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TELA QUENTE - Classificação indicativa: O futuro das cenas de sexo - Parte 6

No momento em que toda uma geração discute o lugar da sexualidade na mídia, Omelete fala com cineastas e especialistas para destrinchar a história d’Aquilo na tela grande

Omelete
6 min de leitura
06.09.2025, às 06H00.
Atualizada em 17.09.2025, ÀS 16H36

O ESPECIAL TELA QUENTE é uma reportagem do Omelete sobre a história da representação do sexo no cinema, os debates atuais em torno dela, e o impacto na indústria do audiovisual. Composto de seis matérias jornalísticas apoiadas em pesquisa e entrevistas com diversos especialistas - psicólogos, críticos, cineastas, coordenadores de intimidade e mais -, o especial será postado em capítulos entre os dias 2 e 6 de setembro (ou 6/9, quando é comemorado o Dia do Sexo).

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A queda do Código Hays, em 1968, abriu espaço para a criação do sistema hollywoodiano de classificação indicativa que conhecemos hoje. Criados originalmente por Jack Valenti, os rótulos dados pela MPA (Motion Picture Association) a cada filme lançado nos EUA deixaram de ser um sistema de censura prévia ao lançamento e viraram uma recomendação mais gentil - ainda que certas classificações tenham o poder de proibir a entrada de menores de idade nos cinemas (a temida NC-17) ou exigir que eles estejam acompanhados de adultos (a nem tão temida R), a instituição que os distribui não tem mais o poder de impedir que um filme seja lançado, ou distribuído em certo país, ou exibido em certo horário. E, com a exceção de alguns países governados por líderes mais autoritários, é mais ou menos assim que funciona no mundo todo.

Portanto, em pleno século XXI, a situação é que, desde que não infrinjam outras leis, artistas podem filmar o que quiserem, e distribuidoras podem colocar o que quiserem nos cinemas. E é só nesse cenário que faz sentido fazer a pergunta que é a pedra fundadora do momento social que estamos vivendo para a sexualidade no cinema: cineastas podem filmar e falar de sexo, é claro, mas será que eles devem? E, se devem, como e quando?

A sexualidade é central na nossa existência. Não estou falando da relação sexual, ou não necessariamente dela, mas da sexualidade, da forma de viver e experimentar o próprio corpo”, comenta a psicóloga Carolina Freitas de Mendonça (CRP 19/004533). “E essa forma de viver, como todas as outras, é aprendida - ninguém nasce sabendo andar, ninguém nasce sabendo falar, e ninguém nasce sabendo como lidar com sua sexualidade. É por isso que é importante ver na televisão, por exemplo, formas e exercícios de sexualidade que são saudáveis. A mídia pode ter um efeito muito positivo no desenvolvimento”.

Cena de O Império dos Sentidos (Reprodução)
Cena de O Império dos Sentidos (Reprodução)

Diante disso, a profissional defende que sempre haja alguma representação sexual na cultura pop: “Não precisa ser algo didático, ou inteiramente sanitizado - é importante falar de coisas ruins também, para ensinar que aquilo é ruim, para o jovem entender o que não quer reproduzir nas suas relações. A mídia não está aqui para nos ensinar o que é certo ou errado, necessariamente, mas para nos mostrar o que pode existir e nos balizar nas experimentações que queremos fazer dentro de nossas próprias vidas”.

O cineasta Marcelo Caetano, por sua vez, defende o direito dos filmes de, às vezes, causar desconforto. “Obviamente, se você está vendo um filme com a sua família, ali na televsão da sua casa, e de repente aparece uma cena de sexo gay… pode ser constrangedor - mas isso é parte do cinema, da experiência”, postula ele. “Cinema não é como algodão doce no parque, entendeu? Cinema é um lugar onde a gente vai confrontar, muitas vezes, os nossos fantasmas, os nossos tabus, os nossos desejos. A gente tem que estar de coração aberto para ser transformado, para ter contato com a imagem que a gente não teria normalmente”.

