Silvio Santos Vem Aí | Leandro Hassum revela desafio de interpretar apresentador
Depois de Rodrigo Faro, agora foi a vez do comediante dar vida à personalidade da TV em um filme
Créditos da imagem: (Divulgação/Paris Filmes)
Pouco mais de um ano depois da estreia de Silvio, outro filme chega para contar mais um pedaço da vida do icônico apresentador brasileiro. Silvio Santos Vem Aí agora traz Leandro Hassum como o protagonista, para contar um breve período na vida dele: quando ele se tornou candidato a Presidente da República.
Para a diretora Cris D’Amato, ter um recorte era essencial. “Acho muito difícil você fazer um filme para falar de uma pessoa como o Silvio em apenas 90 minutos", analisou. “Mas escolher um fato histórico [é diferente]. É um momento muito importante, saindo de uma ditadura, com as eleições diretas, com tantos candidatos à presidência e com a ascensão tão rápida do maior comunicador do Brasil”, explicou ela.
Para Cris, Hassum sempre foi a pessoa certa para o papel. “Eu acho o formato do rosto muito parecido”, detalhou. Curiosamente, no entanto, Silvio Santos era uma personalidade que o ator nunca tinha ousado imitar. Para o filme, então, ele decidiu fazer um trabalho “de trás pra frente”.
“Eu comecei fazendo o Senor Abravanel para chegar ao Silvio Santos. Eu comecei a pensar: "Como é esse cara em casa? Como é esse cara na vida normal?" Comecei a assistir muito vídeo, me alimentei de muito material dele. Isso foi me ajudando muito a não cair no gatilho e armadilha traiçoeira de querer imitar o Silvio Santos”, descreveu o comediante.
Curiosamente, Silvio Santos não é o único protagonista do filme. Aqui, ele divide os holofotes com Marília, uma publicitária fictícia que recebe a missão de ajudá-lo na campanha. É através do olhar da personagem vivida por Manu Gavassi que o público acompanha a história.
“Eu achei isso muito inteligente, porque dificilmente seria uma mulher nessa posição, questionando o Silvio e com essa moral toda de entrar no SBT. Já é difícil agora, imagina nos anos 80. Mas eu acho que isso deixa tão atual”, comemorou a atriz.
Confira a entrevista completa com Leandro Hassum e Manu Gavassi:
Omelete: Parabéns pelo filme! Eu queria começar citando uma fala da Marília que é: "Todo mundo acha que sabe imitar o Silvio Santos." Hassum, você disse que você nunca nem tentou, você se distanciou disso. E aí agora você tem que interpretá-lo num filme. Como foi a sua abordagem para trazer ele sem cair no estereótipo?
Hassum: Eu comecei um trabalho de trás para frente. Eu comecei fazendo o Senor Abravanel para chegar ao Silvio Santos, não o contrário. Eu comecei a pensar: "Como é esse cara em casa? Como é esse cara na vida normal? Como esse cara se comportaria?" Comecei a assistir muito vídeo, me alimentei de muito material dele. Aí uma preparadora corporal foi me ajudando com a postura, com tudo, [teve] o figurino da Gabi que arrebentou, a caracterização da Batata, a direção da Cris, tudo isso foi acrescentando para que uma hora o trejeito fosse chegando, a respiração do Silvio, a puxada de ar para dentro, o estalar de boca para dentro. E aí nasceu. A partir daí, quando você acha essa chave, eu acho que até para uma atriz, cantora como a Manu, quando você acha o tom, você não sai mais, né? Então foi isso que eu fiz, eu fui tentando achar esse Silvio de trás para frente, isso foi me ajudando muito a não cair no gatilho e armadilha traiçoeira de querer imitar o Silvio Santos.
Omelete: Manu, eu fiquei muito surpresa com a Marília, ela é muito mais protagonista do que eu estava imaginando e é muito interessante para mim porque ela guia o espectador no filme, né? A gente vê o olhar dela em relação ao Silvio. Então, como você abraça uma personagem dessas que é tão protagonista quanto o personagem que está no título, ainda mais sendo fictícia, né?
Manu: Sim. Então...
Hassum: Desculpa te cortar, mas ela é o mais real do filme. É ela que traz a realidade do filme. Eu sou o “palhaço” do palco e ela é a verdade.
Manu: Ela é a ótica de quem está contando a história, né? Você acompanha através da ótica dela. Eu achei isso muito inteligente, assim, porque dificilmente seria uma mulher nessa posição, questionando o Silvio e com essa moral toda de entrar no SBT, enfim, a gente sabe. Já é difícil agora, imagina nos anos 80. Então, dificilmente seria uma mulher, mas eu acho que isso deixa tão atual. Primeiro que mulheres como ela existiam, sim.
