de dúvida, o melhor dos três filmes, e assustadoramente bem conduzido. Harrison Ford parecia ter atuado como Indy toda sua vida, de tão à vontade que se sente no papel. Quase tivemos Tom Selleck como Indiana. Escapamos dessa fria por graças e bênçãos do contrato (louvado contrato) que ele tinha com a série Magnum. Já imaginou um Indiana Jones de camisa florida&qt;&
Caçadores é ainda mais bem-feito que Templo da Perdição. Suas cenas de ação vão ficar pra sempre na história. Provavelmente daqui a trinta anos ainda serão empolgantes. O humor entra na hora certa, nunca quebra o andamento da história. E poucas vezes foi possível definir tão bem um personagem da primeira vez que ele aparece.
Quando Indiana Jones e a Última Cruzada estreou, eu (e meio mundo) já era um fã de carteirinha da série. Já havia lido histórias em quadrinhos (a maioria muito ruim, mas, pelo menos uma, de John Byrne, tem o mesmo clima do filme), novelizações dos dois filmes anteriores (medíocres, é bom dizer) e, é lógico, já os havia visto diversas vezes.
Ultima Cruzada fica delicioso por revelar lacunas na vida do herói. Acompanhamos o jovem Indiana, conhecemos seu pai, ficamos sabendo do porquê do seu nome etc. Além disso, foi uma senhora aventura. Acima de tudo, é um filme sincero, desses que Spielberg parece ter feito sorrindo.
Sean Connery se encaixou tanto no filme que fica difícil imaginar um próximo filme sem ele no elenco.
E tudo o que faltava em Templo está de volta. Um monte de cenários, aviões cruzando mapas, mulheres fatais para Indiana fazer a festa e... nazistas!!! Desta vez, até o próprio Hitler entra na dança. Enfim, um filme perfeito, para a trilogia (que pode deixar de ser um trilogia, como veremos).
Desde então, a possibilidade de um novo filme vem sendo cogitada. No começo, Spielberg e Ford diziam que bastava um bom script cair em suas mãos que ambos fariam. E nunca que o script aparecia.
Agora, dizem que essa nova aventura está no papel. Especula-se que possa ser sobre um certo continente perdido (aproveitando o sucesso do game Indiana Jones e o Destino de Atlântida) ou sobre a procura da Arca de Noé. Dizem que Ford gostaria de um roteiro que levasse em conta sua idade, e mais uma Arca da Aliança cheia de boatos.
Desta vez, porém, é a agenda do diretor e do ator que não vem cooperando. Até onde se sabe, Spielberg está metido com um drama histórico oriental, uma ficção científica com Tom Cruise (Minority Report), e por último, assumiu a batuta do filme que Stanley Kubrick deixou incompleto.
Já Harrison Ford... Bem, ele parece estar mais interessado em viver Jack Ryan mais uma vez, em A Soma de Todos os Medos, já em pré-produção. Isso, e em se envolver em projetos que exijam cada vez menos dele. A verdade é que o bom e velho Harrison vem devendo há algum tempo um filme que nos lembre que grande astro ele é. Ninguém quer vê-lo em bombas como Destinos Cruzados. Porém, os rumos parecem não mudar. A última dele foi cancelar sua participação em Traffic, um desses filmes de baixo orçamento e grande roteiro. Uma pena.
Mas, como dizem, a esperança é a última que morre. E a minha esperança é que eu ainda possa ver um novo e legítimo filme do grande Indiana Jones na telona. Por enquanto, é bom me contentar com A Múmia, que é legalzinho, e tem a seqüência confirmadíssima.