Filmes

Entrevista

Toni Erdmann | "É uma tentativa de extrair ternura do encontro entre duas pessoas", diz diretora

Elogiado filme alemão chega ao Brasil esta semana

08.02.2017, às 16H34.
Atualizada em 08.02.2017, ÀS 17H03

Saudada com alegria pelo planisfério cinéfilo, por representar a volta de Jack Nicholson às telas após um hiato de seis anos, a notícia de que o astro vai protagonizar a refilmagem americana do sucesso germânico Toni Erdmann (que estreia nesta quinta (9) no Brasil), ao lado de Kirsten Wiig, não chega a ser uma surpresa para sua realizadora, a alemã Maren Ade. Isso porque desde o dia em que recebeu o Prêmio da Crítica (votado pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica – Fipresci), no Festival de Cannes, em maio passado, na véspera da entrega da Palma de Ouro (que quase levou), a diretora de 40 anos foi informada do interesse hollywoodiano em sua hilária comédia, favorita ao Oscar de melhor filme estrangeiro, em 26 de fevereiro. Ponha no currículo de vitórias deste longa-metragem sobre o reencontro de pai e filha 32 láureas, incluindo o European Film Award, o galardão máximo da indústria audiovisual do Velho Mundo. Houve, em suas primeiras exibições, o boato de que Steve Martin faria o remake, mas a escalação de Nicholson eleva ainda mais o cacife do projeto e da cineasta, conhecida antes por Todos os Outros (2009) e Floresta para as Árvores (2005).

Como eu posso opiniar sobre o que farão desta história? Aliás ninguém nunca esperou muito dela quando eu terminei a montagem, por conta de sua duração de 2h42m. Mas aí as coisas foram se arejando, as pessoas foram rindo. Só posso garantir que ela é uma tentativa de extrair ternura do encontro entre duas pessoas sem encaixe com o resto do mundo”, disse ao Omelete, em Cannes, Maren Ade, cujos três longas estão em retrospectiva de 9 de fevereiro a 5 de março no Instituto Moreira Salles, do Rio. “Eu sei que Toni Erdmann, com quase três horas, tem um tamanho que foge do esperado, mas havia o que contar... e as pessoas estão abertas a filmes que falam das questões de complementaridade afetiva, por maior que eles possam ser. Séries de TV duram várias temporadas e as pessoas as devoram inteiras, de uma vez. Este é um filme sobre gente solitária. E como sobre como se lida com a solidão... mesmo a dois”.  

Esta produção germânica de três milhões de euros narra as peripécias de um pianista fracassado, Winfried (vivido pelo veterano ator austríaco Peter Simonischek), que após perder sua já idosa mãezinha e seu cachorro de estimação, decide correr atrás do único bem que sobrou de seu passado: sua filha, a empresária Ines (Sandra Hüller). O problema é que ela, uma workaholic de carteirinha, guarda uma mágoa irreconciliável do pai, por conta da ausência dele em sua formação. A forma que Winfried encontra para poder ficar perto de Ines e obter dela uma segunda chance é se disfarçar das figuras mais estapafúrdias, usando uma peruca e uma dentadura falsa para se transformar num exótico personagem fictício: o embaixador Toni Erdmann, cujo visual e o falar estrambóticos fazem dele o centro das atenções, constrangendo Ines.

Era um risco fazer um filme sobre mágoas. E eu buscava o contrário disso. A preocupação maior que eu tive durante os 50 dias de filmagens foi não construir a relação entre eles em cima de algum trauma familiar do passado, sem tragédias: Winfried e Ines são apenas duas pessoas que perderam o contato e se desligaram ao longo dos anos, com o agravante de que ela virou uma cidadã do mundo, distante do ninho, do berço, enquanto ele ficou preso em si mesmo, parado em um mundinho sem visibilidade para um artista do seu talento”, disse Maren. “Evitar as experiências traumáticas era uma forma de tornar esta história algo mais universal, aumentando seu potencial de identificação com a plateia e evitando bandeiras ou teses. Aqui temos um pai, uma filha e uma incapacidade de acerto”. 

Entre todas as sequências do longa, a mais comentada (por arrancar gargalhadas aos quilos) é a aquela em Winfried, fantasiado como um monstro peludo, invade uma “festa do cabide” dada por sua filha, na qual acontecem as mais estapafúrdias situações.

Temos em Toni Erdmann um grande roteiro e atuações esplêndidas de Sandra e Simonischek, mas também temos um retrato raro e comovente da relação pai e filha, como há muito não se via no cinema mundial”, disse a crítica turca Alin Tasciyan, presidente dos jurados da Fipresci em Cannes, ao conceder o prêmio a Maren.

Para a cineasta, o momento de bonança que hoje vive é fruto de sua persistência. “Eu fico feliz que as pessoas estejam se sentindo tocadas por uma ideia de comédia fora do padrão”, disse Maren. “Sempre vi este filme como a saga de um homem desesperado que tenta fazer graça para recuperar o carinho da filha. Mas tudo é ponto de vista”.  

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