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Por que Som da Liberdade se tornou o filme mais polêmico do ano

Produção com Jim Caviezel tem gerado debates quentes

Omelete
7 min de leitura
19.09.2023, às 18H08.
Atualizada em 29.01.2024, ÀS 08H15

Já era bem sabido que filmes como Oppenheimer, Barbie, Indiana Jones e Missão: Impossível estariam no topo das bilheterias norte-americanas neste verão. O que, no entanto, ninguém, nem mesmo o maior dos preditores, poderia adivinhar era que um filme cristão e rebaixado pela Disney apareceria firme e forte junto aos longas do ano no topo das bilheterias. Estamos falando de Som da Liberdade.

Thriller baseado em uma história real sobre tráfico humano, o longa tem chamado a atenção dos americanos e da imprensa, mas não somente pelos números surpreendentes. No meio do hit inesperado surgiram várias polêmicas envolvendo a veracidade da história, os números inflados nas bilheterias e seus principais apoiadores. A seguir, entenda por que o filme tem dado tanto o que falar:

O que é Sound of Freedom?

Filme Sound of Freedom (Angel Studios/Distribuição)
Angel Studios/Divulgação

Escrito e dirigido por Alejandro Monteverde (de Little Boy e Bella), Som da Liberdade conta a história real de Tim Ballard, um ex-agente especial do Departamento de Segurança Interna do governo americano (também conhecido como Homeland, que aparece na série homônima estrelada por Claire Danes). Ele larga o posto para "fazer justiça com as próprias mãos" e tentar acabar com o tráfico sexual de pessoas. 

Interpretado por Jim Caviezel (A Paixão de Cristo), no longa acompanhamos Ballard em uma de suas missões, que o coloca na América Latina para resgatar crianças de cartéis e traficantes perigosos.

A chegada da produção aos cinemas também não foi um passeio pelo parque. Filmada em 2018, ela ficou 5 anos na gaveta até ver a luz do dia. Financiado por um grupo mexicano, inicialmente, o longa-metragem seria distribuído pela subsidiária latino-americana da 20th Century Fox. Mas quando o estúdio foi adquirido pela Disney, a casa do Mickey Mouse decidiu engavetar o projeto – já filmado.

No entanto, um de seus produtores, Eduardo Verástegui (que tem um papel no filme, por sinal) conseguiu readquirir os direitos do longa e o ofereceu à Angel Studios, pequena distribuidora de produções cristãs, como The Chosen, que o aceitou.

Então isso significa que Sound of Freedom é baseado em fatos?

Filme Sound of Freedom (Angel Studios/Distribuição)
Angel Studios/Distribuição

Bom, este, na verdade, é o primeiro ponto da teia de polêmicas que envolve a produção. O filme, sim, tem como personagem principal Tim Ballard, um ex-agente da Homeland que fundou a Operation Underground Railroad (OUR), organização sem fins lucrativos anti-tráfico sexual, que existe de verdade.

No entanto, ao longo dos anos, Ballard e a própria OUR foram contestadas por alguns de seus relatos. Uma investigação feita pela VICE News, em 2020, por exemplo, apontou a dificuldade em comprovar as façanhas da entidade, "sempre descritas como heroicas e excitantes", como diz o artigo. 

"Ballard disse repetidamente que a OUR desempenhou um papel central em um grande caso de combate ao tráfico humano no estado de Nova York e insinuou que ajudou a resgatar uma vítima desse caso, quando, na realidade, de acordo com transcrições judiciais e outros registros analisados pela VICE World News, a vítima corajosamente escapou do seu traficante por conta própria", atestou a publicação.

Mas seu enredo, que envolve o sequestro de dois irmãos atraídos para uma sessão de fotos em Honduras e de lá são raptados, não tem base na realidade – embora os créditos de abertura do longa digam o contrário. Conforme relatado pelos jornalistas investigativos do American Crime Journal (via The Independent), Ballard exagerou detalhes sobre a história mostrada nas telonas.

Em entrevista ao canal The Victory Channel, ele se defendeu. "Algumas coisas são definitivamente exageradas. [Jim Caviezel] me faz parecer muito mais legal do que sou, por exemplo". Continuou: "Mas algumas coisas foram subnotificadas, como o fato de não termos resgatado 54 crianças na operação na ilha [retratada no filme]."

Vale notar que, após o gigantesco sucesso do filme, Ballard saiu da OUR, como reportou a Vice. Segundo a própria entidade, a saída aconteceu antes do lançamento da produção. Mas no início desta semana, novas informações sobre a saída de Ballard chegaram à imprensa.

Segundo uma nova reportagem também publicada pela Vice, sete mulheres acusam o ex-CEO de se comportar inapropriadamente com colegas de trabalho em missões. As acusações envolvem coerção. 

Os relatos apontam que Ballard teria insistido que colegas dormissem e se banhassem com ele para manter as aparências em missões, alegando que isso seria necessário para enganar os traficantes. Ele também teria enviado fotos nuas para uma acusadora e questionado outra sobre "quão longe ela iria" para salvar crianças. 

Em um comunicado à publicação, a organização teria confirmado que Ballard "renunciou da O.U.R. em 22 de junho de 2023" e que "ele se separou permanentemente da O.U.R."

