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"Real - O Plano Por Trás da História não é sobre políticos, é sobre a ideia genial de economistas pra salvar um país", diz diretor

Filme sobre plano econômico chega aos cinemas em maio

RF
04.05.2017, às 17H47.
Atualizada em 04.05.2017, ÀS 18H05

Controverso por natureza, ao assumir como foco o episódio central da reconfiguração econômica do Brasil nos últimos 25 anos, Real - o Plano Por Trás da História já tem dia para estrear: 25 de maio, data em que levará as telas os bastidores da estratégia que criou a atual moeda brasileira. Em tempos de Operação Lava Jato e crises políticas afins, o filme é dirigido por Rodrigo Bittencourt (de Totalmente Inocentes) e assume como protagonista o economista Gustavo Franco (Emílio Orciollo Netto). Franco está na linha de frente da equipe de planejamento econômico do governo de Itamar Franco (Bemvindo Sequeira). Fernando Henrique Cardoso também entra em cena, vivido por Norival Rizzo.

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Há alguns anos, estava com meu pai, almoçando num restaurante no Rio, e ele viu o FHC entrando e foi conversar com ele. Conversaram e quando ele voltou a mesa me disse: você tem que dirigir um filme importante pro seu país. Você precisa ler o livro de Guilherme Fiúza sobre a construção do Plano Real, o 3000 Dias No Bunker: Um Plano Na Cabeça E Um País Na Mão. Li! Muito tempo depois (e isso que é a loucura) meu pai faleceu. Seis meses depois do seu falecimento, fui chamado pra dirigir esse filme”, diz Bittencourtque filmou um enredo ambientado em maio de 1993, quando o Brasil passou por uma das piores crises econômicas de sua História.

No momento, o governo monta um time de especialistas para resolver o problema, o que acaba resultando no Plano Real. Na entrevista a seguir, Bittencourt fala de suas escolhas estéticas e de seu risco político.

Omelete: Qual é a responsabilidade ética e estética de se fazer um thriller sobre política no Brasil? Que lugar esse filão ocupa em nosso imaginário?

Rodrigo Bittencourt: Começando pela ética, a responsabilidade é muito grande. Lutei muito para que esse filme fosse equilibrado e considero, depois de um ano e meio de trabalho que ele está equilibrado, já que eu sou um homem de centro e considero a esquerda e a direita no Brasil um equívoco dos maiores. Explico porque, em metáfora de futebol, já que somos (ainda?) um povo preso a um esporte cheio de falcatruas dentro e fora do campo, onde um jogador, dentro de campo, finge faltas, faz gols de mão, agride adversários etc… E fora, existem esquemas que todos nós sabemos sobre compra de resultados, caixa dois etc. Esse é o exemplo que se espalha pelo Brasil... Começamos, por osmose, a constituição de nossa gente assim também, com bandidos portugueses que vieram para cá interessados apenas em sugar e explorar, diferente da cultura inglesa nos EUA. Juntando a nossa gênese com o nosso futebol, acabamos nos destruindo eticamente, mas temos visto melhoras, por exemplo, o jogador do São Paulo.

Omelete: Como é a metáfora? 

Rodrigo Bittencourt: Seu ponta esquerda cisca e cisca driblando egoicamente pela ponta esquerda, e o que ele consegue? Nada... Ele quer conseguir algo? Não. Só quer aparecer. Ele não quer marcar o gol. O gol está no centro. Se ele quiser marcar o gol, ele vai ter que cruzar a bola pro centroavante ou vai ter que ir driblando pelo meio pra chutar... E assim do mesmo modo com o ponta direita... Eu acredito no gol, no centro, no equilíbrio, onde se unem forças pra o bem do Brasil. Eu sou um homem de idéias. E a mim não interessa se são da esquerda ou da direita. Votei no Lula, vim de um bairro super pobre que é Bangu e sei muito bem que ele usou o Plano Real, o tripé econômico criado no governo Itamar e depois no FH pra ajudar o país. E ajudou. Foi um mix de forças ali. Foi nessa época que os dois (que são amigos, FH e Lula) resolveram muita coisa no Brasil. Mas o poder é o sexo dos velhos e ali dentro em Brasília, tudo é muito sujo de um lado e de outro. Burro é quem não vê isso, mas, esse é o problema: essa história de camisas de futebol que esta incrustada na alma brasileira, cega as pessoas que passam facilmente a serem obra de manobra dos dois lados. Veja a violência e a falta de entendimento democrático que acontece hoje no país... A direita manda pra rua policiais para agrediram estudantes e o povo, enquanto os próprios estudantes e manifestantes de esquerda agrediram covardemente Marcelo Madureira, isso pra ficar só nele. Então os dois lados são reacionários, agressivos e ante democráticos. Não existe debate no Brasil, aqui existe apenas camisas de futebol e um tom de quinta serie ginasial nos discurso e opiniões no Facebook. O que conto no filme são fatos históricos, bato dos dois lados, PSDB e PT. Mas isso não me interessa, o filme não é sobre políticos, o filme é sobre a ideia genial de economistas pra salvar um país da lama e salvaram, daí depois tudo foi destruído por causa de poder.

Omelete: E sobre a questão estética?

