Sul-africano roda o primeiro longa-metragem pelo celular

O cineasta, romancista e poeta Aryan Kaganof, pseudônimo do sul-africano Ian Kerkhof, tem tudo para entrar na história do cinema. Ele realizou o que pode ser considera o primeiro longa-metragem do mundo filmado inteiramente com celulares.

Na verdade, oito celulares com câmeras digitais, que captaram por onze dias ininterruptamente pelas ruas de Johannesburgo o filme SMS Sugar Man - cuja história, sobre um cafetão e duas prostitutas de luxo pelas ruas da capital na noite de Ano-Novo, já consta de um volume de contos de Kaganof. O valor da produção, cerca de 160 mil dólares, pago pela produtora Ster-Kinekor, serviu mais para custear a transferência à película de 35 milímetros. Isso porque Kaganof pretende exibir a obra no cinema - além de distribuí-lo, em episódios de trinta minutos durante um mês, pela rede de celulares local.

Eu pensava que cinema na África do Sul não era a mídia apropriada para representar quem nós somos... Ele é um fenômeno essencialmente branco. Então me ocorreu: uma mídia que os africanos amam mais do que qualquer outra é o celular, comentou à Reuters o diretor, que não é negro. Aliás, além de Kaganof, que interpreta o cafetão, as duas atrizes também são brancas. Nós já superamos tudo isso, diz, em referência ao passado de cisão social e preconceito no país, marcado pelo apartheid.

O que nós estamos fazendo é empolgante, é inovador. Estamos apertando os botões que o mundo seguirá. É um filme africano, comenta, frisando que seu trabalho dará à África a chance de parar de copiar o Ocidente e decidir sua própria agenda.

O problema é que a maioria negra da população de Johannesburgo e da África do Sul segue em condições de pobreza. Poucos conseguem pagar o ingresso do cinema e ainda menos têm o telefone exigido para receber vídeos. Como no Brasil, logo se vê, o problema não é baratear a produção de um filme, mas a sua distribuição.

SMS Sugar Man estréia nas salas da capital sul-africana em maio.