O grupo afirmou que "contratou um escritório de advocacia independente para conduzir uma investigação abrangente de todas as alegações relevantes", mas não fará mais comentários "para preservar a integridade de sua investigação e proteger a privacidade de todas as pessoas envolvidas".

Embora Ballard aparentemente tenha inspirado o filme, sua conexão com o Som da Liberdade não é exatamente clara: ele não é mencionado como roteirista ou produtor. No entanto, Ballard compareceu a eventos no tapete vermelho do filme no final de junho e agosto.

O emaranhado de histórias complicadas e controversas, entretanto, está longe de terminar por aqui.

Por que o filme Sound of Freedom é tão polêmico?

Cena de Sound of Freedom
Angel Studios/Distribuição

Além da contestação de que se trate de uma história real, Som da Liberdade é apontado por muitas publicações como um veículo para teóricos da conspiração e apoiadores da QAnon

O QAnon é uma teoria da conspiração de extrema-direita que alega existir uma elite global, formada por adoradores de Satanás, canibais e pedófilos, que sequestra crianças para beber seu sangue. Eles foram os responsáveis pelo Ataque ao Capitólio em 2021, por também acreditarem que essa mesma rede de tráfico sexual de crianças estava conspirando contra o Donald Trump durante o seu mandato como presidente dos Estados Unidos – Trump, que, aliás, realizou uma exibição especial do filme, segundo o The Guardian

Outros veículos conservadores, como a Fox News, também deram espaço para os membros da produção defenderem o título. À emissora, Verástegui disse que Som da Liberdade não é apenas um filme, mas, sim, "um movimento". 

Por outro lado, publicações diversas têm conectado o longa ao QAnon – embora não haja menção direta no filme. O The Guardian descreveu Som da Liberdade como o "thriller QAnon que está seduzindo a América". Já a Rolling Stone, bem menos elogiosa, disse que a produção era "filme de super-herói para pais com vermes no cérebro". 

Em entrevista à Fox News, o astro Jim Caviezel foi bem categórico e rechaçou os veículos da "grande mídia" que estão falando mal da produção. "Eles estão cagando nas calças. Tremendo de medo. É porque o público está ouvindo seus corações, exatamente o que este filme sugere que se faça". 

Caviezel, aliás, tem um histórico com a QAnon. Em 2021, o ator viralizou durante um discurso na For God & Country: Patriot Double Down, evento ligado à teoria, endossando sua filiação aos apoiadores e e às ideias associadas ao QAnon. 

O que explica o impressionante sucesso de Sound of Freedom nas bilheterias?

Cena de Sound of Freedom
Angel Studios/Distribuição

Produzido em 2018 com um orçamento modesto de US$14 milhões, atualmente, Som da Liberdade já arrecadou US$211,6 mi. mundialmente. Números impressionantes, praticamente dez vezes o valor de produção. 

Mas, segundo DailyDot, a história de sucesso não é bem assim. O site reportou que, embora os ingressos estejam vendidos, as sessões estão – muitas vezes – vazias, mostrando registros de usuários no Twitter e no TikTok.

Cena de Sound of Freedom
Angel Studios/Distribuição

Para muitos, o fato é inusitado e estranho, como se alguém estivesse comprando muitos ingressos para fazer o filme parecer um hit, visto que a falta de marketing e a distribuição de um pequeno estúdio não poderia produzir um título forte o suficiente para ficar a par de Barbie ou Indiana Jones nas bilheterias. 

Quem defende o filme, no entanto, diz que o grande vilão dessa história é, na verdade, a AMC Theaters, rede de cinema norte-americana, que estaria exibindo o longa com o ar-condicionado desligado e expulsando o público, por exemplo.

Por conta disso, o próprio CEO da AMC, Adam Aron, teve de se pronunciar. Pelo Twitter, ele escreveu: "Infelizmente, os teóricos da conspiração são tão prevalentes nos Estados Unidos. Tanta informação errônea é espalhada. Mais de UM MILHÃO de pessoas assistiram a Som da Liberdade nos cinemas da AMC. Mais do que em qualquer outra cadeia de cinemas do planeta. No entanto, as pessoas afirmam falsamente o contrário. É tão bizarro". 

O que achamos de Sound of Freedom?

A crítica do Omelete, feita por Marcelo Hessel, diz que a sensibilidade católica é o que dá o diferencial ao filme: "É muito curioso acompanhar como o filme do diretor mexicano Alejandro Gómez Monteverde lida com lugares-comuns cinematográficos a partir do momento em que escolhe filtrar tudo pela sensibilidade cristã".

Ele conclui: "Trata-se, afinal, de um filme de missionários disfarçados de soldados, refazendo nas selvas da América do Sul o trajeto dos jesuítas, e a sua missão divina não é de guerra, e sim uma missão de paz".

Sound of Freedom já tem data de lançamento no Brasil?

Com Jim Caviezel, Mira Sorvino (Poderosa Afrodite) e Bill Camp (12 Anos de Escravidão) no elenco, Som da Liberdade chega aos cinemas brasileiros em 21 de setembro

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