Hassum: Sim, isso é ótimo você falar.
Manu: Né? Existiam, só que talvez elas não teriam esse lugar. E eu acho que isso atualiza muito a discussão, até esse conflito geracional que existe em torno da história do Silvio, sabe? Então, eu acho que chama um outro público, eu acho que apresenta essa história de uma maneira mais crível, eu acho que não tem medo de, desde o início, ter uma personagem como a Marília, falando: "Não sei se eu sou a pessoa certa, não sei se eu gosto dele." E daí você vai entendendo o que é aquele mundo, o que é o legado desse cara que é tão amado, né? E que existe, que faz parte da história da nossa televisão. Então, eu acho que essa trajetória dela é muito legal para quem está assistindo e foi isso que me instigou.
Omelete: E eu adorei que ela é uma publicitária workaholic e aí eu fiquei pensando o quanto de você, você trouxe para ela.
Manu: Publi! É, eu me identifico muito. Acho que até por isso que eu fui chamada. Tem essa identificação de uma menina, mulher, que tem essa força, que não tem medo dessas figuras de poder, que não tem medo de questionar, ou seja, uma alma rebelde. E tem todo esse lado da publicidade. Tem que entender muito esse produto, tem que entender muito o que eu estou lidando. E eu acho que ela tem essa coisa, de “é meu trabalho em primeiro lugar” o tempo todo. “Caguei que é o Silvio Santos. Eu preciso resolver. Eu tenho uma meta para bater.”
Hassum: E eu acho isso fantástico. Porque isso nos dá uma credibilidade e traz um “te aquieta aí, Silvio Santos”. Porque quantas vezes ele não gritou com a gente aqui fora, daquele camarim?
Manu: É, mas o que eu tentei foi deixar ela mais limpa. Quem era essa mulher nos anos 80, que eu me identifico, mas que não sou eu, exatamente, né? Então, acho que foi esse o desafio.
Omelete: Eu vou trazer outra fala do filme agora que é: "Coragem não é a ausência do medo, mas a vontade de enfrentar os desafios." E eu sinto que ela também resume um pouco o que vocês dois enfrentaram nesse filme. Para você, Hassum, como foi assumir um papel de um personagem tão icônico, mas também num drama, né? Que é diferente do que você já está tão familiarizado. Qual foi seu maior desafio ao sair da zona de conforto?
Hassum: Foi isso, não poder usar as cartas na manga que todo comediante tem. Se a piada não deu certo, eu boto uma carta que eu tenho na minha manga, eu vou lá e faço o pessoal rir, não tem problema. Agora, quando você faz um cara que existiu, eu não posso "Hassumzar", eu não posso meter uma carta na manga. Eu preciso de um enquadramento bom, eu preciso estar numa posição certa, numa postura certa, falar o texto na hora certa, dar o tempo, respirar como o Silvio Santos, entregar, dar a mensagem e emocionar. Então, tudo isso é um desafio. A comédia é o balizador para a tragédia. A tragédia só existe porque a comédia foi inventada. Então acaba parecendo simples para um comediante ir para o lado trágico, ir para o lado sério. Mas, obviamente, que isso tudo é um trabalho de dentro para fora.
Omelete: Manu, só para terminar agora, o desafio para você que eu queria perguntar é: filmar grávida de cinco meses para uma personagem que não está grávida, né?
Manu: É uma montanha-russa de sentimentos. Cada dia você é uma pessoa diferente. Eu acho que foi muito doido e muito gostoso, assim, uma experiência muito única, obviamente, de estar fazendo o que eu gosto, de estar no set de filmagem, que eu amo, aprendendo e absorvendo, tendo boas experiências e fazendo o que eu gosto. Achei muito especial ela estar comigo nesse momento. E é doido que eu comecei com cinco meses falando: "Ai, não dá nem para ver, não preciso nem contar para ninguém." Com seis meses, no final, o figurino: "Gente, corta essa calça! Essa calça não está mais entrando."
Hassum: Mas, ludicamente falando, eternizou essa barriguinha para o resto da vida. O cinema é eterno.
Confira agora a entrevista com a diretora Cris D'Amato:
Omelete: Cris, muito bom estar aqui com você. Parabéns pelo filme. Eu queria começar te perguntando sobre a inserção da Marília, porque ela é tão protagonista quanto o Silvio e é uma personagem fictícia. Então, qual foi a intenção de trazer essa personagem fictícia para a história?
