Tempo

Créditos da imagem: Universal Pictures/Divulgação

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Entenda o final de Tempo, novo filme de M. Night Shyamalan

Cuidado com spoilers abaixo!

30.07.2021, às 10H00.
Atualizada em 30.07.2021, ÀS 13H37

[Cuidado com spoilers de Tempo]

Não é nenhuma surpresa que Tempo, novo filme de M. Night Shyamalan tem um significado por trás. O diretor americano, conhecido por sucessos como O Sexto Sentido e Sinais, é famoso por desvendar enigmas que intrigam o público - principalmente em reviravoltas finais -, mas por mais que seus filmes sejam considerados enigmáticos, eles não são exatamente sutis. Se tem uma coisa que Shyamalan gosta de fazer é explicar o que se passou, e Tempo não é exceção. A questão é que os acontecimentos concretos de seus filmes raramente são seu assunto principal, e servem mais como um veículo para uma mensagem maior. 

Assim como Sinais usou a ameaça alienígena para falar sobre fé e família e A Vila retratou uma comunidade isolada para falar de dor e trauma, Tempo usa o thriller psicológico e uma praia sinistra para falar sobre a importância do presente. Bem mais semelhante à Fim dos Tempos quando se trata da filmografia de Shyamalan - afinal, é sobre um grupo de indivíduos não relacionados que se vê ameaçado por uma armadilha inescapável apresentada pela própria natureza -, Tempo termina também com uma apresentação direta dos motivos pelos acontecimentos, mas desta vez, de modo um pouco mais inventivo. 

Como visto em todas as prévias de Tempo - e, inclusive, revelado até demais - o 14º filme da carreira de Shyamalan trata de um grupo formado por três famílias que passa um dia em uma praia onde o tempo anda rápido demais. Isso não quer dizer que o dia dure menos; apenas que as células envelhecem mais rápido, fazendo com que cada um dos humanos naquela costa sinta os efeitos do tempo de modo acelerado em seu corpo. Não demora para que uma pequena bebê de três anos se torne uma adolescente, e apesar do crescimento das crianças chamar muito mais atenção, lentamente os adultos presentes também começam a sentir a derrocada. 

Quando os visitantes da praia finalmente chegam à conclusão de que existe algo nas rochas que causa o envelhecimento acelerado, eles também percebem que a fenda pela qual entraram no local seria impossível de atravessar de volta. Como explica Jarin (Ken Leung), um enfermeiro, o processo de retornar à normalidade é parecido com o retorno à superfície de uma grande profundidade, e as diferenças de pressão são grandes demais para o cérebro humano. 

Com o desenrolar do filme, aqueles mesmos indivíduos estranhos entre si começam a apresentar semelhanças. À medida em que cada núcleo familiar se apresenta, percebe-se que há sempre alguém com algum mal de saúde, até em Mid-Sized Sedan (Aaron Pierre), um rapper que já se encontrava no local, que sofre de uma doença sanguínea; Prisca (Vicky Krieps), mãe da família protagonista, tem um tumor em crescimento; Charles (Rufus Sewell), um médico, tem esquizofrenia; e Patricia (Nikki Amuka-Bird), uma psicóloga, sofre de ataques de epilepsia. É acelerado, portanto, o agravamento destes mesmos males, exceto para Patricia, que passa aproximadamente dezesseis anos - ou oito horas no tempo da praia - sem convulsionar. 

Afinal, o que os levou à praia?

Pela variedade de sintomas e condições médicas, já seria possível imaginar que nossos personagens foram vítimas de um experimento, ainda mais porque eles foram selecionados pelos funcionários do hotel de modo bem específico. Adicionado às breves menções à uma empresa farmacêutica chamada Warren & Warren (um possível aceno à Johnson & Johnson?), as suspeitas de que os personagens foram cobaias de um teste científico se comprovam na reta final. 

É importante lembrar que estes mesmos indivíduos - como pode ser visto logo no início do filme - são presenteados com coquetéis cortesia assim que chegam no resort. A palavra “coquetel” não é coincidência - eles foram todos cobaias da eficácia de diferentes medicamentos, e colocados na praia para fazer uma única testagem humana, tornando desnecessário um teste farmacológico que dure anos. Ao fim do filme, os farmacêuticos dizem com todas as palavras que o teste de Patrícia foi um sucesso, e o remédio para epilepsia foi comprovadamente eficaz. 

Toda a conclusão acontece a partir do instante em que o funcionário do hotel que levou os visitantes à praia - interpretado pelo próprio Shyamalan - não vê mais ninguém no local, chegando à conclusão de que os cobaias foram todos vítimas do tempo. Isso, no entanto, foi um engano, já que Trent (interpretado por Nolan River, Alex Wolff, Emun Ellitt) e Maddox (interpretada por Alexa Swinton, Thomasin McKenzie e Embeth Davidtz) escapam da praia e conseguem interromper a experiência. 

Mas como?

Retornemos ao começo. No início do filme, quando ainda estão nas dependências do resort, Trent conhece o pequeno Idlib (Kailen Jude), sobrinho do dono do resort, que diz não ter amigos, já sinalizando que seus conhecidos talvez sumam sem explicações. Quando vê que a família de Trent é convidada à praia pelo seu tio, Idlib faz uma manobra espertinha e fornece ao novo amigo a única informação privilegiada que tem do local, em forma de um enigma. A solução - “meu tio não gosta dos corais” - é o que leva à salvação do casal do irmãos. 

Vendo uma colônia de corais perto da praia, os irmãos conseguem nadar até lá e eventualmente até percebem que o local tem peixes, ao contrário da praia, onde nenhum animal consegue sobreviver. Do mesmo modo que um tubo de metal protege dos efeitos de um raio-x, a colônia previne o envelhecimento dos irmãos, que então conseguem dar a volta na costa e retornar ao resort. Graças à um acidente que prende Maddox a um coral, os irmãos ficam tempo demais sem voltar a superfície, levando o supervisor do experimento a achar que ambos estavam mortos. Carregando consigo o diário que encontraram na praia - que reúne os nomes de outros visitantes do passado - Trent entrega o objeto a um hóspede do hotel que era policial, e é entendido que a Warren & Warren será responsabilizada por seus crimes. 

E o que tudo isso significa?

Além de entregar a Shyamalan o seu papel mais metalinguístico até hoje, como o supervisor de um experimento e monitorando os movimentos de cada um de seus personagens, mais do que um suspense, Tempo é um exercício temático em torno da passagem do tempo. Tudo isso - a explicação final, a indústria farmacêutica, os corais e a revelação da verdade - pouco importa perto do tema central do filme, da fugacidade do tempo e a importância de viver no presente. 

Construídos de modo nada sutil, o casal protagonista é feito de opostos: Guy é um atuário, e analisa de riscos de uma seguradora, e por isso só planeja e calcula o futuro, e Prisca é uma curadora de museu, sempre olhando para o passado. É apenas com a passagem acelerada do tempo que os dois conseguem se enxergar e se encontrar no presente. 

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