Diante dessa ideia de experimentar e transformar a nossa relação com a sexualidade, no entanto, a coordenadora de intimidade Maria Silvia Siqueira Campos entende que a posição da parte do público que questiona a “necessidade” das cenas de sexo no cinema pode ser usada a favor da arte. “Acho válido como questionamento para quem escreve as histórias, para os contadores de histórias. O quanto a gente precisa mostrar, versus o quanto a gente pode sugerir, trazendo o espectador para participar da nossa história, sendo uma mente criativa no processo?”, pergunta ela.

Se eu tenho uma cena de chuveiro, por exemplo, será que precisa mostrar a pessoa tomando banho, ou um vapor por baixo da porta já é o bastante para dizer o que a gente quer dizer? A gente pode sim ter uma forma elegante de escrever sobre intimidade e mostrar a intimidade”, advoga ela. “Eu acho que um personagem no banheiro de porta fechada, mesmo que esteja vestido, já é bastante íntimo - e a câmera estar ali dentro com você gera a pergunta: o que ela está buscando, o que ela está vendo?”.

Campos admite que tem visto uma diminuição na quantidade de cenas de sexo na indústria - mas vê isso mais como um desafio criativo do que uma restrição: “Claro que ainda existem filmes que tocam nessa temática, né? Se você faz um filme que é sobre a liberdade sexual da mulher, por exemplo, o espectador vai assistir sabendo que vão ter cenas de sexo simulado, de intimidade, de nudez. Mas, fora disso, acho que é um movimento legal começar a questionar e provocar os contadores de história sobre o quanto precisa mostrar”.

Cena de Secretária (Reprodução)
Cena de Secretária (Reprodução)

A pergunta que permanece, no entanto, é o que uma diminuição mais decisiva no retrato da sexualidade no cinema provocaria, em um contexto social mais amplo. A arte, afinal de contas, influi e reflete a sociedade em que é produzida - e, como nossos entrevistados atestaram quase unanimemente, falar de sexo de forma mais permissiva no audiovisual cultiva um contexto mais saudável, tanto no microcosmo dos desenvolvimentos pessoais psicológicos quando no macrocosmo da progressão dos movimentos sociais. É um ponto de vista que o youtuber e autor Matt Baume defende com eloquência.

Nos últimos 100 anos, vivemos em ondas de permissividade e repressão, épocas em que os artistas tinham mais espaço para serem ousados, e daí uma reação muito forte às coisas que eles criavam dentro dessa liberdade. É um cabo de guerra”, define ele. “E acho que agora estamos em um momento muito preocupante. O público está mandando sinais de um momento mais tímido, quando se trata da sexualidade. E é curioso, porque a humanidade certamente não perdeu a sua vontade de criar, e não acredito que o público perdeu o apetite por histórias sexy, românticas, divertidas. Na verdade, acho que precisamos mais delas do que nunca”.

O mais perto que podemos chegar de uma sentença definitiva sobre o assunto, talvez, venha da boca de Bruce LaBruce - com aquela pontinha de humor sardônico que é a cara de um dos artistas que mais e melhor inovou a nossa visão do sexo no cinema.

Eu acho que, até para além da geração-Z, a que veio depois deles [denominada geração alfa, que abraça indivíduos nascidos a partir de 2010, na maioria dos estudos sobre o tema] quer colocar uma ênfase menor no sexo em suas vidas. E eu consigo entender isso”, analisa ele. “Na época em que eu era jovem, no contexto da liberação gay, fazia muito sentido colocar toda a ênfase no sexo - mas não faz mais sentido para eles, as coisasm mudam o tempo todo. Eu acho que a pornografia, e o sexo no cinema mainstream, sempre vão existir, e acho que eles servem uma função importante no sentido de alimentar as fantasias politicamente incorretas que as pessoas podem ter”. 

Após uma pausa tão calculada e travessa quanto uma cena quente em um de seus filmes, o cineasta canadense abre um sorriso de lado e entrega a proverbial cereja do bolo: “Mas também, quer saber? Alguns dos meus melhores amigos são assexuais”.

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