Rodrigo Bittencourt: Santos Dumont teve a idéia do avião e foi uma ideia genial que tornou possível aproximar mais as pessoas e conectar mais... o que os políticos fizeram com isso depois? Jogaram bombas um no país do outro e matam milhões de pessoas no mundo com isso. A culpa é da idéia? Santos Dumont é culpado? Óbvio que não! Assim é com o Plano Real. Uma ideia genial que salvou o pais da hiperinflação. E a inflação derruba os pobres, não os ricos. Nesse escopo, o Plano Real foi muito mais social do que muita coisa antes e depois no Brasil. Isso pra mim é estético. Ideias são estéticasFora isso se você me pergunta sobre como filmei te digo que me preocupei muito com o ritmo dos atores das câmeras e da montagem. Procurei trabalhar um jogo de olhares Shakespeariano, onde o silêncio de um olhar fala muito, já que estamos num covil de cobras criadas e venenosas, os olhares precisavam ser trabalhados, ensaiei muito pra isso... Não sei te responder ainda que lugar esse filmar ocupa no nosso imaginário, estamos falando de um filme diferente, um novo gênero no país, a primeira vez que se faz de fato um thriller por aqui. 

Omelete: Qual é o tipo heroísmo que emerge de uma cena como Brasília 1994? Que heróis foram os do Plano Real? 

Rodrigo Bittencourt: Existem heróis e anti-heróis ao mesmo tempo... Essas pessoas são seres humanos. FHC não é economista e o filme não é sobre política e sim sobre a idéia genial construída por economistas. Não só Gustavo, Gustavo foi um deles, que foi escolhido pra ser o protagonista do filme por questões dramaturgicas. Então, meu herói e anti-herói é Gustavo Franco, nesse filme vivido grandiosamente pelo ator Emilio Orciollo Netto, que, na minha opinião, fez seu maior trabalho em sua carreira. Nós construímos, juntos, esse Gustavo, criamos uma parceria diretor e ator muito generosa um com o outro e eu estou muito feliz de ter trabalhado como um cara como Emilio, um grande ator! Um ator capaz de entender rapidamente o que você quer e também de dar o que você não viu à cena... foi um grande parceria essa minha e dele! Mas Gustavo foi criado para ser um anti-herói rock’n’roll, Gustavo era muito novo naquela época e muito inteligente e corajoso ... além de todos que estavam ali. Eles tiveram que enfrentar esquerda e direita para colocar o Plano em vigor. Estavam vivendo uma enorme pressão para realizar isso e por causa disso, voltando a esteira, construí um filme onde pensava o tempo todo na maquininha remarcadora  da época da hiperinflação... Construí um atmosfera de pressa e urgência e fiz uma ópera rock, acredito que o rock tem essa pegada urgente, rebelde e potente pra isso.

Omelete: Mais do que um projeto político, teu filme joga uma luz sobre uma época - os ano 1990 - que pouco espaço ocupa em nossa dramaturgia. O que mais te fascina nesse período?

Rodrigo Bittencourt: O que mais me fascina foi termos conseguido nos transformar. De vira-latas perdedores para campos na Copa do Mundo, depois de décadas e campos econômicos virando referência no mundo inteiro por causa disso. O Plano Real nos deu novamente a esperança de sermos brasileiros, o orgulho, o brilho e nos provou que podemos ter ideais sim incríveis e sermos uma grande nação, uma nação não apenas dionisíaca, mas apolínea também. Fizemos isso com a Bossa Nova, com o Cinema Novo, com a Tropicália, com o Plano Real. O Plano Real foi uma ideia genial que salvou nosso país do pesadelo da hieperinflação. A inflação destrói o povo pobre e não o rico, o rico ganha com juros, o pobre perde. O plano foi social sobretudo. Além de ter sido uma das maiores ideias estéticas que o Brasil já realizou. Tanto é que extrapolou, governo de direita para o de esquerda onde Lula manteve o tripé econômico e o Plano em vigor.

Omelete: Qual é o ônus de se lançar este filme em plena era do lava-jato, da vida pós impeachment? 

Rodrigo Bittencourt: Eu ainda não sei... Só depois do filme lançado, saberemos o que acontece de ônus e de bônus.

Omelete: O que Fernando Henrique Cardoso simboliza como legado político, no nosso real e no seu filme?

Rodrigo Bittencourt: FHC não é economista e o filme não é sobre política e sim sobre a idéia genial construída por economistas. Não só Gustavo, Gustavo foi um deles, mas foi escolhido pra ser o protagonista do filme por questões dramatúrgicas. Minhas lembranças do período da inflação, por exemplo, são dramáticas... Eu era novo pra entender direito o que acontecia, mas lembro de ir ao supermercado com meu pai estocar alimentos... Provavelmente, essa mania de fazer compras de mês vem dessa fase. Estocar alimentos era necessário com uma inflação de 40% ao mês... vivi isso na carne e via em Bangu (bairro que fui morar com 4 anos de idade) a dificuldade de nós pobres conseguirmos lidar com a hiperinflação. Então, não adianta ninguém vir de lorota pra cima de quem viveu aquela época... O Plano Real salvou a minha família e salvou todo mundo a minha volta, eu vi isso acontecer!  

Nessa época daí o nosso cinema (mesmo um pouco antes, com o tal do Collor) foi destruído. Um outro equívoco do povo é achincalhar nosso cinema...  Uma ignorância grande já que a França, a Inglaterra e principalmente os EUA venderam cultura e "lifestyle", pra gente, através dos seus cinemas... E pra mim isso aconteceu por causa disso ... Desses eventos. Porque o cinema dos anos 60 no Brasil, era amado pelos brasileiros e depois com as chanchadas também. Na década de 80 e 90, com ditadura e com pós-ditadura e começo nefasto da nossa democracia, (que teve que herdar um milhão de cagadas que os militares fizeram com nossas economia) o nosso cinema, assim como tudo, foi mal visto. O povo estava muito revoltado e com raiva de ser brasileiro. O Plano Real trouxe o amor pelo Brasil de novo pra gente e devagar estamos conseguindo no cinema que o povo volte a gostar da gente. 

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