Cris: Eu acho que quando o Paulo Curcino escreveu a Marília foi para ela conduzir essa história e apresentar para a gente esse Silvio Santos candidato a Presidente da República. Através de um olhar feminino, de uma jovem.
Omelete: E eu gosto muito de ter esse recorte. Acho que a gente consegue se aprofundar muito mais na história quando você está olhando para um período específico. Mas é difícil quando a gente está falando de uma personalidade que está com a gente há tantos anos, né? Como foi escolher esse recorte? Qual foi o olhar que você quis trazer disso?
Cris: Desde o início, quando eu fui convidada pela Paris Entretenimento para dirigir esse filme, eu falei: "Meu Deus, o que que eu vou falar do Silvio Santos?" E aí o Curcino quando veio com essa história, quando ele veio com esse recorte, eu falei: "Eureka! Nossa, que legal!" Porque eu acho muito difícil você fazer um filme para falar de uma pessoa como o Silvio. Em 90 minutos, você não vai falar, né? Vai faltar alguma coisa. Mas escolher um fato histórico [é diferente]. A gente estava saindo de uma ditadura, com as eleições diretas. É um momento muito importante, com tantos candidatos à presidência e com a ascensão tão rápida do maior comunicador do Brasi. É claro que a gente não se aprofunda nisso, e não é essa a intenção. A intenção é mostrar esse apresentador, esse grande comunicador, entrando na política e falando: "Epa! Se eu vou ter que abdicar da minha família, se eu vou ter telhado de vidro, não quero."
Omelete: De primeira, o Hassum não é a escolha óbvia para fazer o Silvio Santos, né? Mas depois funciona. O que fez você entender que ele era a escolha certa para o papel?
Cris: Eu conheço o Leandro desde 1991. Eu conheci o Leandro sem ser o Leandro Hassum. Quando ele fez a "A Barata", eu pensei: "Gente, ele ficou a cara do Silvio Santos!" Fiquei com isso [na cabeça], mas foi, passou. Quando fomos fazer o filme, foi a primeira pessoa que eu pensei. Porque eu acho o formato do rosto muito parecido. E não é porque as pessoas no Brasil têm a mania de botar você num armário, que, então, você só sabe fazer comédia. “Você não sabe fazer drama, você não sabe fazer uma personagem.” Mas o Leandro tem essa gama.
Omelete: E aí também queria perguntar sobre Manu Gavassi, porque ela vem para interpretar uma personagem que foi criada para o filme, mas que eu senti que se encaixa muito bem nela, né?
Cris: Eu, de verdade, conheci a Manu Gavassi por conta do Big Brother. Quando eu assistia, eu achava ela tão irreverente, falando de coisas tão legais, de uma maneira tão bacana. Quando surgiu o nome dela para fazer a personagem, eu falei: "É uma escolha certíssima!" Porque é uma menina inquieta, né? Ela é curiosa. Ela é uma pessoa muito presente com jovens. Ela tem um poder de alcance muito grande. E ela é focada no trabalho dela. E a personagem da Marília tinha que ter esse mesmo foco.
Omelete: Eu também gostei de como foram introduzidas personalidades marcantes da vida do Silvio. O Roque, o Lombardi. E eu achei uma coisa bem metalinguagem Lombardi, a gente não vê o rosto. Essa decisão por trás gerou algum debate ou desde o começo você sabia que não ia mostrar o rosto dele?
Cris: Desde o início. O Lombardi é uma voz. O Lombardi tinha que aparecer no filme, mas o bacana era não aparecer. E a voz que aparece no filme é a voz daquele ator. Eu não dublei. É ele que faz. O Lombardi vai ficar no inconsciente da gente. Cada um tem o seu Lombardi.
Omelete: Nesse meio tempo em que a ideia surgiu pela primeira vez e agora, com o lançamento, outras versões de Silvio Santos surgiram aí. Mas qual é a mensagem que você quer deixar com a sua versão?
Cris: Eu acho que o Silvio é o maior apresentador que esse país já teve. Uma pessoa que persistiu, uma pessoa que acreditou, uma pessoa que olhava no olho, uma pessoa que entrava na tua casa. Na casa de tantos brasileiros e que acalentava o domingo das pessoas. Eu fui uma pessoa que assisti Silvio Santos. Então, assim, é, eu tenho uma admiração pelo Silvio. Críticas, eu tenho também. Mas a minha admiração por esse homem é muito grande. Então, eu tenho muito orgulho de ter podido fazer o Silvio Santos com o Leandro. Contar um pedacinho do Silvio. Tomara que tenham vários outros pedacinhos de Silvio Santos chegando por aí.
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